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"Seus sonhos não estão mais aqui", diz avó
Wesley, 3, morto no tiroteio, começaria a freqüentar a escola na próxima segunda-feira; segundo a avó, ele estava "eufórico"
O tiroteio recomeçou quando a mãe, que saiu para comprar fraldas, retornava com os dois filhos; ao entregar Wesley aos médicos, ela desmaiou
MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO
Wesley Damião da Silva Saturnino Barreto, 3, morto com
três tiros durante ação da PM
no Jacarezinho, começaria a
freqüentar a escola na próxima
segunda-feira. Sua avó, a diarista Helena Damião da Silva, 38,
contou que ele estava eufórico.
"Só falava nisso. No dia em
que morreu, me abraçou e disse: "Vovó, eu vou pra escola estudar. Vou aprender a ler e a escrever!". Estava tudo comprado. Minha filha participaria da
primeira reunião na escola hoje
[ontem]. Mas aí aconteceu essa
tragédia, e meu neto, e seus sonhos, não estão mais aqui."
A doméstica contou que ouviu intensos tiroteios durante o
dia e que se abrigou com a família no segundo andar. Perto das
18h, quando achou que os tiros
cessaram, sua filha, a dona-de-casa Débora, 23, foi comprar
fraldas. Levou Wesley pelas
mãos e o caçula Daniel, de seis
meses, no colo.
Às 18h50, Helena ouviu a troca de tiros recomeçar. "Fiquei
desesperada. Os tiros atingiram a minha porta e o chão da
entrada. Todos da minha casa
foram se esconder embaixo da
pia da cozinha. Aí ouvi meu neto gritando na escada ao lado de
casa. Cheguei a vê-lo, da janela,
desmaiando e sangrando."
Ela lembra que, durante a
troca de tiros, dois homens
morreram perto de onde mora.
"Um rapaz baleado caiu na entrada da minha casa, me pediu
ajuda e morreu. Nada pude fazer. Foi um dia muito triste."
Débora, mãe de Wesley, disse
que não pôde evitar que o filho
fosse baleado. "Não consegui.
Então, uma amiga ficou com o
meu caçula e outro amigo me
acudiu e nos levou ao hospital."
Débora quase desmaiou
quando entregou o filho aos
médicos. "Agora não me lembro de mais nada. Só sei que o
Wesley, que era muito alegre,
começaria a estudar segunda e
não vai mais."
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