São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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Policiais são suspeitos de desviar veículos recuperados

Investigação aponta que caminhões roubados eram mandados para quadrilha

Segundo a corregedoria, os policiais civis envolvidos recebiam até R$ 35 mil para repassar o veículo recuperado aos criminosos


ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo investiga a participação de um grupo de policiais da Grande São Paulo num esquema internacional de desvio de caminhões recuperados pela própria polícia.
A suspeita é que o golpe atingiu nos últimos quatro anos ao menos 300 veículos de SP, MG e GO e até do Paraguai.
Em alguns casos, diz a corregedoria, os criminosos registravam na polícia um falso roubo do caminhão. Posteriormente, quando um veículo roubado com as mesmas características era recuperado pela polícia, ele era entregue para a quadrilha como se fosse o do falso roubo.
Para isso, o número do chassi do caminhão localizado era alterado de modo a compatibilizá-lo com a documentação que a quadrilha tinha em mãos.
Em outros casos, segundo a investigação, a quadrilha comprava documentos de vítimas verdadeiras e, com eles, conseguia "esquentar" um caminhão recuperado.
Nesse esquema, a tarefa dos policiais era liberar o caminhão sem realizar perícias e, também, informar os registros oficiais de que a situação era regular. A perícia é obrigatória para comprovar que o bem entregue à vítima é, de fato, o reclamado.
Por essa participação, os policiais recebiam até R$ 35 mil por veículo, segundo a investigação. Um caminhão, dependendo das características, pode custar mais de R$ 500 mil.
Em um distrito policial, o central de Itaquaquecetuba (Grande SP), a corregedoria apura a liberação de cerca de 80 caminhões por uma única equipe, desde 2008.
Essas liberações investigadas foram autorizadas pelo delegado Benignes Silva Júnior, ex-prefeito de Santópolis do Aguapeí (531 km de SP). Mesmo trabalhando apenas à noite, o delegado e seus subordinados chegaram a liberar três caminhões num plantão de 12 horas.
Procurado, o delegado não quis comentar, apenas negou participação no esquema. À corregedoria ele também negou os crimes. O órgão já pediu o seu afastamento do cargo.
Outra vertente de investigação é que caminhões roubados no Paraguai sejam "esquentados" no Brasil. Se isso se confirmar, o esquema torna-se um refluxo do que historicamente se conhece nesse tipo de crime: veículos roubados no Brasil são esquentados no país vizinho.

Vítima verdadeira
De acordo com a polícia, a investigação teve início há quatro anos quando uma vítima verdadeira procurou uma delegacia para relatar que um veículo dela, furtado anos antes, passou a constar no cadastro da polícia como recuperado.
Há cerca de quatro meses o núcleo da corregedoria em Mogi das Cruzes iniciou a investigação. Desde então, o delegado seccional da região, João Roque Américo, baixou uma determinação proibindo a liberação de veículos em plantões. Mesmo assim, Silva Júnior chegou a fazer uma liberação.
Procurado, Américo confirmou a investigação, mas não quis informar nomes nem o número de envolvidos. Isso porque, segundo ele, a apuração ainda não foi concluída.


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