São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 2006

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Clonagem faz órgão recadastrar médicos

Conselho paulista da categoria convocará os 100 mil associados; só neste ano, já houve 17 falsos profissionais detectados

Falsários usam documentos com o nome do real médico ou "roubam" identidade para trabalhar nos serviços de saúde de São Paulo

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Hidratado, corado, afebril." Assim o falso médico Bruno William Moreno da Silva, preso em flagrante no dia 24 de junho deste ano, despachou a maior parte dos 65 pacientes que atendeu na sede da Good Safety Assessoria e Consultoria, uma empresa com sede em Guarulhos (Grande SP) que fazia exames para empresas, além de fornecer laudos sobre aptidão para exercício físico.
Segundo levantamento feito pela Folha, Silva foi o 17º caso de falso médico em atividade registrado no Estado de São Paulo só neste ano pelo Conselho Regional de Medicina e remetido ao Ministério Público. O número iguala a contagem de todo o ano passado, 17 casos, e supera a dos anos anteriores.
Diante da "epidemia" de ocorrências, o conselho afirmou que iniciará um recadastramento de todos os cerca de 100 mil médicos do Estado no próximo semestre. "Neste último caso, o falsário [Silva] tinha documentos adulterados do médico verdadeiro e certificado de conclusão do curso de medicina. As fraudes estão crescendo e vêm se aperfeiçoando", afirma o presidente do conselho, Desiré Callegari. De acordo com ele, durante o cadastramento será solicitada uma autorização dos médicos para a divulgação de suas fotos no site do conselho.
Desde o último dia 18 de abril está em vigor uma resolução do conselho que obriga serviços de saúde a fazer "perfeita identificação pessoal" de médicos contratados -o que o órgão traduz em checagem de documentos e fotos em seus arquivos. A resolução também responsabiliza diretores dos serviços pela observação das regras. E diz que as instituições deveriam promover, até este mês, uma atualização de cadastro.
Segundo Callegari, os falsários "são pessoas inteligentes, comunicativas." Alguns já tiveram contato com a área de saúde e de lá trazem seus "conhecimentos". Alessandro Aparecido Marques, um falso ortopedista preso no início do ano na Santa Casa de Lins (446 km de SP), já tinha trabalhado como instrumentador cirúrgico, diz Callegari. O rapaz é acusado de matar um jovem de 18 anos durante um "atendimento". Ele está preso e sem advogado.
"A carência de médicos é tanta que qualquer um entra", diz o delegado Luiz Fernando Beato, do 3º DP de Lins.
O falso médico de Guarulhos, Silva, que está preso, começou a trabalhar no mesmo dia em que foi contratado "devido à urgência", afirmou à polícia um dos responsáveis pela empresa Good Safety. "Ele mesmo produziu os documentos, tinha um sonho de ser médico", disse o delegado Paulo Navarro, da 2ª delegacia da Divecar, responsável pelo flagrante de Silva. Segundo ele, o rapaz tem parentes no setor de saúde.
O advogado do acusado, Gervásio Ferreira da Silva, não quis se manifestar.


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