São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Policiais civis de SP retomam greve e fazem ato na Paulista

Manifestantes saíram do Masp e foram para a Secretaria da Gestão Pública; muitos policiais civis estavam armados

Restrições orçamentárias impedem aumento de 15% solicitado pelos policiais, diz governo, que oferece 6,3% de reajuste à categoria

LUIS KAWAGUTI
KLEBER TOMAZ

DA REPORTAGEM LOCAL

Aproximadamente 1.500 policiais civis -parte deles armados com pistolas e revólveres- fizeram uma manifestação por aumento salarial na av. Paulista (centro de São Paulo) ontem.
A Delegacia Geral de Polícia determinou que a escolta fosse feita pela própria Polícia Civil, e não pela Polícia Militar, como ocorre em outras manifestações, para evitar um possível confronto entre os dois órgãos.
A manifestação ocorreu um dia depois do fracasso nas negociações com o governo, após trégua de 48 horas na greve, em que o atendimento foi retomado normalmente nas delegacias. O governo não aceitou a proposta da categoria de aumento linear de 15%, mas concordou com a aposentadoria especial aos 30 anos de serviço e a extinção da 4ª e da 5ª classes das carreiras da Polícia Civil.
O secretário da Gestão Pública, Sidney Beraldo, afirmou ontem que o governo não pode conceder um aumento linear superior a 6,2% devido às restrições orçamentárias e à crise financeira internacional -que, segundo estudos preliminares da Secretaria, deve diminuir a arrecadação em 2009.
De acordo com Beraldo, nos últimos dois dias de negociação, o governo apresentou uma proposta de aumento salarial que equivale a um investimento de R$ 650 milhões na folha de pagamento da Polícia Civil e da Polícia Militar. Na fase inicial da greve, a proposta inicial significava um investimento de R$ 500 milhões. "Cada 1% de aumento que damos custa R$ 58 milhões ao Estado."
Beraldo disse também que o governo só volta a negociar com o fim da greve e que as 48 horas de trégua foram "muito pouco tempo para mostrar os impactos [dos benefícios oferecidos pelo governo] nas carreiras". Sobre a manifestação, Beraldo afirmou: "Os sindicatos politizaram e partidarizaram o movimento".

Apoio político
Os policiais se reuniram por volta das 13h no vão livre do Masp. Na maior parte do tempo, o protesto ocupou a calçada, mas em alguns momentos os policiais também se espalharam pela faixa da direita da Paulista. O ato terminou em frente à Secretaria da Gestão Pública, na rua Bela Cintra, fechada pelos manifestantes.
O deputado estadual Roberto Felício (PT) subiu no carro de som e declarou apoio da bancada do PT à greve. O presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT), também declarou seu apoio. O presidente do sindicato dos delegados, José Leal, disse que, apesar de o movimento grevista não estar ligado a nenhum partido político, toda ajuda é "aceita". Os manifestantes prometeram novo ato na próxima quinta-feira.
As lideranças do movimento também se reuniram com o presidente da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Luiz Flávio Borges D'Urso, que pode atuar como mediador da greve.
O senador Aloizio Mercadante (PT) disse ontem que o diálogo entre o governo e os policiais deve ser restabelecido o mais rápido possível. "É uma categoria armada, que pode prender e até tirar a vida em determinados casos. Temos de evitar um confronto social."
Na última terça-feira, o senador se manifestou sobre a greve na tribuna do Senado, o que foi considerado como oportunismo em nota do secretário da Gestão Pública de anteontem. Beraldo também afirmou que a visita de Mercadante a uma associação grevista deixava clara a participação do PT e da CUT na greve. Em resposta, o senador disse ontem à Folha que a declaração de Beraldo foi "infeliz, injusta e descabida".

Ocorrências
Dos cinco distritos policiais da capital visitados ontem pela reportagem, quatro retomaram a greve e passaram a registrar apenas casos graves -como homicídio e prisão em flagrante.
O 1º DP, na Sé (região central), tinha a sala de espera vazia no início da tarde. Quadro bem diferente do encontrado pela reportagem na quarta-feira, quando a mesma delegacia chegou a distribuir mais de 60 senhas para atender ao público.
"Furtaram meu cartão de crédito em 19 de setembro [dois dias após o início da greve] e até agora não consegui registrar um BO", disse a cabeleireira Joana D'Arc Espíndola, 63, que foi ao 11º DP, em Santo Amaro, na zona sul. "Eu preciso do documento para o banco me ressarcir. Os bandidos que estão com meu cartão já gastaram mais de R$ 1.000 com ele."
Além do 1º e do 11º DPs, o 27º DP, no Campo Belo, na zona sul, também parou. Das delegacias visitadas, só a do aeroporto de Congonhas manteve o funcionamento normal.


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