São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

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MORTE NO FRIO

Para administrador do parque, alpinistas brasileiros deveriam ter contratado guia; resgate não foi prioritário

Diretor aponta "negligência" no Aconcágua

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O diretor de Recursos Naturais Renováveis do Ministério do Meio Ambiente de Mendoza (Argentina) e responsável pela administração do Parque Aconcágua, Leopoldo León, afirma que houve "negligência" por parte do casal de alpinistas brasileiros Eduardo Alvarenga da Silva, 40, e Rita Bragatto, 34. Ele morreu após chegar ao cume da montanha e passar a noite no frio, na última sexta-feira, e ela foi resgatada.
Em relatório sobre o incidente, León também aponta "especulação econômica para não pagar guias" -os dois escalaram a montanha sozinhos, apesar de não conhecerem o local.
Bragatto chegou ontem ao Brasil, mas não deu entrevistas. O corpo de Silva será enterrado hoje, em Sorocaba.
O documento da direção do parque, a que a Folha teve acesso, refaz a trajetória de Silva e Bragatto desde o dia 28 de dezembro, com base em registros dos acampamentos em que estiveram.
Segundo teriam dito no parque, os brasileiros não contrataram guia por achar alto o valor do serviço -cerca de US$ 2.000 (R$ 5.300). De acordo com o relatório, Rita também teria comentado que Eduardo sentira dores no peito no acampamento Berlim -antes da etapa final da subida ao pico-, "o que depois negou nas declarações escritas".
Os brasileiros gastaram 16 horas na subida, o dobro da média, segundo o relatório. "Eles permaneceram duas horas no pico. Os alpinistas experientes começam a descer depois de meia hora ali", diz León, apontando o que considera sinais de "desconhecimento" do casal sobre os riscos da expedição que faziam.
Outros exemplos seriam o fato de o casal haver deixado no último acampamento suas barracas, equipamento de proteção contra eventuais tempestades de vento, e ter levado só um litro de água, arriscando-se a sofrer desidratação.
No documento, León descreve o socorro prestado aos brasileiros, que Bragatto classificou como "muito falho" em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo.
León diz que eles não apresentava sintomas de congelamento. "Eles tinham mal da altura, porque passaram uma noite no cume, o que é uma loucura." Silva foi encontrado com vida, mas não resistiu ao resgate.
O salvamento dos brasileiros foi considerado menos prioritário, diante de dois outros pedidos de socorro. "Havia um japonês que se perdeu do guia e um grupo de três argentinos e seu guia também perdidos. Os brasileiros informavam que estavam cansados. Não estavam nem perdidos nem feridos. Pela escala de valores dos resgates, os outros deveriam ser atendidos primeiro", disse León.
O diretor disse à Folha que não é verdadeira a informação de que Alvarenga cedeu seus agasalhos a Rita. "Ele tentou protegê-la abraçando-a. É o que eu também faria com a minha mulher."


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