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Clonagem faz órgão recadastrar médicos
Conselho paulista da categoria convocará os 100 mil associados; só neste ano, já houve 17 falsos profissionais detectados
Falsários usam documentos com o nome do real médico ou "roubam" identidade para trabalhar nos serviços de saúde de São Paulo
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Hidratado, corado, afebril."
Assim o falso médico Bruno
William Moreno da Silva, preso
em flagrante no dia 24 de junho
deste ano, despachou a maior
parte dos 65 pacientes que
atendeu na sede da Good Safety
Assessoria e Consultoria, uma
empresa com sede em Guarulhos (Grande SP) que fazia exames para empresas, além de
fornecer laudos sobre aptidão
para exercício físico.
Segundo levantamento feito
pela Folha, Silva foi o 17º caso
de falso médico em atividade
registrado no Estado de São
Paulo só neste ano pelo Conselho Regional de Medicina e remetido ao Ministério Público.
O número iguala a contagem de
todo o ano passado, 17 casos, e
supera a dos anos anteriores.
Diante da "epidemia" de
ocorrências, o conselho afirmou que iniciará um recadastramento de todos os cerca de
100 mil médicos do Estado no
próximo semestre. "Neste último caso, o falsário [Silva] tinha
documentos adulterados do
médico verdadeiro e certificado de conclusão do curso de
medicina. As fraudes estão
crescendo e vêm se aperfeiçoando", afirma o presidente
do conselho, Desiré Callegari.
De acordo com ele, durante o
cadastramento será solicitada
uma autorização dos médicos
para a divulgação de suas fotos
no site do conselho.
Desde o último dia 18 de abril
está em vigor uma resolução do
conselho que obriga serviços
de saúde a fazer "perfeita identificação pessoal" de médicos
contratados -o que o órgão
traduz em checagem de documentos e fotos em seus arquivos. A resolução também responsabiliza diretores dos serviços pela observação das regras.
E diz que as instituições deveriam promover, até este mês,
uma atualização de cadastro.
Segundo Callegari, os falsários "são pessoas inteligentes,
comunicativas." Alguns já tiveram contato com a área de saúde e de lá trazem seus "conhecimentos". Alessandro Aparecido Marques, um falso ortopedista preso no início do ano na
Santa Casa de Lins (446 km de
SP), já tinha trabalhado como
instrumentador cirúrgico, diz
Callegari. O rapaz é acusado de
matar um jovem de 18 anos durante um "atendimento". Ele
está preso e sem advogado.
"A carência de médicos é
tanta que qualquer um entra",
diz o delegado Luiz Fernando
Beato, do 3º DP de Lins.
O falso médico de Guarulhos,
Silva, que está preso, começou
a trabalhar no mesmo dia em
que foi contratado "devido à
urgência", afirmou à polícia um
dos responsáveis pela empresa
Good Safety. "Ele mesmo produziu os documentos, tinha
um sonho de ser médico", disse
o delegado Paulo Navarro, da
2ª delegacia da Divecar, responsável pelo flagrante de Silva. Segundo ele, o rapaz tem
parentes no setor de saúde.
O advogado do acusado, Gervásio Ferreira da Silva, não
quis se manifestar.
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