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ANÁLISE
Consumo cultural ou cultura consumista?
FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nas últimas duas décadas, os
novos museus do mundo capitalista ficaram parecidos com
shoppings. Refletindo a cultura
de massa, a estratégia é impulsionar o consumo cultural
criando espaços sedutores. Ficaram para trás os templos da
alta cultura, sisudos e silenciosos, modelo consagrado pelo
Louvre. Essa estratégia acelerou as pesquisas dos arquitetos
contemporâneos que atendem
à demanda procurando se reinventar toda segunda-feira.
Contudo, enquanto os prédios forem materializados (e
não virtuais), essa equação
apresentará um paradoxo: como criar um espaço sedutor,
uma novidade baseada na moda ou na tendência se, em tese,
um museu é construído para
durar décadas?
No caso específico do Museu
da Imagem e do Som havia
mais complicadores: a concorrência da paisagem e a densa vizinhança. O processo de escolha foi conturbado -o vencedor só participou da segunda
fase-, mas é louvável a realização de um concurso de projetos
com a participação de estrangeiros, renovando a discussão
local sobre o tema.
Elizabeth Diller e Ricardo
Scofidio são casados e trabalham juntos desde 1979 (Charles Renfro tornou-se sócio em
2004). A equipe nova-iorquina
possui uma carreira atípica,
calcada em experimentações e
instalações artísticas.
Nas duas últimas décadas,
eles rechearam o portfólio
criando espaços públicos e culturais. Em Nova York, eles acabam de transformar linhas de
trem elevadas e desativadas em
um parque linear.
Mas, até o momento, o mais
impressionante espaço criado
por eles foi o Blur Building:
uma instalação temporária,
uma espécie de edifício-nuvem,
construída dentro de um lago
suíço. Passarelas ligavam as
margens ao prédio, que desaparecia envolto ao vapor que criava. Um interessantíssimo ensaio de arquitetura virtual.
No MIS, eles reutilizaram a
"fita contínua", ideia consagrada por arquitetos holandeses
baseada em lajes contínuas em
serpentina. A fita carioca se
apresenta como um percurso
elevado que, hipoteticamente,
leva o calçadão de Copacabana
para as alturas.
Temo pelo custo de implantação da proposta, apoiada em
soluções tecnológicas sofisticadas. Mas, se couber no orçamento, há outro perigo: será
que a imagem, de tão forte e sedutora, não ficará rapidamente
fora de moda? Se isso ocorrer, a
esperança é que, ao menos um
dia do ano, o MIS desaparecerá
no meio da cortina de fumaça
dos fogos do Réveillon.
Fernando Serapião é arquiteto e editor-executivo da revista "Projeto Design"
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