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PARAÍSO VIOLADO
Pastagens avançam em direção à floresta, de onde é retirada a madeira para a produção nos fornos
Carvoarias ilegais avançam sobre o Pantanal
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, NO PANTANAL
EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA
Associadas ao desmatamento,
carvoarias avançam no Pantanal
de Mato Grosso do Sul. E a derrubada de árvores, usadas nos fornos, está transformando trechos
da paisagem em imensos pastos.
De acordo com dados da ONG
ambientalista Conservation International, cerca de 16 mil km2 da
vegetação nativa do Pantanal sul-mato-grossense haviam sido retirados até o ano passado.
"Estudos anteriores revelaram a
taxa de 0,46% de desmate por ano
na planície [alagável], no período
entre 1990 e 2000. A taxa atual de
supressão anual é de 2,3%, considerando o período entre 2000 e
2004. Pode-se prever que dentro
de pouco mais de 45 anos a cobertura florestal original do Pantanal
terá desaparecido completamente", aponta relatório da ONG.
Após pressão do Ministério Público Estadual, o governo baixou
um resolução, em julho deste ano,
para regularizar as carvoarias e
instituir um programa de licenciamento ambiental mais rígido.
Em seis cidades da área do Pantanal, existem atualmente 28 carvoarias em processo de regulamentação. Mas estima-se um número maior de fornos ilegais espalhados pela região pantaneira.
Em Mato Grosso do Sul, o Ibama calcula que existam outras
5.000 carvoarias, boa parte delas
irregulares.
A Folha percorreu por terra na
semana passada parte do Pantanal em Corumbá, Miranda e
Aquidauana. Visitou cinco carvoarias. Encontrou fornos no
meio das matas, próximos a baías,
ao rio Miranda e a áreas de morro.
Nos cerca de 400 km percorridos, a reportagem, que esteve há
dois anos no Pantanal, percebeu
nítido avanço dos pastos em direção à floresta. O tuiuiú, ave símbolo da região, é raramente visto
na rodovia BR-262, que corta a
planície. Em mais de 150 km, foram avistados apenas três.
O desmatamento no Pantanal é
resultado de parcerias entre fazendeiros, interessados em aumentar a área de pastos, e donos
de carvoarias, que buscam a madeira para fabricar carvão.
O governo diz que não há ilegalidade, desde que o fornecedor da
madeira tenha licença para desmatamento, que não estejam sendo derrubadas árvores de áreas
protegidas ou acima do limite de
20% que cada propriedade deve
preservar, conforme determina o
Código Florestal Brasileiro.
Pecuaristas desmatam e carvoeiros puxam a madeira com o
trator e as queimam em fornos
rudimentares. Os primeiros dizem ter licença do governo estadual. Os carvoeiros dizem apenas
aproveitar árvores já derrubadas.
Em meio a isso, a Sema (Secretaria de Meio Ambiente) admite
limitações de estrutura e pessoal
para fiscalizar as ações.
Numa região cortada pelo rio
Aquidauana, onde há baías e
áreas alagadas, fica a carvoaria
São Luís. Tem 246 fornos, emprega 106 pessoas (com registro em
carteira, segundo o dono) e produz 3.000 m3de madeira, suficientes para encher 30 carretas.
A produção vai para siderúrgicas de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. O empresário Ademir
José Catafesta, 50, diz que em dois
anos aproveitou madeira de uma
área desmatada de 1.700 hectares
da fazenda Santa Virgínia. Cada
ha equivale a 10 mil m2.
A São Luís tenta licenciar-se segundo as novas regras do governo. Já fez o pedido, mas precisará
retirar 101 fornos das margens de
uma estrada vicinal. O empresário diz estar longe do rio, embora
admita que a região é pantaneira.
Catafesta não acredita que a
produção de carvão estimule a
devastação. "A carvoaria é como
um urubu. Aproveitamos o que
sobrou para o fazendeiro não pôr
fogo", afirmou.
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