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EUA analisam riscos do uso do Botox
Segundo o FDA, que regula remédios naquele país, toxina pode estar associada à dificuldade de deglutição e respiração
Órgão do governo informa que algumas crianças que receberam a droga para tratamento de espasmos musculares morreram
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O FDA (órgão que regula remédios nos EUA) está revisando a segurança da toxina botulínica, principal substância do
Botox. Segundo a agência, a toxina pode estar associada a
efeitos colaterais graves ligados
ao botulismo, como dificuldade
de deglutição e respiração.
A toxina -que é produzida
pela bactéria Clostridium botulinum, causa da doença botulismo- age no músculo de modo a
diminuir ou a eliminar os impulsos que o acionam. É usada
em tratamentos estéticos e medicinais. Os tipos mais comuns
de toxina são o A (Botox) e o B
(Myobloc).
O alerta divulgado pelo órgão
na última sexta-feira informa
que essas reações adversas causaram internações, e algumas
crianças que receberam a droga
para tratamento de espasmos
musculares morreram.
Há duas semanas, o FDA recebeu de um grupo DE defesa
do consumidor um documento
com ao menos 180 relatos de
reações adversas e de 16 mortes
supostamente relacionadas ao
uso da toxina.
Ao menos uma das internações estaria ligada a tratamento
estético para atenuar rugas em
uma mulher, segundo o FDA.
Na medicina, a toxina é utilizada no tratamento de paralisia
cerebral, espasticidade muscular, estrabismo e diversas síndromes neurológicas.
Segundo o FDA, as reações
ocorrem quando a toxina botulínica se espalha além da região
onde foi injetada e provoca paralisia e enfraquecimento dos
músculos utilizados para respiração e deglutição, um efeito
colateral que pode ser fatal.
O órgão não esclarece em que
condições essas reações adversas ocorreram nem a qual tipo
de toxina botulínica elas estão
associadas. Nos EUA, o uso da
toxina botulínica não é aprovado para o tratamento de espasmos musculares, embora algumas sociedades médicas do
país recomendem o uso.
No Brasil, a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) autoriza o uso da toxina
desde 1992 para tratamentos
de espasticidade e paralisia cerebral, entre outros diagnósticos. Ontem, a agência informou
que não há relatos de reações
adversas graves no país e que
vai avaliar se emitirá um alerta
parecido ao do FDA.
O neurologista Egberto Barbosa, professor livre docente da
USP, afirma que trabalha há 15
anos com a toxina botulínica e
que nunca registrou reações
adversas graves ou mortes associadas a ela. "Já vi alguns casos na literatura de fraqueza
generalizada, que demandaram
internações, mas sem mortes."
Barbosa diz que, em relação
aos casos que chegaram ao
FDA, será preciso avaliar se as
reações estão relacionadas apenas ao uso do medicamento ou
a doenças já preexistentes.
Também é necessário saber se
não houve aplicação da toxina
em excesso, alerta ele. "Nosso
limite de segurança é quatro
frascos. Quando bem indicado,
é um medicamento seguro."
Segundo o médico Luiz Celso
Vilanova, chefe do departamento de neurologia infantil da
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo), as situações relatadas pelo FDA ainda não estão
bem esclarecidas.
"Não se sabe se houve uma
dose de medicamento além da
habitual ou se a aplicação atingiu vasos sangüíneos e a toxina
se espalhou pelo corpo." A aplicação da toxina botulínica só
pode ser intramuscular. Para
ele, até que se prove o contrário, a droga "é confiável".
O FDA também orienta que
os profissionais de saúde não
interrompam o tratamento
com a toxina e promete um novo comunicado tão logo conclua as investigações sobre a segurança do produto.
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