São Paulo, quarta-feira, 11 de novembro de 2009

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Uniban decide "exilar" Geisy em outro prédio

Aluna que chegou a ser expulsa devido às suas roupas foi transferida com sua classe; escola diz que é para criar ambiente "mais agradável"

Em entrevista, vice-reitor chama de corajosa decisão de punir estudante, e admite que recuo foi motivado por pressão da opinião pública

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A aluna Geisy Villa Nova Arruda, 20, não poderá mais frequentar o prédio em que estudava antes do dia 22 de outubro, quando foi perseguida, encurralada, xingada e ameaçada por cerca de 700 alunos, no campus da Uniban (Universidade Bandeirantes) em São Bernardo do Campo, alegadamente por causa do microvestido que trajava.
Ontem, o vice-reitor da instituição, Ellis Brown, disse que a classe da jovem foi transferida para outro prédio, com o objetivo de criar um ambiente "mais descontraído e agradável" para o retorno da estudante.
Segundo a faculdade, Geisy não deve, assim, voltar a circular pelo prédio cheio de rampas onde, segundo a nota oficial que a expulsou da Uniban, divulgada no último domingo, aumentou "sua exposição e ensejou, de forma explícita, os apelos de alunos".

Decisão "corajosa"
A transferência foi anunciada durante entrevista em que o vice-reitor chegou a classificar como "corajosa" a decisão de expulsar a aluna, tomada na última sexta-feira pelo conselho universitário.
Segundo ele, apesar de "correta" do ponto de vista "estritamente disciplinar", a decisão teve de ser retirada por causa da repercussão na opinião pública. "Às vezes, precisamos de um certo estardalhaço para refletir."
No raciocínio do vice-reitor, "se fosse um caso isolado, não haveria motivo algum para mudar a decisão disciplinar. Mas, como envolveu e envolve muita gente, tivemos de adotar uma atitude educativa".
Na prática, a "atitude educativa" significa cancelar todas as punições (além da de Geisy, existiam as suspensões dos 10 alunos que "lideraram os ataques à jovem"), e fazer debates.
Geisy disse à Folha que não pretende mesmo voltar para a Uniban. "Tenho medo de que aquelas pessoas que me agrediram voltem a fazê-lo."
Os advogados dela entrarão hoje com um pedido junto à faculdade para que a jovem faça as provas de fim de ano em outro local.
Na coletiva de ontem, Brown tinha a seu lado Décio Machado, assistente jurídico da Uniban, o mesmo que, no último sábado, acusou Geisy de ter "uma postura incompatível", por suas roupas curtas e decotes e por suas "atitudes insinuantes", "de se portar, de falar, de rebolar."
Ontem, o vice-reitor recusou-se a comentar as atitudes de Geisy. "Não contribuirei para enxovalhar a reputação de quem quer que seja."
Segundo ele, no entanto, tais atitudes caracterizariam "quebra de decoro". Décio Machado, ao seu lado, assentiu com a cabeça. Brown disse que Geisy teria seguranças por perto em sua volta à faculdade, para evitar o risco de novo ataque.

"Talebans"
Segundo o vice-reitor, os 60 mil alunos da instituição sentem-se "injustiçados" pelo epíteto de "talebans" que lhes foi atribuído depois da agressão à jovem Geisy.
"Ninguém aqui quer um massacre. Ninguém aqui é contra moças vestidas com minissaias ou maquiadas", afirmou o vice-reitor.
Para Brown, a "reflexão educativa" começará na próxima sexta-feira, em um debate com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Geisy recebeu um telefonema do próprio senador petista convidando-a para participar do encontro: "Mas acho que não tenho estrutura psíquica. Estou muito abalada."


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