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MORTE NO FRIO
Para administrador do parque, alpinistas brasileiros deveriam ter contratado guia; resgate não foi prioritário
Diretor aponta "negligência" no Aconcágua
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O diretor de Recursos Naturais
Renováveis do Ministério do
Meio Ambiente de Mendoza (Argentina) e responsável pela administração do Parque Aconcágua,
Leopoldo León, afirma que houve
"negligência" por parte do casal
de alpinistas brasileiros Eduardo
Alvarenga da Silva, 40, e Rita Bragatto, 34. Ele morreu após chegar
ao cume da montanha e passar a
noite no frio, na última sexta-feira, e ela foi resgatada.
Em relatório sobre o incidente,
León também aponta "especulação econômica para não pagar
guias" -os dois escalaram a
montanha sozinhos, apesar de
não conhecerem o local.
Bragatto chegou ontem ao Brasil, mas não deu entrevistas. O
corpo de Silva será enterrado hoje, em Sorocaba.
O documento da direção do
parque, a que a Folha teve acesso,
refaz a trajetória de Silva e Bragatto desde o dia 28 de dezembro,
com base em registros dos acampamentos em que estiveram.
Segundo teriam dito no parque,
os brasileiros não contrataram
guia por achar alto o valor do serviço -cerca de US$ 2.000 (R$
5.300). De acordo com o relatório,
Rita também teria comentado
que Eduardo sentira dores no peito no acampamento Berlim -antes da etapa final da subida ao pico-, "o que depois negou nas declarações escritas".
Os brasileiros gastaram 16 horas
na subida, o dobro da média, segundo o relatório. "Eles permaneceram duas horas no pico. Os alpinistas experientes começam a
descer depois de meia hora ali",
diz León, apontando o que considera sinais de "desconhecimento" do casal sobre os riscos da expedição que faziam.
Outros exemplos seriam o fato
de o casal haver deixado no último acampamento suas barracas,
equipamento de proteção contra
eventuais tempestades de vento, e
ter levado só um litro de água, arriscando-se a sofrer desidratação.
No documento, León descreve o
socorro prestado aos brasileiros,
que Bragatto classificou como
"muito falho" em entrevista ao
"Fantástico", da TV Globo.
León diz que eles não apresentava sintomas de congelamento.
"Eles tinham mal da altura, porque passaram uma noite no cume, o que é uma loucura." Silva
foi encontrado com vida, mas não
resistiu ao resgate.
O salvamento dos brasileiros foi
considerado menos prioritário,
diante de dois outros pedidos de
socorro. "Havia um japonês que
se perdeu do guia e um grupo de
três argentinos e seu guia também
perdidos. Os brasileiros informavam que estavam cansados. Não
estavam nem perdidos nem feridos. Pela escala de valores dos resgates, os outros deveriam ser
atendidos primeiro", disse León.
O diretor disse à Folha que não
é verdadeira a informação de que
Alvarenga cedeu seus agasalhos a
Rita. "Ele tentou protegê-la abraçando-a. É o que eu também faria
com a minha mulher."
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