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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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SEGURANÇA

O "comendador" Arcanjo é acusado de homicídios, lavagem de dinheiro, contrabando etc.

Uruguai prende líder do crime de MT

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O "comendador" João Arcanjo Ribeiro, 51, acusado de chefiar uma organização criminosa com ramificações em cinco Estados brasileiros, foi preso na tarde de anteontem em um bairro residencial de Montevidéu (Uruguai). Arcanjo estava foragido desde o último dia 5 de dezembro.
A mulher de Arcanjo, Sílvia Chirata, também foi presa. O DNII (Direção Nacional de Informação e Inteligência) do Uruguai fez as prisões. Não houve reação.
Acusado de sonegar R$ 842 milhões da Receita Federal, entre 1997 e 2001, Arcanjo tem quatro mandados de prisão por homicídio, contrabando, crime contra ordem tributária, porte ilegal de arma e lavagem de dinheiro.
Sua mulher Sílvia teve prisão decretada também sob acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro. A organização criminosa do "comendador", sediada em Mato Grosso, teria ligações com uma similar no Espírito Santo, segundo o Ministério Público Federal.
Haveria elos também com a exploração de máquinas caça-níqueis em Minas Gerais, Paraná (Londrina) e Rio de Janeiro, onde ainda manteria laços com o jogo do bicho, atividades que Arcanjo comandaria em Mato Grosso.
O "comendador" e sua mulher são donos das offshores (empresas com sede virtual em paraíso fiscal) Lyman e Aveyron S.A. situadas em território uruguaio.
As duas recebiam, segundo a Polícia Federal, dinheiro de "atividades ilícitas" e serviam de avalistas aos empréstimos feitos por bancos do Uruguai às empresas de Arcanjo em Cuiabá (MT).
Operações financeiras suspeitas no Uruguai, investigadas até agora, envolveram US$ 30 milhões.
A quantia teria sido usada na construção de um shopping em Rondonópolis (218 km ao sul de Cuiabá), na compra de um jato Cessna Citation X e outros bens.
Arcanjo também possui negócios nos Estados Unidos. Em Orlando, na Flórida, é dono de 55% de um hotel avaliado em US$ 40 milhões. Há um mês, Arcanjo estava proibido de entrar nos EUA.
O "comendador" ainda é acusado pelo Ministério Público de participação no assassinato, no ano passado, de Sávio Brandão de Lima Júnior, dono do jornal "Folha do Estado", de Cuiabá.
A diretora do Departamento de Imprensa do Ministério do Interior do Uruguai, Alícia Lusit, disse que a extradição de Arcanjo para o Brasil depende de decisão da Justiça uruguaia e da documentação a ser apresentada.
Alícia informou que há um acordo de extradição ratificado em 1919 entre os dois países, e a Justiça tem o limite de 48 horas para decidir sobre o caso.
O coordenador da Interpol (polícia internacional) no Brasil, Armando de Assis Possa, chegou ontem à tarde ao Uruguai para comandar as negociações com o governo uruguaio. Arcanjo estava na lista da Interpol e era procurado em 180 países.
Na avaliação do superintendente substituto da Polícia Federal em Mato Grosso, André Luiz Diniz, pode haver burocracia na extradição, principalmente se Arcanjo usar seu poder econômico para contratar advogados.
Diniz disse que na tarde de quinta-feira a polícia uruguaia comunicou ter localizado uma pessoa parecida com Arcanjo. A PF enviou, então, nova foto do acusado e mais informações sobre o "comendador". A notícia da prisão só chegou na noite de quinta.


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