São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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"Brasilidade" pode ser um obstáculo

DA REVISTA

Ter pinta e alma de produto "nativo" pode até ser bom, mas também traz dificuldades.
"Quando eu falei que queria transformar o Brasil no maior produtor de goiaba do mundo, um associado holandês disse que isso não significava muito, porque a fruta é regional demais, ninguém se interessaria. O único jeito seria torná-la atraente para os outros mercados. Quando ele me contou que era a fruta mais rica do mundo em licopeno, um corante da família dos carotenóides, que faz com que a polpa seja vermelha, como a do tomate, pensei no ketchup", conta o inventor do ketchup de goiaba, Arlindo Piedade Neto, 48.
"Se a cozinheira coloca açúcar no molho de tomate para cortar a acidez, por que não colocar sal na goiaba?", diz ter pensado Neto, pequeno produtor de Brotas (245 km a noroeste de São Paulo) e atualmente presidente da Goiabrás (Associação Brasileira de Produtores de Goiaba).
Em dezembro vai fazer quatro anos que a família Piedade (ele, mulher e três filhos adolescentes) aprovaram o "produto final" do Guatchup (de "guava", goiaba em inglês, para ficar mais fácil vender). "Minha mulher descascava as frutas, e eu ficava fazendo experimentos de madrugada. No dia seguinte, eles degustavam. Demorei um ano até chegar ao sabor", conta ele.
O projeto consumiu até agora R$ 8 milhões e envolve todos os produtores da Goiabrás e uma multinacional norte-americana. Por enquanto, eles ainda fazem experiências em mercados, nos EUA e na Suíça, porque o mais importante é fazer esse consumidor saber "o que é a goiaba".
"Trabalhamos o produto segundo a trilogia "nutritivo, ambientalmente correto e socialmente justo". É importante fortalecer a instituição porque não pretendemos parar no Guatchup: estamos testando molho para macarrão, refogados e até farinha para bolo", explica Neto, que já tem um representante no Japão e pretende chegar à China.
Os produtos podem até ser diferentes, mas o sonho dos empresários, micros e megas, é sempre o mesmo: tudo o que querem é fazer um negócio da China.


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