|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Brasilidade" pode ser um obstáculo
DA REVISTA
Ter pinta e alma de produto
"nativo" pode até ser bom, mas
também traz dificuldades.
"Quando eu falei que queria
transformar o Brasil no maior
produtor de goiaba do mundo,
um associado holandês disse que
isso não significava muito, porque a fruta é regional demais, ninguém se interessaria. O único jeito
seria torná-la atraente para os outros mercados. Quando ele me
contou que era a fruta mais rica
do mundo em licopeno, um corante da família dos carotenóides,
que faz com que a polpa seja vermelha, como a do tomate, pensei
no ketchup", conta o inventor do
ketchup de goiaba, Arlindo Piedade Neto, 48.
"Se a cozinheira coloca açúcar
no molho de tomate para cortar a
acidez, por que não colocar sal na
goiaba?", diz ter pensado Neto,
pequeno produtor de Brotas (245
km a noroeste de São Paulo) e
atualmente presidente da Goiabrás (Associação Brasileira de
Produtores de Goiaba).
Em dezembro vai fazer quatro
anos que a família Piedade (ele,
mulher e três filhos adolescentes)
aprovaram o "produto final" do
Guatchup (de "guava", goiaba em
inglês, para ficar mais fácil vender). "Minha mulher descascava
as frutas, e eu ficava fazendo experimentos de madrugada. No dia
seguinte, eles degustavam. Demorei um ano até chegar ao sabor",
conta ele.
O projeto consumiu até agora
R$ 8 milhões e envolve todos os
produtores da Goiabrás e uma
multinacional norte-americana.
Por enquanto, eles ainda fazem
experiências em mercados, nos
EUA e na Suíça, porque o mais
importante é fazer esse consumidor saber "o que é a goiaba".
"Trabalhamos o produto segundo a trilogia "nutritivo, ambientalmente correto e socialmente justo". É importante fortalecer a instituição porque não pretendemos parar no Guatchup: estamos testando molho para macarrão, refogados e até farinha para bolo", explica Neto, que já tem
um representante no Japão e pretende chegar à China.
Os produtos podem até ser diferentes, mas o sonho dos empresários, micros e megas, é sempre o
mesmo: tudo o que querem é fazer um negócio da China.
Texto Anterior: Mercadorias seguem por correio Próximo Texto: Gilberto Dimenstein: Perto da incompetência, a corrupção é um mal menor Índice
|