São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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ENTREVISTA

Grupo estuda expansão de práticas da medicina alternativa no SUS

DA REPORTAGEM LOCAL

Tai chi chuan, lian gong, tui ná (ginástica e massagem chinesas), shantala, shiatsu, meditação, antroposofia, fitoterapia. Em breve, essas atividades não serão mais restritas a comunidades hippies nem a centros zens dos melhores bairros da cidade.
A idéia é que essas medicinas naturais e práticas complementares sejam incorporadas pelo SUS -a rede pública de saúde do país- e que sejam oferecidas a todos que desejarem, como ocorre com as outras medicinas.
Um grupo de trabalho criado pelo Ministério da Saúde vem trabalhando desde o ano passado na elaboração de uma Política Nacional da Medicina Natural e das Práticas Alternativas. Na primeira fase, está sendo feito um levantamento de todos os serviços públicos de saúde que já oferecem homeopatia, acupuntura, antroposofia e fitoterapia.
Paralelamente, equipes do Programa Saúde da Família terão técnicos e treinadores em práticas como yoga e shiatsu. "O levantamento e as propostas ainda serão encaminhados aos secretários do ministério e ao próprio ministro da Saúde", diz Maria do Socorro Matos, coordenadora de gestão da atenção básica do ministério. A intenção é que o ministério possa vir a bancar os novos profissionais das novas terapias.
Dois grandes encontros com representantes de vários setores -ONGs, grupos de estudos, prefeituras e secretarias de Estado da Saúde- já foram realizados sobre homeopatia e antroposofia. Outros sobre acupuntura e fitoterapia estão sendo preparados.
Quatro diferentes secretarias estão envolvidas nesse processo: a da Atenção à Saúde, a de Saúde, Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, a Executiva e a de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde.
Abaixo, trechos da entrevista com Maria do Socorro Matos:

 

Folha - A nova política não pode ser vista como um retrocesso nos cuidados em saúde?
Maria do Socorro Matos
- Ao contrário. Embora a antroposofia não seja reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, tanto a medicina natural como as práticas alternativas vêm sendo cada vez mais adotadas pelos países desenvolvidos, especialmente no Canadá e na Europa. A medicina indiana (a Ayurvética) e a medicina tradicional chinesa vêm, há séculos, contribuindo para a saúde das populações. A Organização Mundial da Saúde está cada vez mais incentivando e recomendando a adoções dessas práticas.

Folha - Uma política de saúde alternativa como essa permite a redução de custos, especialmente quando se sabe que a consulta terá de ser mais longa?
Matos
- O profissional precisará de mais tempo para ouvir o paciente, mas os medicamentos custam menos e serão necessários menos exames e menos encaminhamentos a especialistas. Há também a economia que se consegue quando se fala dos benefícios da saúde como um todo e da ação preventiva dessas práticas. Porém, o mais importante é permitir que o paciente do SUS tenha acesso a essas possibilidades. A maioria das práticas hoje está limitada a consultórios e clínicas particulares. Queremos que o cidadão conheça as alternativas e possa fazer a sua escolha. Por outro lado, essa medicina e essas práticas vêm fortalecer os princípios do SUS, de humanização, de integralidade. O país está definindo as regras sobre a fitoterapia e os medicamentos fitoterápicos. Estamos buscando maior segurança para o paciente, mas não queremos leis que venham limitar seu uso e impedir ou dificultar práticas culturais.

Folha - Já há cidades onde a medicina e as práticas alternativas são bastante usadas.
Matos
- Muitas. Em Suzano (Grande São Paulo), por exemplo, o lian gong (ginástica terapêutica chinesa) já é praticado em postos de saúde. Na favela Monte Azul, na zona sul de São Paulo, o posto de saúde emprega a antroposofia. Em Juiz de Fora (MG), a rede pública usa muito a homeopatia. No projeto Qualis, de saúde da família, ano atrás, no Estado de São Paulo, havia hortas medicinais no quarteirão e as famílias podiam levar para casa preparados ou folhas para chás.
(AURELIANO BIANCARELLI)


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