São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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SAÚDE

Problema, que causa mais comprometimento da qualidade de vida que o diabetes, não é "natural" da velhice

Incontinência urinária tem solução

DA REPORTAGEM LOCAL

Para não se arriscar, a aposentada Adélia Gloria Goulart, 76, passou a calcular. No cinema ainda era possível ir. Mas ao show não dava mais. Era muito tempo sem um banheiro bem perto.
Quem tem incontinência urinária e não trata vive assim, pela metade, calculando por causa do risco de, em qualquer lugar, aparecer a vontade incontrolável de fazer xixi e o corpo não agüentar. "Fui alterando minha vida", diz a aposentada, que mora no Rio.
Famílias chegam a internar seus idosos em asilos por causa da disfunção, diz o uroginecologista Manoel Girão. Acham, erroneamente, que é um problema "natural" do envelhecimento, incurável, que não há como lidar.
A incontinência, ou perda involuntária de urina, atinge principalmente as mulheres e é considerada hoje uma das disfunções que mais causa comprometimento da qualidade de vida. Ganha do diabetes, só perde para a depressão, afirma o urologista José Alaor de Figueiredo, doutor e assistente da Clínica de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. "Até seria natural, se não houvesse tratamento."
"A verdade é que raramente há situações em que não têm jeito", diz Girão, chefe do Departamento de Ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo o urologista Miguel Srougi, professor titular da Unifesp, levantamentos feitos no Brasil mostram que até 40% das mulheres com incontinência importante não procuram ajuda. Muitas vezes, só falam ao médico se questionadas. "Boa parte por achar que não tem solução."
Estudos internacionais, confirmados recentemente por levantamentos feitos no país, apontam que a incontinência atinge cerca de 15% da população feminina, da adolescência à terceira idade, e que o problema se agrava à medida que o tempo passa.
Na pré-menopausa atinge aproximadamente 20% das mulheres, percentual que pode chegar a 50% na pós-menopausa, explica Girão.
Exercício, correções cirúrgicas, medicamentos são algumas alternativas de tratamento, dependendo do tipo de incontinência, segundo o ginecologista.
Existem basicamente dois tipos da disfunção, a bexiga hiperativa -em que o paciente tem uma vontade incontrolável de urinar, algumas vezes com perda de urina- e a incontinência por esforço. No segundo tipo, a perda se dá quando há um estresse, como levantar um peso ou até mesmo uma gargalhada.
Há ainda a possibilidade de os problemas aparecerem juntos, a chamada incontinência mista.

Bexiga hiperativa
É desconhecida ainda a causa da bexiga hiperativa, diz Figueiredo, mas sabe-se que ocorre um aumento dos sensores que fazem a bexiga contrair e relaxar, o que a torna mais suscetível -se antes o alerta de que estava cheia acontecia com 300 ml de líquidos, passa a ocorrer com 200 ml, por exemplo. Aqui, só remédios adiantam.
A incontinência por esforço é caracterizada por uma fraqueza de um dos músculos da uretra que ajuda a segurar a urina. É possível corrigir com cirurgia. Alguns procedimentos podem ser feitos com anestesia local.
Segundo os médicos, a incontinência atinge menos os homens porque eles têm uma uretra mais longa e forte. Além disso, a gravidez contribui para forçar a musculatura da região pélvica, que sofre ainda com a falta de hormônio feminino durante a menopausa.
Nos EUA, calcula-se que a incontinência cause perdas de R$ 16 bilhões anuais por conta de absenteísmo no trabalho, gastos com tratamentos e fraldas -cifra muito próxima a das despesas com osteoporose, por exemplo.


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