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Policiais são suspeitos de desviar veículos recuperados
Investigação aponta que caminhões roubados eram mandados para quadrilha
Segundo a corregedoria, os policiais civis envolvidos recebiam até R$ 35 mil
para repassar o veículo recuperado aos criminosos
ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo investiga a participação de um grupo de policiais da Grande São Paulo num
esquema internacional de desvio de caminhões recuperados
pela própria polícia.
A suspeita é que o golpe atingiu nos últimos quatro anos ao
menos 300 veículos de SP, MG
e GO e até do Paraguai.
Em alguns casos, diz a corregedoria, os criminosos registravam na polícia um falso roubo
do caminhão. Posteriormente,
quando um veículo roubado
com as mesmas características
era recuperado pela polícia, ele
era entregue para a quadrilha
como se fosse o do falso roubo.
Para isso, o número do chassi
do caminhão localizado era alterado de modo a compatibilizá-lo com a documentação que
a quadrilha tinha em mãos.
Em outros casos, segundo a
investigação, a quadrilha comprava documentos de vítimas
verdadeiras e, com eles, conseguia "esquentar" um caminhão
recuperado.
Nesse esquema, a tarefa dos
policiais era liberar o caminhão
sem realizar perícias e, também, informar os registros oficiais de que a situação era regular. A perícia é obrigatória para
comprovar que o bem entregue
à vítima é, de fato, o reclamado.
Por essa participação, os policiais recebiam até R$ 35 mil
por veículo, segundo a investigação. Um caminhão, dependendo das características, pode
custar mais de R$ 500 mil.
Em um distrito policial, o
central de Itaquaquecetuba
(Grande SP), a corregedoria
apura a liberação de cerca de 80
caminhões por uma única equipe, desde 2008.
Essas liberações investigadas
foram autorizadas pelo delegado Benignes Silva Júnior, ex-prefeito de Santópolis do Aguapeí (531 km de SP). Mesmo trabalhando apenas à noite, o delegado e seus subordinados
chegaram a liberar três caminhões num plantão de 12 horas.
Procurado, o delegado não
quis comentar, apenas negou
participação no esquema. À
corregedoria ele também negou os crimes. O órgão já pediu
o seu afastamento do cargo.
Outra vertente de investigação é que caminhões roubados
no Paraguai sejam "esquentados" no Brasil. Se isso se confirmar, o esquema torna-se um
refluxo do que historicamente
se conhece nesse tipo de crime:
veículos roubados no Brasil são
esquentados no país vizinho.
Vítima verdadeira
De acordo com a polícia, a investigação teve início há quatro
anos quando uma vítima verdadeira procurou uma delegacia
para relatar que um veículo dela, furtado anos antes, passou a
constar no cadastro da polícia
como recuperado.
Há cerca de quatro meses o
núcleo da corregedoria em Mogi das Cruzes iniciou a investigação. Desde então, o delegado
seccional da região, João Roque
Américo, baixou uma determinação proibindo a liberação de
veículos em plantões. Mesmo
assim, Silva Júnior chegou a fazer uma liberação.
Procurado, Américo confirmou a investigação, mas não
quis informar nomes nem o número de envolvidos. Isso porque, segundo ele, a apuração
ainda não foi concluída.
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