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SAÚDE/NEUROLOGIA
Crises psicogênicas atingem cerca de 30% das pessoas que eram tratadas como epiléptica
Problema psiquiátrico é confundido com epilepsia
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu tinha crises todas as semanas. Caía no chão, me debatia todo e desmaiava. O lado esquerdo
do meu corpo ficava paralisado.
Era horrível." O relato é do aposentado Visconde de Oliveira, 51,
que durante 17 anos pensou que
tinha epilepsia. Mas, ao contrário
do que a maioria dos médicos
afirmavam, Oliveira sofria de crise não-eepiléptica psicogênica, a
extinta histeria - problema psiquiátrico e de caráter emocional.
A diferença entre uma crise epiléptica e uma crise psicogênica é
simples: a primeira tem como base uma descarga elétrica descontrolada do sistema nervoso central, envolvendo um determinado
grupo de neurônios.
Na segunda, não há nenhuma
descarga elétrica e os especialistas
ainda buscam saber qual é o fenômeno que afeta as funções motoras do paciente, sugerindo um
problema neurológico.
"A gente ainda não sabe qual é o
mecanismo de funcionamento
dentro do cérebro. O que sabemos é que a maciça maioria dos
pacientes que têm esse problema
sofreu algum tipo de trauma ou
de abuso físico ou sexual na infância", explicou o neurologista André Palmini, diretor-científico do
programa de cirurgia de epilepsia
do hospital da PUC-RS.
A semelhança entre as duas crises é tão grande que o tempo médio entre a ocorrência da primeira
crise psicogênica e o diagnóstico
correto é de oito anos. Para confirmar o problema é necessário fazer um exame chamado vídeo-eeg, em que o paciente é monitorado com eletrodos e câmeras
permanentemente até registrar o
momento da crise.
"Se a crise for epiléptica, o exame mostra claramente que houve
uma descarga elétrica. Caso contrário, não há nenhuma alteração
do sistema nervoso central e o
mecanismo de ação ainda é completamente desconhecido", afirmou o psiquiatra Renato Luiz
Marchetti, coordenador do grupo
Projepsi (Projeto de Epilepsia e
Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
No Brasil não há dados epidemiológicos da freqüência das crises psicogênicas, mas, segundo
Marchetti, cerca de 30% dos pacientes que chegam aos centros
especializados para fazer o diagnóstico correto não tinham epilepsia e portanto foram tratados
equivocadamente. A epilepsia
atinge cerca de 1% da população.
Segundo a psicanalista Mara
Cristina Souza de Lucia, diretora
da Divisão de Psicologia do Instituto Central do HC, vários fatores
podem desencadear uma crise
não epiléptica. "O estresse, por
exemplo, é um causador. Mas é
possível tratar com acompanhamento psicológico e psiquiátrico,
sem medicamentos."
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