São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006

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1.393 detentos deixam penitenciária em Tremembé

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TREMEMBÉ

Sob sol forte, em pé em frente ao Centro de Progressão Penitenciária Doutor Edgar Magalhães Noronha, em Tremembé (138 km a nordeste de São Paulo), André Luiz Moreira, 22, está aliviado. Depois de uma semana em que sentiu medo de ver cassado o seu direito à saída temporária, ontem ele teve a certeza de que passaria o primeiro Dia dos Pais ao lado da filha de três anos.
Condenado a seis anos e dois meses de prisão por assalto, e há dois anos e um mês detido, esta é a primeira vez que o rapaz consegue o benefício.
"Acompanhei aqui essa história de querer impedir a nossa saidinha. A situação ficou tensa, tive medo de não poder ver a minha família. Mas, graças a Deus, estou na rua", afirmou Moreira, enquanto aguardava o transporte que o levaria a Aparecida (167 km de São Paulo), no Vale do Paraíba.
Assim como Moreira, outros sete detentos ouvidos ontem pela reportagem também afirmaram terem vivido momentos de tensão e de expectativa nos últimos dias dentro do Pemano -como é conhecido o presídio semi-aberto de Tremembé- em razão da polêmica relacionada à saída temporária e os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital).
O pedido para que a saída fosse restringida, negado anteontem pela Justiça, foi feito pelo Ministério Publico na capital, sob a alegação de que os beneficiados estariam participando dos atentados ocorridos no Estado de São Paulo.

Liberdade até terça
Ontem de manhã, 1.393 dos 1.596 detentos deixaram o Pemano para passar o Dia dos Pais com a família. Eles estarão em liberdade até as 18h da próxima terça-feira, quando devem se reapresentar à unidade.
Desde antes das 8h de ontem, quando os primeiros presos começaram a sair, o movimento de parentes e vendedores era grande em frente ao presídio.
A Polícia Militar realizou uma operação especial para garantir a segurança na região, que contou até com sobrevôos de um helicóptero Águia. Motoristas de vans, microônibus, moto-táxis e táxis comuns disputavam passageiros.

Desespero
"Estava todo mundo desesperado [com a possibilidade de cancelamento da saída temporária]. Mas todo mundo manteve a disciplina", disse Marco Aurélio Pereira, 24, preso há dois anos e oito meses por furto, beneficiado pela quarta vez.
"Eles têm que ser reintegrados à sociedade, é um direito deles. A gente sabe que no meio existem alguns que saem para se meter em confusão. Mas a maioria só quer mesmo ficar com a família", disse o eletrônico Antônio Carlos Pereira, pai de Marco Aurélio.
Para César Sales, 31, condenado a sete anos e três meses por roubo a mão armada, os ataques do PCC não podem servir de argumento para se cassar um direito garantido aos detentos. "A gente aqui não tem nada a ver com isso", disse ele, que seguiria para São Paulo, onde iria reencontrar os quatro filhos.
Apenas um preso, que não quis se identificar, disse que haveria problemas, caso não fossem liberados. "[Os detentos] poderiam dar uma chacoalhada no sistema. Acho que muitos [presídios] iriam ser virados (passar por motins). Iriam jogar a liberdade para cima."


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