São Paulo, terça-feira, 11 de agosto de 2009

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ANÁLISE

Consumo cultural ou cultura consumista?

FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nas últimas duas décadas, os novos museus do mundo capitalista ficaram parecidos com shoppings. Refletindo a cultura de massa, a estratégia é impulsionar o consumo cultural criando espaços sedutores. Ficaram para trás os templos da alta cultura, sisudos e silenciosos, modelo consagrado pelo Louvre. Essa estratégia acelerou as pesquisas dos arquitetos contemporâneos que atendem à demanda procurando se reinventar toda segunda-feira.
Contudo, enquanto os prédios forem materializados (e não virtuais), essa equação apresentará um paradoxo: como criar um espaço sedutor, uma novidade baseada na moda ou na tendência se, em tese, um museu é construído para durar décadas?
No caso específico do Museu da Imagem e do Som havia mais complicadores: a concorrência da paisagem e a densa vizinhança. O processo de escolha foi conturbado -o vencedor só participou da segunda fase-, mas é louvável a realização de um concurso de projetos com a participação de estrangeiros, renovando a discussão local sobre o tema.
Elizabeth Diller e Ricardo Scofidio são casados e trabalham juntos desde 1979 (Charles Renfro tornou-se sócio em 2004). A equipe nova-iorquina possui uma carreira atípica, calcada em experimentações e instalações artísticas.
Nas duas últimas décadas, eles rechearam o portfólio criando espaços públicos e culturais. Em Nova York, eles acabam de transformar linhas de trem elevadas e desativadas em um parque linear.
Mas, até o momento, o mais impressionante espaço criado por eles foi o Blur Building: uma instalação temporária, uma espécie de edifício-nuvem, construída dentro de um lago suíço. Passarelas ligavam as margens ao prédio, que desaparecia envolto ao vapor que criava. Um interessantíssimo ensaio de arquitetura virtual.
No MIS, eles reutilizaram a "fita contínua", ideia consagrada por arquitetos holandeses baseada em lajes contínuas em serpentina. A fita carioca se apresenta como um percurso elevado que, hipoteticamente, leva o calçadão de Copacabana para as alturas.
Temo pelo custo de implantação da proposta, apoiada em soluções tecnológicas sofisticadas. Mas, se couber no orçamento, há outro perigo: será que a imagem, de tão forte e sedutora, não ficará rapidamente fora de moda? Se isso ocorrer, a esperança é que, ao menos um dia do ano, o MIS desaparecerá no meio da cortina de fumaça dos fogos do Réveillon.


Fernando Serapião é arquiteto e editor-executivo da revista "Projeto Design"


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