São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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Secretária de Covas faz críticas ao secretário de Alckmin

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao justificar o mau desempenho da rede estadual paulista nas avaliações federais, a secretária da Educação no governo Mário Covas, Rose Neubauer, atacou o seu sucessor, Gabriel Chalita (gestão Alckmin). Segundo Neubauer, que comandou a pasta de 1995 a 2002, instrumentos necessários para o bom funcionamento da progressão continuada (adotada pelo governo em 1997) foram abandonados por Chalita. Leia entrevista feita por telefone com Neubauer, 62, que é diretora-presidente do Instituto Protagonistes, que desenvolve estudos sobre educação. (FT)

 

FOLHA - Por que São Paulo caiu nos rankings do Saeb?
ROSE NEUBAUER -
Nas curvas para os diferentes resultados, você vê que as médias nacionais despencaram muito. Não foi um ou outro Estado. E o que me chama a atenção é que há uma queda sistemática para todos, com raras exceções. É tão sistemático que me dá a impressão de que a prova de 1995 não conversou com a de 2005 -esta pode ter sido mais difícil.

FOLHA - Mas admitindo a possibilidade do problema de calibragem na prova, o exame ficaria mais difícil para todos os Estados. Assim, São Paulo perdeu posições em uma prova comum a todos.
- NEUBAUER -
Certo. Temos algumas coisas que podemos chamar a atenção. Na 4ª série, as perdas são pouco significativas, uma ou duas posições. No caso da 8ª série, em 1995, São Paulo poderia ter essa posição [1º em português e 4º em matemática] porque o Estado era extremamente excludente. Como havia uma reprovação muito alta, o grupo de alunos que chegava aqui era melhor, mas havia uma evasão enorme.
Os Estados que trabalham com reprovação série a série podem ter um falso desempenho melhor porque as crianças com dificuldades estão camufladas em séries anteriores. São Paulo perdeu algumas posições? Perdeu. Mas se a gente não tivesse perdido no governo passado os instrumentos apontados pelo Conselho Estadual de Educação para garantir a qualidade da progressão continuada, estaríamos melhores.

FOLHA - Quais instrumentos?
- NEUBAUER -
O reforço semanal, a recuperação nas férias e a capacitação do professor a partir da avaliação. Não adianta haver a avaliação, ficarmos discutindo, e isso não redundar em uma capacitação de professor, por escola, nas áreas onde os estudantes foram pior. Não adianta ficarmos comprando curso de capacitação para aquilo que o professor tem interesse se não trabalharmos uma capacitação muito bem pontuada [refere-se aos programas de formação continuada da gestão Chalita]. Escolas com notas seis podem ter dificuldades diferentes. Não adianta dar bolsas de pós-graduação para o professor se a secretaria não faz uma capacitação voltada para a correção da problemática do desempenho dos alunos [outra referência a um programa da gestão Chalita, o Bolsa Mestrado]. É uma pena. Se São Paulo tivesse utilizado esses instrumentos, estaria melhor.

FOLHA - Então os instrumentos que a sra. implementou foram desmontados na gestão Chalita?
- NEUBAUER -
Isso.

FOLHA - Foi um erro?
- NEUBAUER -
Foi. E não é só o fato de não dar continuidade. Você também não estimula a rede e os professores a levarem essas propostas com seriedade.

FOLHA - Não é um desalento que haja descontinuidade dentro de um mesmo partido?
- NEUBAUER -
Acho que é. Mas algumas matérias não deveriam ser de decisão só de um partido, mas sim da sociedade.

FOLHA - O que precisa ser feito para melhorar a educação?
- NEUBAUER -
Investir pesado na formação do professor.

FOLHA - A gestão da sra. fez isso?
- NEUBAUER -
Na medida do possível. Negociamos uma nova carreira salarial, houve mudanças salariais significativas. O professor não ganha o desejável. Mas, para pagarmos melhor os professores, temos de tomar a decisão de aumentarmos o Orçamento para a educação. A sociedade vai ter de decidir se quer gastar menos em saúde, transporte, segurança. Não pode ser feito de cima para baixo.

FOLHA - Como a sra. avalia a atual qualidade da educação estadual?
- NEUBAUER -
Como no Brasil, precisamos fazer muita coisa. Não temos a qualidade que desejamos. Mas há uma coisa positiva. Na minha geração, apenas 50% das crianças de 7 a 14 anos estavam na escola [hoje o índice passa dos 95%]. Mas isso fez com que absorvêssemos quadros de professores que não tiveram tempo de consolidar sua formação.


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