São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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Governo alertou ministros sobre riscos

Márcio Fortes e Pedro Brito estavam em trem no Rio quando traficantes dispararam; governador Cabral não foi a passeio

Ministro das Cidades disse que "não ia desmarcar a visita nem ceder a pressões"; após tiroteio, polícia iniciou operação na favela do Rio

Márcia Foletto/Agência O Globo
Jornalistas que acompanhavam o passeio de trem se abaixam durante o tiroteio iniciado por traficantes da zona norte do Rio

DA SUCURSAL DO RIO

Dois ministros de Estado tiveram de se jogar no chão, durante um passeio de trem, para escapar de tiros disparados por traficantes da zona norte do Rio, na manhã de ontem, na linha férrea em área próxima da favela do Jacarezinho.
Os ministros Márcio Fortes (Cidades) e Pedro Brito (Portos) e o secretário de Transportes do Rio, Julio Lopes, acompanhados de jornalistas e convidados (cerca de 70 pessoas), abaixaram-se ou mesmo se jogaram ao chão para se proteger, segundo eles próprios afirmaram. Ninguém foi atingido, mas ao menos quatro marcas de tiros podiam ser vistas no trem, que é de aço, ao fim da viagem.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que as autoridades foram desaconselhadas a fazer o trajeto de trem, em razão do perigo, mas insistiram no passeio. No meio da tarde, a Secretaria de Segurança ordenou operação na favela, com 100 homens. Um suposto traficante morreu e três pessoas foram presas.
O ministro das Cidades disse se tratar de "ato episódico". "Nossa missão é de paz. Não ia desmarcar a visita nem ceder a pressões. Já havia estado ali outras vezes, sem seguranças", afirmou. "Sou muito frio nessas situações." Para o ministro, não se tratou de uma retaliação à autoridade do Estado.
O ministro Pedro Brito disse não ter tido tempo de sentir medo. Ele também foi ao chão. "Eu também me joguei, claro. É uma reação natural de cautela que todos devem ter."
Para Beltrame, o ataque foi "um absurdo". "Se derem tiro na polícia, vão levar também." "Não é cabível que um ministro de Estado não possa levar o serviço até aquela comunidade porque ele não pode passar ali que vai ser rechaçado a tiros."
A comitiva com os ministros tinha ido inspecionar obras de revitalização e desobstrução de vias de trem -foram removidos 450 barracos que ficavam a até um metro dos trilhos- da linha que dá acesso ao porto do Rio. O governador Sérgio Cabral foi do evento, mas usou helicóptero para se locomover.
Os tiros começaram após um fotógrafo no trem flagrar um homem com uma pistola à beira da via. Instantes depois, o criminoso disparou contra os vagões. O trem seguiu até Maria da Graça, destino final.
No percurso da volta, devido ao temor de novos ataques, PMs foram postados às janelas armados de fuzis e pistolas, e o maquinista foi orientado a guiar a composição em maior velocidade. Não adiantou.
Quando passaram de novo diante do Jacarezinho, o ataque foi mais intenso e durou mais tempo -cerca de 20 segundos. Policiais responderam a tiros.
O local onde ocorreram os tiroteios era alvo de constantes roubos de carga, o que, diz Lopes, provocou a saída do Rio da rota do cimento nacional.
Nota do governo do Estado informou que Cabral "determinou que o secretário atue com máxima energia" para reprimir os criminosos.
A concessionária MRS, que administra linhas da região Sudeste e é responsável pelo trem que transportava a comitiva, não comentou o assunto.
A MRS opera 1.674 km de ferrovias no Rio, em Minas Gerais e em São Paulo. Os seus principais sócios são a CSN, Gerdau, Usiminas e Ultrafertil.


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