São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Proposta faz Brasil retroceder aos anos 70

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

O físico austríaco Wolfgang Pauli costumava rejeitar ideias absurdas com uma frase que ficou famosa: "Isto não está certo. Não está nem sequer errado". O mesmo pode ser dito da proposta de liberar carros de passeio a diesel no Brasil.
Neste momento, o país -ou pelo menos a sociedade civil- se esforça justamente para caminhar no sentido oposto: contra o lobby das montadoras e da Petrobras, tenta reduzir a poluição do ar causada pelo diesel de ônibus e caminhões.
E o Conselho Nacional do Meio Ambiente acaba de determinar que a poluição dos utilitários a diesel seja reduzida em 33% a partir de 2013.
Injetar um número ainda incerto de novos veículos a diesel na frota anularia a medida, com a consequência previsível do aumento nas mortes (quase 20 por dia hoje só na Grande São Paulo) por essa poluição.
Ruim para a saúde, ruim para o planeta. O diesel emite muito mais gás carbônico (o principal gás de efeito estufa) do que o álcool. Hoje, virtualmente todos os veículos novos fabricados no país são flex. Mas, paradoxalmente, as emissões brasileiras no setor de transportes cresceram 56% entre 1994 e 2007 -enquanto o PIB cresceu 45%.
O que provavelmente ocorreu foi que o aumento da frota de caminhões e utilitários anulou também o benefício do flex.
Num momento em que o governo tenta exportar o álcool como bala mágica contra o aquecimento global, ficaria difícil explicar uma decisão doméstica de retroceder aos anos 1970 e abraçar o diesel -um combustível fóssil até no nome.


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