|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Secretária de Covas faz críticas ao secretário de Alckmin
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao justificar o mau desempenho da rede estadual paulista
nas avaliações federais, a secretária da Educação no governo
Mário Covas, Rose Neubauer,
atacou o seu sucessor, Gabriel
Chalita (gestão Alckmin).
Segundo Neubauer, que comandou a pasta de 1995 a 2002,
instrumentos necessários para
o bom funcionamento da progressão continuada (adotada
pelo governo em 1997) foram
abandonados por Chalita.
Leia entrevista feita por telefone com Neubauer, 62, que é
diretora-presidente do Instituto Protagonistes, que desenvolve estudos sobre educação.
(FT)
FOLHA - Por que São Paulo caiu nos
rankings do Saeb?
ROSE NEUBAUER - Nas curvas para os diferentes resultados, você vê que as médias nacionais
despencaram muito. Não foi
um ou outro Estado. E o que me
chama a atenção é que há uma
queda sistemática para todos,
com raras exceções. É tão sistemático que me dá a impressão
de que a prova de 1995 não conversou com a de 2005 -esta
pode ter sido mais difícil.
FOLHA - Mas admitindo a possibilidade do problema de calibragem na
prova, o exame ficaria mais difícil
para todos os Estados. Assim, São
Paulo perdeu posições em uma prova comum a todos.
- NEUBAUER - Certo. Temos algumas coisas que podemos
chamar a atenção. Na 4ª série,
as perdas são pouco significativas, uma ou duas posições. No
caso da 8ª série, em 1995, São
Paulo poderia ter essa posição
[1º em português e 4º em matemática] porque o Estado era extremamente excludente. Como
havia uma reprovação muito
alta, o grupo de alunos que chegava aqui era melhor, mas havia
uma evasão enorme.
Os Estados que trabalham
com reprovação série a série
podem ter um falso desempenho melhor porque as crianças
com dificuldades estão camufladas em séries anteriores.
São Paulo perdeu algumas
posições? Perdeu. Mas se a gente não tivesse perdido no governo passado os instrumentos
apontados pelo Conselho Estadual de Educação para garantir
a qualidade da progressão continuada, estaríamos melhores.
FOLHA - Quais instrumentos?
- NEUBAUER - O reforço semanal,
a recuperação nas férias e a capacitação do professor a partir
da avaliação. Não adianta haver
a avaliação, ficarmos discutindo, e isso não redundar em uma
capacitação de professor, por
escola, nas áreas onde os estudantes foram pior.
Não adianta ficarmos comprando curso de capacitação
para aquilo que o professor tem
interesse se não trabalharmos
uma capacitação muito bem
pontuada [refere-se aos programas de formação continuada da gestão Chalita]. Escolas
com notas seis podem ter dificuldades diferentes.
Não adianta dar bolsas de
pós-graduação para o professor
se a secretaria não faz uma capacitação voltada para a correção da problemática do desempenho dos alunos [outra referência a um programa da gestão
Chalita, o Bolsa Mestrado].
É uma pena. Se São Paulo tivesse utilizado esses instrumentos, estaria melhor.
FOLHA - Então os instrumentos
que a sra. implementou foram desmontados na gestão Chalita?
- NEUBAUER - Isso.
FOLHA - Foi um erro?
- NEUBAUER - Foi. E não é só o fato de não dar continuidade. Você também não estimula a rede
e os professores a levarem essas
propostas com seriedade.
FOLHA - Não é um desalento que
haja descontinuidade dentro de um
mesmo partido?
- NEUBAUER - Acho que é. Mas
algumas matérias não deveriam ser de decisão só de um
partido, mas sim da sociedade.
FOLHA - O que precisa ser feito para melhorar a educação?
- NEUBAUER - Investir pesado na
formação do professor.
FOLHA - A gestão da sra. fez isso?
- NEUBAUER - Na medida do possível. Negociamos uma nova
carreira salarial, houve mudanças salariais significativas. O
professor não ganha o desejável. Mas, para pagarmos melhor os professores, temos de
tomar a decisão de aumentarmos o Orçamento para a educação. A sociedade vai ter de decidir se quer gastar menos em
saúde, transporte, segurança.
Não pode ser feito de cima para
baixo.
FOLHA - Como a sra. avalia a atual
qualidade da educação estadual?
- NEUBAUER - Como no Brasil,
precisamos fazer muita coisa.
Não temos a qualidade que desejamos. Mas há uma coisa positiva. Na minha geração, apenas 50% das crianças de 7 a 14
anos estavam na escola [hoje o
índice passa dos 95%]. Mas isso
fez com que absorvêssemos
quadros de professores que não
tiveram tempo de consolidar
sua formação.
Texto Anterior: Paulo Renato ataca falta de continuidade Próximo Texto: Saiba mais: Gestão Serra quer ciclos de dois anos Índice
|