São Paulo, sábado, 12 de março de 2005

Próximo Texto | Índice

JUVENTUDE ENCARCERADA

Motim no complexo do Tatuapé foi o segundo maior da história da fundação

Após rebelião e fuga em massa na Febem, 144 continuam nas ruas

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
A cavalo, integrantes da tropa de choque da Polícia Militar contém internos rebelados na Febem


ALEXANDRE HISAYASU
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O complexo do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, registrou entre a noite de anteontem e a madrugada de ontem uma fuga em massa e a segunda maior rebelião da história da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de São Paulo. O número de fugitivos, de funcionários feridos e de adolescentes rebelados só foi maior nos tumultos registrados na instituição em 1999.
Até a noite de ontem, 144 internos do complexo -do total de pelo menos 307 fugitivos- ainda estavam foragidos, segundo dados da Febem. Eles pertenciam a quatro unidades de adolescentes com perfil primário grave (crimes como roubo qualificado e homicídio). Faziam parte do chamado circuito grave do complexo. As fugas provocaram pânico entre os moradores das proximidades.
A confusão foi tão grande que a Febem não sabia precisar o número exato de adolescentes que conseguiram escapar mas foram recapturados logo em seguida.
O secretário estadual da Justiça e Defesa da Cidadania e presidente da Febem, Alexandre de Moraes (PFL), disse, no final da tarde de ontem, que o número de recapturados, em um cálculo feito até as 12h, estaria em torno de 60 internos, o que significava que pelo menos 307 adolescentes conseguiram vencer o sistema de segurança sair do complexo. À noite, a Febem informou que mais 103 haviam sido recapturados
Entidades de direitos humanos e defesa do menor que acompanharam a rebelião e funcionários do complexo afirmaram, no entanto, que o número de fugitivos foi muito maior. O sindicato dos funcionários da Febem calcula que o número pode chegar a 500. Policiais chegaram a usar um ônibus para trazer os rebelados de volta ao complexo do Tatuapé.
Mas o número oficial de 307 adolescentes já representa o maior número de fugitivos desde 1999. Naquele ano, 644 internos conseguiram escapar de uma única vez no complexo da Imigrantes (já desativado). Neste ano, 202 internos fugiram do complexo da Vila Maria (zona norte de SP).
Segundo a Febem, a confusão começou por volta das 22h30 de anteontem, quando internos da unidade 12 (com perfil primário grave) iniciaram uma tentativa de fuga. Depois que adolescentes de quatro unidades conseguiram escapar, os outros internos do complexo iniciaram a rebelião.
De acordo com a Febem, 30 funcionários e seis adolescentes ficaram feridos. A assessoria do Hospital Tatuapé informou, porém, que 39 pessoas -24 funcionários e 15 internos- foram atendidas.
Os ferimentos teriam ocorrido quando agentes de segurança tentaram impedir a fuga. Dois funcionários, que levaram golpes de naifas (facas improvisadas), e um interno, que quebrou a perna, continuam internados no hospital. Os três apresentavam quatro estável, segundo boletim médico.
Depois da fuga, a rebelião atingiu todas as 18 unidades do complexo. Houve queima de colchões e destruição em algumas unidades. A região foi cercada por um grande aparato policial. Carros da Polícia Militar fecharam o trecho da avenida Celso Garcia nas proximidades do complexo, impedindo o tráfego de veículos.
Essa foi a 17ª rebelião em unidades da Febem em 2005, segundos dados da instituição. Em todo o ano passado, foram 28 registros. Do começo de janeiro até o dia de ontem, 764 internos conseguiram escapar das unidades da instituição em todo Estado. Isso equivale a 82% dos fugitivos registrados em todo o ano de 2004, quando 933 internos escaparam.
O presidente da Febem, Alexandre de Moraes, admitiu ontem que houve falha no sistema de segurança. "Não está satisfatória a segurança. Isso é óbvio", afirmou. Segundo ele, o episódio pode ter relação com a transferência de 12 líderes para outro complexo, ocorrida no dia anterior.
Moraes conversou sobre o caso ontem, por telefone, com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que está em viagem aos Estados Unidos. A conversa durou cerca de 20 minutos. Moraes disse que apenas relatou a situação ao governador, que teria reforçado seu apoio ao projeto de reformulação da Febem.


Próximo Texto: Letras jurídicas: Walter Ceneviva: "Monkey: look back at your tail"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.