São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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INIMIGO EM CASA

Preocupação de especialistas é que morte de toda uma geração impeça educação de filhos

Doença avança entre as mulheres

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Marilene da Conceição Ferreira, 33, estiver saindo hoje da igreja que freqüenta em Sapopemba, terá começado, do outro lado do mundo, a 15ª Conferência Mundial de Aids. Marilene pegou Aids de um namorado, que já morreu. Casou-se com outro doente, que se infectou por droga injetável e que já morreu. Vive com a filha de sete anos, que nasceu com o vírus.
Ela trabalha no projeto Elas Por Elas, tentando convencer as mulheres a usarem camisinha com seus próprios maridos.
"Dos 700 adultos com HIV/ Aids que acompanhamos, a maioria já é de mulheres, quase todas infectadas por seus maridos", diz Robinson Fernandes Camargo, diretor do Serviço Ambulatorial Especializado em DST/Aids Herbert de Souza Betinho, de Sapopemba, zona leste.
Estudos que o professor Ricardo Dias, chefe do Laboratório de Retrovirologia da Unifesp, vem fazendo em centros de testagens de Santos também demonstram o crescimento da epidemia entre as mulheres. Entre as infecções recentes, 60% são mulheres.
Marilene, na periferia de São Paulo, sintetiza o que Bancoc está discutindo sobre a periferia do mundo: o aumento da epidemia entre heterossexuais na África e na Índia, o uso de drogas injetável na Europa do Leste e na Ásia, o avanço da doença entre entre as mulheres e o aumento de infecção da mãe para o filho.
"A epidemia está provocando na África um hiato de gerações", diz Paulo Teixeira, que coordenou o programa de Aids para a Organização Mundial da Saúde. Ao dizimar uma geração inteira, não haverá o pai ou a mãe para passar cultura, valores e tradições para os filhos. Isso nunca ocorreu na história da humanidade, dizem os especialistas. Sem dirigentes, professores e médicos, a segurança dos países será gravemente abalada.
Em Angola, o presidente José Eduardo Santos assumiu a luta contra a Aids e convidou o infectologista David Uip, diretor do Incor, para coordenar um programa de cooperação. "Ainda nem sabemos quanto são os infectados. Começamos pela transmissão vertical e pelos parceiros das gestantes", diz Uip.
Diferentemente do Brasil, lá não se adota cesárea para gestantes infectadas -porque há risco para o médico- nem se desaconselha o desmame dos bebês, pois não há como esterilizar o leite animal. (AB)


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