|
Texto Anterior | Índice
CONFLITO NA GARAGEM
Professora universitária tinha dificuldades para manobrar e parar o automóvel em prédio
Moradora obtém na Justiça vaga maior
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma professora universitária
obteve na Justiça o direito de ter
uma vaga de fácil acesso na garagem do prédio onde mora, na
Vila Mariana (zona sul de São
Paulo). Obesa mórbida, diabética e hipertensa, Altimary Aparecida Cepera, 47, tinha dificuldade de fazer os movimentos repetitivos para manobrar o carro.
As vagas na garagem são sorteadas uma vez por ano. Na última assembléia do condomínio,
em junho, coube-lhe um local
em que ela não conseguia nem
entrar nem sair do seu Peugeot
206, com direção hidráulica.
Com 2 m de largura -o padrão médio é de 2,2 m-, a vaga
é encostada em uma parede. "É a
pior vaga da garagem, com padrões irregulares e impraticável
até para um magro", diz a professora de políticas educacionais, que mora no prédio desde
janeiro de 2000.
"Sempre foi complicado manobrar, mas, neste ano, meu estado de saúde agravou e coincidiu de eu pegar a pior vaga."
Cepera, que pesa 116 kg e mede
1,60 m, diz que tentou dialogar
com o síndico do condomínio,
Fabio Abel, para trocar de vaga.
Explicou que, por ordem médica, não podia fazer esforço físico
e tampouco se envolver em situações de estresse. Ela alega que
não obteve sucesso.
Já o síndico Abel afirma que foi
oferecido a Cepera uma outra
vaga, "um pouco melhor", mas
que ela não ficou satisfeita. Ele
explica que, no momento do
sorteio das vagas neste ano, a
professora não expôs os seus
problemas de saúde.
"Se o tivesse feito, certamente
teríamos chegado a um acordo,
sem precisar de decisão judicial.
Todo ano tem morador que pega vaga boa e morador que pega
vaga ruim."
O fato é que, em agosto, o advogado de Cepera, Mario Franco
Enzo Pugliese, ingressou com
uma ação, com pedido de liminar, solicitando o uso de uma
das sete vagas autônomas de que
o prédio dispõe. Justificou o pedido baseado em lei federal que
garante acessibilidade a pessoas
com deficiência ou mobilidade
reduzida, o caso de Cepera.
A liminar foi concedida no
mês passado pelo juiz José Maria
Câmara Júnior. Desde então, Cepera ocupa a vaga de número 1,
perto da entrada do primeiro
subsolo. Deve permanecer com
a vaga até o próximo sorteio, que
será no ano que vem.
Caso ainda permaneça com os
problemas de saúde, deverá
apresentar um atestado médico
para continuar com a vaga especial, segundo o síndico.
A ação ingressada por Pugliese
pedia para que fosse cumprida
uma cláusula existente na convenção do condomínio, em que
está expressa a contratação de
manobrista para a movimentação dos veículos nas garagens do
primeiro e do segundo subsolos.
Mas foi feito um acordo com
os moradores e ficou acertado
que, a partir do próximo ano,
três vagas autônomas ficarão à
disposição de pessoas com necessidades especiais, como os
obesos mórbidos, os idosos, os
deficientes físicos e as grávidas.
Paralelamente a isso, o síndico
Abel afirma que existe a possibilidade de o condomínio ingressar com uma ação contra a construtora do prédio pela irregularidade no tamanho das vagas. "Já
está pronta, mas moradores ainda relutam em razão das custas
judiciais", explica ele.
A professora diz que a confusão elevou a sua pressão arterial,
que continua alta mesmo com
uso de hipertensivos. "Depois da
liminar, fiz uma exposição aos
moradores sobre meus problemas de saúde para justificar a
necessidade da vaga. Foi um ato
de violência. As pessoas confundem direito com privilégio."
Cepera está sendo acompanhada por uma endocrinologista e, neste ano, perdeu seis quilos. Em razão dos problemas
metabólicos, não tem indicação
para a cirurgia de redução dos
estômago. "Há muita discriminação. As pessoas acham que ser
obeso é desleixo, e não doença."
Texto Anterior: Donas-de-casa dizem usar mais industrializados Índice
|