|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
foco
Meteorologistas revelam sensação de impotência após tragédias do Ano Novo
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CACHOEIRA
PAULISTA
Frustração, impotência, revolta. São as palavras usadas
por meteorologistas do Cptec
(Centro de Previsão de Tempo
e Estudos Climáticos) para
descrever o estado de ânimo a
cada tragédia provocada pelas
chuvas, como a destruição em
São Luiz do Paraitinga ou as
mortes em Angra dos Reis.
A Folha foi a Cachoeira
Paulista, a 202 km de São Paulo, onde fica o Cptec, e acompanhou o trabalho de um dos
grupos técnicos, o Grupo de
Previsão de Tempo.
Composto por dez profissionais, o grupo tem entre as
suas atribuições a previsão de
tempo para um período de até
sete dias no país, além da produção dos boletins de alerta à
Defesa Civil sobre a possibilidade de tempestades, vendavais ou geadas que possam
causar problemas.
A Defesa Civil nacional retransmite o aviso para Estados e eles, na sequência, aos
municípios. Além do Cptec, o
Inmet (Instituto Nacional de
Meteorologia) também produz avisos meteorológicos.
Os estragos e mortes na virada do ano vieram reforçar o
sentimento de frustração na
equipe do GPT. "A gente não
sabia qual rio poderia transbordar ou em que morro haveria deslizamento. Mas, pela
previsão, dava para saber que
muita chuva ia cair na região
[entre o sul do RJ e o Vale do
Paraíba, em SP] e que haveria
problemas", afirma o meteorologista Giovanni Dolif.
"De um lado, é uma sensação de dever cumprido. Previmos que choveria muito e
soltamos os avisos. De outro,
porém, fica um sentimento
de impotência. Porque sabemos que alguma coisa vai
acontecer, mas não há nada
que possamos fazer para ajudar essas pessoas", diz a meteorologista Kelen Andrade.
Na sala do GPT, imagens de
satélite e mapas da América
do Sul estão por todos os lados, das telas dos computadores ao quadro de madeira
com dezenas de folhas afixadas. Estas imagens simulam o
comportamento da atmosfera e fornecem dados sobre
temperatura, umidade, vento
e pressão que são usadas para
as previsões de tempo.
Na sala, há paulistas, gaúchos, uma carioca e um paraense. E, à frente do grupo, o
argentino Gustavo Escobar,
45. Coordenador do grupo
desde 2003, Escobar diz que
sua equipe não tem como
prever desastres nem onde
ocorrerão. "Não dá para prever um tornado, mas sim as
condições para que ele surja."
Por isso, defende uma maior
interação entre meteorologistas e as defesas civis (nacional,
estaduais e municipais), "que
conhecem a vulnerabilidade
de cada região".
Escobar diz que é difícil fazer um trabalho de prevenção
de desastres, pois o país é
grande e os avisos meteorológicos são pouco detalhados.
Nas tragédias da virada do
ano, os avisos apontavam chuvas fortes no centro-sul e
áreas serranas do Rio, além do
Vale do Paraíba e Vale Histórico. Não havia menção direta a
Angra ou Paraitinga.
Texto Anterior: Chuva forte fecha principais avenidas de SP Próximo Texto: SP tem calor na madrugada; no Rio, sensação é de 50°C Índice
|