São Paulo, terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA analisam riscos do uso do Botox

Segundo o FDA, que regula remédios naquele país, toxina pode estar associada à dificuldade de deglutição e respiração

Órgão do governo informa que algumas crianças que receberam a droga para tratamento de espasmos musculares morreram

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O FDA (órgão que regula remédios nos EUA) está revisando a segurança da toxina botulínica, principal substância do Botox. Segundo a agência, a toxina pode estar associada a efeitos colaterais graves ligados ao botulismo, como dificuldade de deglutição e respiração.
A toxina -que é produzida pela bactéria Clostridium botulinum, causa da doença botulismo- age no músculo de modo a diminuir ou a eliminar os impulsos que o acionam. É usada em tratamentos estéticos e medicinais. Os tipos mais comuns de toxina são o A (Botox) e o B (Myobloc).
O alerta divulgado pelo órgão na última sexta-feira informa que essas reações adversas causaram internações, e algumas crianças que receberam a droga para tratamento de espasmos musculares morreram.
Há duas semanas, o FDA recebeu de um grupo DE defesa do consumidor um documento com ao menos 180 relatos de reações adversas e de 16 mortes supostamente relacionadas ao uso da toxina.
Ao menos uma das internações estaria ligada a tratamento estético para atenuar rugas em uma mulher, segundo o FDA. Na medicina, a toxina é utilizada no tratamento de paralisia cerebral, espasticidade muscular, estrabismo e diversas síndromes neurológicas.
Segundo o FDA, as reações ocorrem quando a toxina botulínica se espalha além da região onde foi injetada e provoca paralisia e enfraquecimento dos músculos utilizados para respiração e deglutição, um efeito colateral que pode ser fatal.
O órgão não esclarece em que condições essas reações adversas ocorreram nem a qual tipo de toxina botulínica elas estão associadas. Nos EUA, o uso da toxina botulínica não é aprovado para o tratamento de espasmos musculares, embora algumas sociedades médicas do país recomendem o uso.
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autoriza o uso da toxina desde 1992 para tratamentos de espasticidade e paralisia cerebral, entre outros diagnósticos. Ontem, a agência informou que não há relatos de reações adversas graves no país e que vai avaliar se emitirá um alerta parecido ao do FDA.
O neurologista Egberto Barbosa, professor livre docente da USP, afirma que trabalha há 15 anos com a toxina botulínica e que nunca registrou reações adversas graves ou mortes associadas a ela. "Já vi alguns casos na literatura de fraqueza generalizada, que demandaram internações, mas sem mortes."
Barbosa diz que, em relação aos casos que chegaram ao FDA, será preciso avaliar se as reações estão relacionadas apenas ao uso do medicamento ou a doenças já preexistentes. Também é necessário saber se não houve aplicação da toxina em excesso, alerta ele. "Nosso limite de segurança é quatro frascos. Quando bem indicado, é um medicamento seguro."
Segundo o médico Luiz Celso Vilanova, chefe do departamento de neurologia infantil da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as situações relatadas pelo FDA ainda não estão bem esclarecidas.
"Não se sabe se houve uma dose de medicamento além da habitual ou se a aplicação atingiu vasos sangüíneos e a toxina se espalhou pelo corpo." A aplicação da toxina botulínica só pode ser intramuscular. Para ele, até que se prove o contrário, a droga "é confiável".
O FDA também orienta que os profissionais de saúde não interrompam o tratamento com a toxina e promete um novo comunicado tão logo conclua as investigações sobre a segurança do produto.


Texto Anterior: Ano letivo em novos CEUs da prefeitura atrasa
Próximo Texto: SP tem 2º caso de morte por suspeita de reação a vacina de febre amarela
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.