São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2006

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Orçamento de 2007 desdiz promessa de Lula para Rodoanel

Governo prometeu repassar R$ 140 mi por ano para a obra viária, mas reservou apenas R$ 50 mi na previsão de gastos

Quando estiver pronto, o Rodoanel absorverá 30% dos veículos que usam São Paulo como passagem de uma estrada para outra

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -que se comprometeu a repassar R$ 140 milhões por ano para a construção do trecho sul do Rodoanel- reservou somente R$ 50 milhões no Orçamento de 2007 para a obra, que integra o projeto da principal interligação rodoviária no Estado de São Paulo.
O custo total do trecho sul -incluindo projetos e desapropriações- é estimado em R$ 3,5 bilhões. Somente na obra, que será iniciada pelo governo do Estado nesta semana, serão gastos R$ 2,5 bilhões.
O governo Lula prometeu repassar R$ 700 milhões em cinco parcelas anuais de R$ 140 milhões, mas nada foi liberado neste ano ainda, embora o Orçamento da União de 2006 preveja investimentos de R$ 33,9 milhões na obra do Rodoanel.
A Folha procurou na semana passada o Ministério dos Transportes para saber por que houve corte na previsão de gastos com a obra no Orçamento de 2007, encaminhado ao Congresso no dia 31. O Orçamento ainda precisa ser votado pelos parlamentares.
Também buscou informações no Ministério do Planejamento, responsável por elaborar o Orçamento da União. Nenhum dos ministérios quis se pronunciar sobre a verba.
O Rodoanel foi concebido para interligar as estradas que cortam São Paulo, possibilitando que os veículos não precisem passar mais pela cidade para seguir de uma rodovia para outra.
Estima-se que, quando estiver concluído, o Rodoanel absorva cerca de 30% do fluxo de veículos que usam a cidade apenas como passagem.
Até agora, apenas o trecho oeste da obra -ligando as rodovias Régis Bittencourt, Raposo Tavares, Castello Branco, Anhangüera e Bandeirantes -foi concluído.
O trecho sul -a segunda etapa da obra- começa na rodovia Régis Bittencourt, no entroncamento com o trecho oeste, passa pelas rodovias dos Imigrantes e Anchieta, chegando ao município de Mauá.
Há duas semanas, a Folha revelou que o site da candidatura de Lula à reeleição havia inflado os investimentos prometidos pelo governo federal para o Rodoanel.
A mensagem dizia que "já começa a ser liberado R$ 1,16 bilhão para as obras do trecho sul do Rodoanel". Nada tinha sido repassado, porém.
Depois de ser procurada pela Folha, a campanha do presidente mudou o texto e passou a divulgar que "as obras [...] receberão R$ 1,16 bilhão nos próximos anos".
Esse valor, no entanto, também estava errado, segundo o próprio Ministério dos Transportes. O acordo inicial prevê repasses de R$ 700 milhões para o governo estadual.
O governo de São Paulo tem usado a falta de repasses da União para a obra como argumento para a necessidade de cobrar pedágio no Rodoanel.
Pelo plano, defendido pelo secretário de Estado dos Transportes, Dario Rais Lopes, o valor arrecadado no trecho pronto seria utilizado na construção dos novos trechos.
Segundo o secretário, seria a única forma de garantir a continuidade do projeto sem depender de questões políticas.

Polêmica
A tese do pedágio é polêmica porque, para evitar a cobrança da tarifa, motoristas podem optar por continuar a usar as marginais Pinheiros e Tietê como via de passagem de uma estrada a outra. Essa situação descaracterizaria o principal objetivo do Rodoanel, que é retirar caminhões de São Paulo.
Pela proposta do secretário, a tarifa seria equivalente às das demais rodovias entregues à iniciativa privada, o que também ocorreria com o Rodoanel.
Projetando em valores de hoje, a tarifa no trecho oeste estaria em cerca de R$ 3,70 para os 32 km, por onde passam 201 mil veículos por dia. Já o trecho sul, com 61 km e poucos acessos alternativos, teria pedágio no valor aproximado de R$ 7,20 para toda a extensão.
Com o dinheiro da arrecadação do pedágio, a iniciativa privada teria ainda mais garantias para, em caso de necessidade, levantar financiamentos para concluir todo o projeto, já que o empréstimo terá um lastro.
O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, já disse ser favorável ao pedágio.


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