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JUVENTUDE ENCARCERADA
Motim no complexo do Tatuapé foi o segundo maior da história da fundação
Após rebelião e fuga em massa na Febem, 144 continuam nas ruas
Rogério Cassimiro/Folha Imagem
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A cavalo, integrantes da tropa de choque da Polícia Militar contém internos rebelados na Febem |
ALEXANDRE HISAYASU
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O complexo do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, registrou
entre a noite de anteontem e a
madrugada de ontem uma fuga
em massa e a segunda maior rebelião da história da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor) de São Paulo. O número
de fugitivos, de funcionários feridos e de adolescentes rebelados só
foi maior nos tumultos registrados na instituição em 1999.
Até a noite de ontem, 144 internos do complexo -do total de
pelo menos 307 fugitivos- ainda
estavam foragidos, segundo dados da Febem. Eles pertenciam a
quatro unidades de adolescentes
com perfil primário grave (crimes
como roubo qualificado e homicídio). Faziam parte do chamado
circuito grave do complexo. As
fugas provocaram pânico entre os
moradores das proximidades.
A confusão foi tão grande que a
Febem não sabia precisar o número exato de adolescentes que
conseguiram escapar mas foram
recapturados logo em seguida.
O secretário estadual da Justiça
e Defesa da Cidadania e presidente da Febem, Alexandre de Moraes (PFL), disse, no final da tarde
de ontem, que o número de recapturados, em um cálculo feito
até as 12h, estaria em torno de 60
internos, o que significava que pelo menos 307 adolescentes conseguiram vencer o sistema de segurança sair do complexo. À noite, a
Febem informou que mais 103 haviam sido recapturados
Entidades de direitos humanos
e defesa do menor que acompanharam a rebelião e funcionários
do complexo afirmaram, no entanto, que o número de fugitivos
foi muito maior. O sindicato dos
funcionários da Febem calcula
que o número pode chegar a 500.
Policiais chegaram a usar um ônibus para trazer os rebelados de
volta ao complexo do Tatuapé.
Mas o número oficial de 307
adolescentes já representa o
maior número de fugitivos desde
1999. Naquele ano, 644 internos
conseguiram escapar de uma única vez no complexo da Imigrantes
(já desativado). Neste ano, 202 internos fugiram do complexo da
Vila Maria (zona norte de SP).
Segundo a Febem, a confusão
começou por volta das 22h30 de
anteontem, quando internos da
unidade 12 (com perfil primário
grave) iniciaram uma tentativa de
fuga. Depois que adolescentes de
quatro unidades conseguiram escapar, os outros internos do complexo iniciaram a rebelião.
De acordo com a Febem, 30 funcionários e seis adolescentes ficaram feridos. A assessoria do Hospital Tatuapé informou, porém,
que 39 pessoas -24 funcionários
e 15 internos- foram atendidas.
Os ferimentos teriam ocorrido
quando agentes de segurança tentaram impedir a fuga. Dois funcionários, que levaram golpes de
naifas (facas improvisadas), e um
interno, que quebrou a perna,
continuam internados no hospital. Os três apresentavam quatro
estável, segundo boletim médico.
Depois da fuga, a rebelião atingiu todas as 18 unidades do complexo. Houve queima de colchões
e destruição em algumas unidades. A região foi cercada por um
grande aparato policial. Carros da
Polícia Militar fecharam o trecho
da avenida Celso Garcia nas proximidades do complexo, impedindo o tráfego de veículos.
Essa foi a 17ª rebelião em unidades da Febem em 2005, segundos
dados da instituição. Em todo o
ano passado, foram 28 registros.
Do começo de janeiro até o dia de
ontem, 764 internos conseguiram
escapar das unidades da instituição em todo Estado. Isso equivale
a 82% dos fugitivos registrados
em todo o ano de 2004, quando
933 internos escaparam.
O presidente da Febem, Alexandre de Moraes, admitiu ontem
que houve falha no sistema de segurança. "Não está satisfatória a
segurança. Isso é óbvio", afirmou.
Segundo ele, o episódio pode ter
relação com a transferência de 12
líderes para outro complexo,
ocorrida no dia anterior.
Moraes conversou sobre o caso
ontem, por telefone, com o governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB), que está em viagem aos Estados Unidos. A conversa durou cerca de 20 minutos.
Moraes disse que apenas relatou a
situação ao governador, que teria
reforçado seu apoio ao projeto de
reformulação da Febem.
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