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Sem proteção, trabalhadores têm de cuidar dos fornos dia e noite
DA AGÊNCIA FOLHA, NO PANTANAL
"O que tenho não passa de uma
camisa e de uma calça", diz o carbonizador José Xavier de Andrade, 54. "Ganho R$ 4,50 por metro
cúbico [de carvão produzido]",
afirma Antônio dos Santos, 25,
que exerce a mesma função.
"Não dá nada, não sei", afirma
Santos, sem responder quanto,
afinal, ganha por mês. Exatamente o que Santos tem de idade, Andrade diz ter de profissão.
Os dois trabalham sem registro
em carteira em duas carvoarias do
Pantanal e são o exemplo da precariedade que enfrenta a maioria
dos trabalhadores carvoeiros.
Um carbonizador, durante a
queima da madeira, cuida dia e
noite dos fornos. Feitos de tijolos
retangulares de barro, cada um
tem 2,60 m de diâmetro e pouco
mais dois metros de altura.
Enquanto a madeira queima
dentro do forno, o carbonizador
vai tapando, de cima para baixo,
os pequenos orifícios abertos entre os tijolos de barro. Fechada a
última abertura, o forno deixa de
receber oxigênio. O fogo acaba. O
processo dura cerca de 30 horas.
Andrade e Santos entram nos
fornos sem qualquer tipo de proteção. Mais prudente, Santos ainda usa uma máscara cirúrgica.
Cada forno produz de 4 a 5 m3
de carvão, o que daria um ganho
de até R$ 22,5 para o carbonizador por unidade. Só que eles precisam pagar ajudantes, comida e
combustível.
A produção envolve outros profissionais. Tem o enchedor (ganho máximo de R$ 7 para colocar
madeira dentro do forno). Há o
descarregador, que, depois da
queima, entra na fornalha para tirar o carvão (R$ 6 por serviço).
Existem ainda os carregadores,
que lançam nos caminhões os sacos de carvão carregados na cabeça. Junto deles está o tecedor, que
amarra até 800 sacas na carreta
(R$ 50 a 60 por carga). Feito tudo
isso, o carvão vai às siderúrgicas
para fabricação do ferro gusa.
Graças ao carvão, o minério de
ferro passou a ser fundido a partir
de 1444, no fim da idade média.
Nos fornos siderúrgicos, o carvão
retira o oxigênio do minério, o
qual se transforma em ferro gusa
(líquido). O que sobra (calcário,
sílica) é chamado de escória.
Na noite de quarta-feira, no
meio do Pantanal de Miranda
(205 km de Campo Grande), os irmãos Eliezer, 41, e Elias Francisco,
50, contam que foram tocar uma
carvoaria com 26 fornos, mas encontraram 14, dos quais quatro
ruíram. Desempregados, eles fizeram duas queimas de madeira
com o que tinham.
"O que vamos ganhar só vai dar
para pagar a compra [de alimentos, no valor de R$ 360] que fizemos na cidade [a 40 km] antes de
vir para cá", conta Eliezer.
A reportagem encontrou em
Corumbá a carvoaria Black. Lá, os
trabalhadores usam capacetes,
óculos, avental e botas. "Aqui tudo é certo", afirma o carbonizador Itonilço Pereira Alencar, 36.
No refeitório, um grupo de trabalhadores diz que o registro em
carteira é só de fachada. "Se não
produzir, não ganha", relata um
ajudante. O dono da Black, Marcos Brito, não foi localizado.
(HC)
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