São Paulo, sábado, 12 de março de 2005

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Ministro culpa Maia por crise; prefeito ameniza críticas

FABIANE LEITE
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

Ao anunciar ontem a instalação de uma "operação de guerra" e um "gabinete de crise" no Rio, o ministro da Saúde, Humberto Costa, acusou o prefeito Cesar Maia (PFL) de "insensibilidade" e de "criar factóide".
Maia, que já havia afirmado que o governo federal aplicava um "calote" no Rio, baixou ontem o tom da crítica. Ele saudou a intervenção como "um ato absolutamente necessário" e uma "grande vitória" da prefeitura. Para ele, o presidente Lula "acertou na mosca" com as medidas, que, segundo o prefeito, eram o que ele pedia -a volta dos hospitais à União.
O ministro atacou. "Estava claro que o desejo não era de negociar, mas de criar factóide político. Era o desejo de negociar politicamente a saúde da população da cidade. Não nos restava alternativa a não ser assumir a nossa responsabilidade de evitar a insensibilidade humana a que nós assistimos, feita por parte do prefeito desta cidade", afirmou Costa ao explicar os motivos para intervir em hospitais e retirar verbas da administração da prefeitura.
As medidas foram deflagradas depois do estado de calamidade, decretado por Lula anteontem.
O governo federal ainda irá informar à Justiça que Maia abandonou a rede. E pedirá o cumprimento da liminar que determinava que o município aplicasse R$ 1 milhão diário na saúde se o abandono acontecesse.
A Folha apurou que o ministério tem um relatório preliminar que aponta que o prefeito não cumpriu a determinação constitucional de gastar 15% das receitas próprias em saúde em 2004, atingindo apenas 10%. Se isso for confirmado, permitirá outras ações judiciais. O prefeito tem dito que gastou mais, 18%.
Para Maia, as críticas de Costa fazem "parte do jogo da comunicação" e o decreto de calamidade é uma "coreografia jurídica".
As relações entre o Planalto e o prefeito do Rio já foram melhores. Maia se aproximou do governo e do PT durante a campanha do ano passado. Após a eleição, ele passou a ser indicado como provável candidato à Presidência. Neste ano, passou a culpar o governo federal pela crise da saúde.
O prefeito afirmou ontem que os impasses com o ministério são "um caso isolado". Disse também torcer pelo sucesso de Lula na "empreitada" da intervenção.
Questionado sobre o impacto da crise na sua possível candidatura à Presidência, desconversou: "Candidatura é uma eventualidade; prefeitura é uma certeza".
Humberto Costa está cotado para cair na reforma ministerial. Ontem ele negou que isso tenha a ver com a intervenção -que seria uma demonstração de força.


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