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Governo estuda liberar uso de diesel em carro de passeio
Legislação só permite o combustível em caminhões, caminhonetes e outros veículos comerciais
Críticos da medida afirmam que diesel é mais poluente do que o álcool e que o país não produz a quantidade necessária do combustível
HUMBERTO MEDINA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RICARDO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O governo estuda liberar o
uso de óleo diesel em automóveis de passeio. De acordo com
o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), os estudos estão
sendo feitos pela Petrobras.
"O fato é que devemos nos
preparar para essa possibilidade", afirmou ontem o ministro,
durante audiência pública sobre o pré-sal no Senado. Ele
não esclareceu o que motivou a
realização dos estudos.
Há mais de 30 anos, a legislação brasileira só permite o uso
do diesel em caminhões, caminhonetes e outros veículos comerciais. Na Europa, a associação de fabricantes estima em
52,7% a participação dos carros
a diesel no mercado.
A indústria brasileira produz,
para exportação, automóveis
movidos a diesel, mas os motores são trazidos da Europa.
Lobão disse que a eventual liberação do diesel para uso em
automóveis de passeio dependerá dos resultados das pesquisas: "Temos a preocupação de
melhorar esse combustível
[diesel], retirando dele o enxofre, e introduzir o biodiesel".
Os críticos ao uso do diesel
por veículos de passeio apontam várias desvantagens na liberação do produto:
1) o diesel é mais poluente do
que o álcool. Além disso, o diesel usado no Brasil tem uma
quantidade de poluentes muito
maior do que o usado na Europa -até 1.800 ppm (partes por
milhão) de enxofre no Brasil,
contra 10 ppm na Europa- e
polui mais do que a gasolina;
2) apesar da autossuficiência
na produção de petróleo, o Brasil não produz toda a quantidade de diesel de que precisa -no
ano passado foram importados
5,8 bilhões de litros;
3) hoje, o diesel é mais barato
(R$ 1,97 por litro) porque paga
menos taxas do que o álcool (R$
1,24/litro) e a gasolina (R$
2,33/litro) por ser usado principalmente para o transporte
coletivo. Se a demanda aumentar, essa vantagem pode ser eliminada pelo governo.
Ricardo Bock, professor de
engenharia mecânica da FEI
(Fundação Educacional Inaciana), afirma que, se o diesel for
liberado, vai tirar mercado do
carro "flex" e do carro a álcool.
"É um motor que rende mais,
tem maior eficiência energética, aproveita melhor a queima
de combustível e tem mais torque." Ou seja, a substituição pode acontecer porque o motor a
diesel roda mais quilômetros
por litro do que o carro a álcool.
Ildo Sauer, ex-diretor de Gás
e Energia da Petrobras, disse
que, desde 2000, a estatal investe para melhorar a estrutura
de refino e aumentar a quantidade de diesel produzido no
país. Isso, segundo Sauer, explicaria o eventual interesse em liberar o carro a diesel, apesar de
o Brasil não ser autossuficiente
no produto hoje.
"Não é uma ideia especialmente brilhante, defendemos
combustíveis que poluam menos", disse o ministro Carlos
Minc (Meio Ambiente), ao ser
informado sobre o pronunciamento de Lobão.
"A qualidade do diesel brasileiro é ruim e aumentará a poluição", afirmou Eduardo Moreira, professor da Faculdade
de Economia e Administração
da PUC-SP. "Acho uma péssima ideia. Vai acabar com a vantagem competitiva do Brasil,
que é o uso do álcool", disse
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da
Coppe/UFRJ.
A Anfavea, entidade que reúne fabricantes de veículos, informou que a liberação do uso
do diesel no Brasil não faz parte
da agenda do setor. "Trata-se
de uma questão de política
energética, a Anfavea não comenta", afirmou a entidade.
A Petrobras disse que não
tem atribuição de decidir sobre
os tipos de veículos que usam
diesel. Segundo a estatal, o que
tem sido feito são melhorias
nas refinarias para reduzir o
teor de enxofre no combustível.
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