São Paulo, quarta-feira, 11 de novembro de 2009

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Protesto impede eleição para reitor na USP

Cerca de 200 manifestantes bloquearam com piquetes a entrada de 100 dos 325 eleitores no prédio onde ocorreria a votação

Votação foi remarcada para hoje, às 13h30, no Memorial da América Latina; funcionários e alunos prometem mais protestos

TALITA BEDINELLI
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um protesto de cerca de 200 estudantes, funcionários e militantes de movimentos populares impediu ontem a realização do segundo turno das eleições para reitor da USP.
Os manifestantes bloquearam as entradas do prédio da reitoria, onde aconteceria o pleito, alegando que ele é antidemocrático. Com piquetes e faixas, impediram a entrada de pelo menos 100 dos 325 professores, alunos e funcionários aptos a votar no segundo turno.
No primeiro turno, votaram 1.641 pessoas, entre funcionários, professores e alunos.
A votação foi remarcada para hoje, às 13h30, na biblioteca do Memorial da América Latina (zona oeste de SP).
Os manifestantes se encontraram ao meio-dia em frente à reitoria. Pouco depois, o diretor do Sintusp (sindicato dos funcionários), Magno de Carvalho, anunciou no microfone do carro de som: "A partir de agora, esses 325 que querem substituir os 106 mil alunos, funcionários e professores da USP não entram mais".
Foi a deixa para que os estudantes se postassem em frente à portaria principal do prédio. Em seguida, o sindicato estourou um rojão. Era o aviso para que a portaria de trás fosse bloqueada por outro grupo -composto, sobretudo, por membros do movimento sem-teto.
No momento do bloqueio, cerca de dois terços dos votantes já haviam entrado no prédio. O restante foi recebido aos gritos, ao tentar furar o bloqueio: "Ninguém entra. Não deixa os burocratas entrarem!".
O presidente da comissão eleitoral, Ignácio Poveda, tentou conversar com os manifestantes. Ao ver a pró-reitora de pesquisas, Mayana Zatz, ser impedida de entrar no prédio, ele saiu da reitoria para resgatá-la e não pôde voltar. "Não se pode impedir as pessoas de ir e vir. Você quer ser responsabilizado por um crime?", dizia.
Por volta das 13h40, dez minutos após o horário marcado para o início da votação, ela foi adiada. "Se um único eleitor é impedido de entrar, a eleição não pode ser realizada", explicou Poveda. Os manifestantes, no entanto, prometem impedir novamente a eleição hoje.
A maior parte dos manifestantes é ligada a movimentos radicais de esquerda, como a LER - QI (Liga Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional), dissidência do PSTU.
Neste ano, a USP já havia enfrentado uma greve de 57 dias dos funcionários, que também fizeram piquetes para bloquear a reitoria. A reitora Suely Vilela pediu reintegração de posse do prédio e a PM foi chamada, o que acabou em confronto com dez feridos. Em 2007, em outro protesto, alunos e servidores ocuparam o prédio por 50 dias.
O governador José Serra (PSDB), que escolherá o reitor entre os três mais votados no segundo turno, criticou os protestos. "Há um processo democrático na USP, a escolha de uma lista tríplice, e esse processo tem de ser respeitado. Nem todo mundo gosta disso."
Os candidatos mais votados no primeiro turno também fizeram críticas ao ato. "Lamentável. Uma minoria de servidores e de alunos, com pessoas externas, impediram de forma agressiva o acesso à votação. A violência não condiz com o ambiente acadêmico", afirmou o diretor do Instituto de Física de São Carlos, Glaucius Oliva.
Para o pró-reitor de pós-graduação, Armando Corbani, "a manifestação foi um absurdo, porque todos os candidatos se comprometeram a mudar o sistema de escolha de dirigentes".
Já o diretor da Faculdade de Direito, João Grandino Rodas, afirmou: "O acontecido hoje é um retrato fiel do que vem sendo a USP nos últimos anos".


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