São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE/NEUROLOGIA

Crises psicogênicas atingem cerca de 30% das pessoas que eram tratadas como epiléptica

Problema psiquiátrico é confundido com epilepsia

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu tinha crises todas as semanas. Caía no chão, me debatia todo e desmaiava. O lado esquerdo do meu corpo ficava paralisado. Era horrível." O relato é do aposentado Visconde de Oliveira, 51, que durante 17 anos pensou que tinha epilepsia. Mas, ao contrário do que a maioria dos médicos afirmavam, Oliveira sofria de crise não-eepiléptica psicogênica, a extinta histeria - problema psiquiátrico e de caráter emocional.
A diferença entre uma crise epiléptica e uma crise psicogênica é simples: a primeira tem como base uma descarga elétrica descontrolada do sistema nervoso central, envolvendo um determinado grupo de neurônios.
Na segunda, não há nenhuma descarga elétrica e os especialistas ainda buscam saber qual é o fenômeno que afeta as funções motoras do paciente, sugerindo um problema neurológico.
"A gente ainda não sabe qual é o mecanismo de funcionamento dentro do cérebro. O que sabemos é que a maciça maioria dos pacientes que têm esse problema sofreu algum tipo de trauma ou de abuso físico ou sexual na infância", explicou o neurologista André Palmini, diretor-científico do programa de cirurgia de epilepsia do hospital da PUC-RS.
A semelhança entre as duas crises é tão grande que o tempo médio entre a ocorrência da primeira crise psicogênica e o diagnóstico correto é de oito anos. Para confirmar o problema é necessário fazer um exame chamado vídeo-eeg, em que o paciente é monitorado com eletrodos e câmeras permanentemente até registrar o momento da crise.
"Se a crise for epiléptica, o exame mostra claramente que houve uma descarga elétrica. Caso contrário, não há nenhuma alteração do sistema nervoso central e o mecanismo de ação ainda é completamente desconhecido", afirmou o psiquiatra Renato Luiz Marchetti, coordenador do grupo Projepsi (Projeto de Epilepsia e Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
No Brasil não há dados epidemiológicos da freqüência das crises psicogênicas, mas, segundo Marchetti, cerca de 30% dos pacientes que chegam aos centros especializados para fazer o diagnóstico correto não tinham epilepsia e portanto foram tratados equivocadamente. A epilepsia atinge cerca de 1% da população.
Segundo a psicanalista Mara Cristina Souza de Lucia, diretora da Divisão de Psicologia do Instituto Central do HC, vários fatores podem desencadear uma crise não epiléptica. "O estresse, por exemplo, é um causador. Mas é possível tratar com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, sem medicamentos."


Texto Anterior: Sem proteção, trabalhadores têm de cuidar dos fornos dia e noite
Próximo Texto: Perguntas e respostas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.