São Paulo, terça-feira, 12 de janeiro de 2010

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Meteorologistas revelam sensação de impotência após tragédias do Ano Novo

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CACHOEIRA PAULISTA

Frustração, impotência, revolta. São as palavras usadas por meteorologistas do Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) para descrever o estado de ânimo a cada tragédia provocada pelas chuvas, como a destruição em São Luiz do Paraitinga ou as mortes em Angra dos Reis.
A Folha foi a Cachoeira Paulista, a 202 km de São Paulo, onde fica o Cptec, e acompanhou o trabalho de um dos grupos técnicos, o Grupo de Previsão de Tempo.
Composto por dez profissionais, o grupo tem entre as suas atribuições a previsão de tempo para um período de até sete dias no país, além da produção dos boletins de alerta à Defesa Civil sobre a possibilidade de tempestades, vendavais ou geadas que possam causar problemas.
A Defesa Civil nacional retransmite o aviso para Estados e eles, na sequência, aos municípios. Além do Cptec, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) também produz avisos meteorológicos.
Os estragos e mortes na virada do ano vieram reforçar o sentimento de frustração na equipe do GPT. "A gente não sabia qual rio poderia transbordar ou em que morro haveria deslizamento. Mas, pela previsão, dava para saber que muita chuva ia cair na região [entre o sul do RJ e o Vale do Paraíba, em SP] e que haveria problemas", afirma o meteorologista Giovanni Dolif.
"De um lado, é uma sensação de dever cumprido. Previmos que choveria muito e soltamos os avisos. De outro, porém, fica um sentimento de impotência. Porque sabemos que alguma coisa vai acontecer, mas não há nada que possamos fazer para ajudar essas pessoas", diz a meteorologista Kelen Andrade.
Na sala do GPT, imagens de satélite e mapas da América do Sul estão por todos os lados, das telas dos computadores ao quadro de madeira com dezenas de folhas afixadas. Estas imagens simulam o comportamento da atmosfera e fornecem dados sobre temperatura, umidade, vento e pressão que são usadas para as previsões de tempo.
Na sala, há paulistas, gaúchos, uma carioca e um paraense. E, à frente do grupo, o argentino Gustavo Escobar, 45. Coordenador do grupo desde 2003, Escobar diz que sua equipe não tem como prever desastres nem onde ocorrerão. "Não dá para prever um tornado, mas sim as condições para que ele surja." Por isso, defende uma maior interação entre meteorologistas e as defesas civis (nacional, estaduais e municipais), "que conhecem a vulnerabilidade de cada região".
Escobar diz que é difícil fazer um trabalho de prevenção de desastres, pois o país é grande e os avisos meteorológicos são pouco detalhados. Nas tragédias da virada do ano, os avisos apontavam chuvas fortes no centro-sul e áreas serranas do Rio, além do Vale do Paraíba e Vale Histórico. Não havia menção direta a Angra ou Paraitinga.


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