São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

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Edifício se desloca e vizinhos saem às pressas

Prédio comercial se movimenta 4 cm e causa estrondo em apartamentos vizinhos

O descolamento foi causado por uma movimentação do solo que pode ter sido provocada por uma obra em terreno ao lado dos prédios

TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores de um edifício na Barra Funda (zona oeste de São Paulo) tiveram que deixar seus apartamentos às pressas na noite de anteontem, com medo de que o prédio desabasse. Um edifício comercial, colado a ele, se desgrudou, abrindo uma fenda e causando estrondos, queda de reboco e vidros quebrados.
O descolamento foi causado por uma movimentação do solo que pode ter sido provocada pela construção de um prédio no terreno ao lado, segundo dois engenheiros ouvidos pela Folha. A obra, uma torre de 28 andares com 168 apartamentos residenciais, é da Gattaz Engenharia. Ela começou em abril de 2009 e deve terminar em abril de 2011. Todos os apartamentos já foram vendidos.
Os dois edifícios ficarão interditados pela Defesa Civil por ao menos mais três dias. Os moradores foram para hotéis, pagos pela Gattaz, que também reforçará a fundação do prédio comercial para evitar novos deslocamentos. No edifício em construção, no entanto, as obras não foram paralisadas.
Segundo relatos de moradores, os estrondos começaram por volta das 23h de anteontem. A Defesa Civil disse que uma fenda de 2,5 cm se abriu entre os prédios. Após dois novos estrondos na madrugada, o espaço aumentou para 4 cm.
Assustadas, quando ouviram os primeiros ruídos muitas pessoas correram para fora do prédio ainda de pijamas. "Estava deitada e ouvi um estrondo muito grande. Depois vimos o tumulto, todo mundo nervoso", conta a fotógrafa Ana Claudia Pacheco, 38. Ela é um dos 130 moradores do edifício construído há 36 anos no número 225 da rua Tagipuru.
Outros, que já dormiam, não perceberam a movimentação e só saíram depois da chegada dos bombeiros. "Estava na cama e ouvi o interfone tocar, não atendi. Pensei: "Isso lá é hora de tocar o interfone?'", contou a aposentada Sarah Obeid, 61. "Ele voltou a tocar e fui ver. Era o porteiro pedindo para sair."
Como muitos vizinhos, ela passou a madrugada na calçada, à espera de autorização para voltar para casa. "Fui ali na rua onde os mendigos dormem e pedi um pedaço de colchão. Foi onde passei a noite", dizia, em tom jocoso, o assistente administrativo Renato Ribas, 53.
O aval da Defesa Civil só chegou pela manhã, quando os moradores tiveram cinco minutos para pegar objetos pessoais. Retiraram roupas, documentos, fotos da família e uma calopsita. "Não sei quanto tempo vamos ter que ficar fora", dizia Mônica Tagliavini, 40, mãe de gêmeos de 3 anos, enquanto levava a gaiola com o pássaro.
Por volta das 10h, houve bate-boca no prédio comercial, onde usuários de apenas dois andares por vez podiam entrar para retirar objetos. Ao verem pessoas carregando impressoras, computadores e arquivos, os que esperavam reclamaram.
Apesar da interdição dos prédios, a prefeitura diz que não há risco iminente de desabamentos. Os engenheiros Miriana Marques, do Instituto de Engenharia, e Milton Golombek, especialista em fundações, que afirmam que a obra pode ter causado o deslocamento, concordam. A saída dos moradores foi feita por precaução.

Colaborou EVANDRO SPINELLI, da Reportagem Local



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