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SAÚDE
Eduardo Massad, da USP, afirma, no entanto, que o resultado do seu modelo matemático da epidemia é preliminar
Sars pode ter alta transmissão, diz médico
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Há cerca de dez dias, quando a
pneumonia asiática tomou conta
do noticiário no planeta, o infectologista Eduardo Massad, da Faculdade de
Medicina da USP, resolveu fazer uma projeção em
computador para prever como
ela se espalharia. E se espantou
com o resultado: no começo do
segundo semestre, a doença poderá ter infectado nada menos
que 800 milhões de pessoas.
O cálculo, feito com base nos
dados divulgados diariamente
pela OMS (Organização Mundial
da Saúde) sobre a doença, ainda é
preliminar. "Por enquanto, o modelo tem 10% de confiabilidade",
avisa o médico. "Na semana que
vem, poderá ter 60% ou 70%."
Mas Massad, que há 20 anos trabalha com modelos matemáticos
de epidemias, diz estar "assustado" com o que seu computador
mostrou sobre a superpneumonia. "Isso pode ser como a gripe
de 1918 [que matou 20 milhões de
pessoas"", disse à Folha.
Cálculo
Após examinar a sequência de
dados sobre a pneumonia (também conhecida pela sigla Sars, ou
síndrome respiratória aguda grave) disponibilizada pela OMS, o
pesquisador da USP calculou a
chamada taxa de reprodutibilidade da moléstia. Trata-se da razão
entre o total de pessoas numa dada população que adoecem e que
se recuperam, morrem da doença
ou morrem de outras causas.
"É esse índice que traduz o ímpeto inicial da epidemia, sua aceleração", diz o médico.
Massad compara esse índice à
relação entre uma caixa-d'água e
seu ralo. Quando o ralo é maior
que a torneira, a caixa-d'água esvazia mais rápido. No caso das
doenças infecciosas, o "ralo" é o
número de pacientes que se recuperam ou morrem.
Quando essa razão é maior que
um, ou seja, o "ralo" é mais estreito, a caixa-d'água enche: a epidemia acontece. A Aids no Quênia
nos anos 80 tinha um índice de
transmissibilidade de 10 a 12 -o
resultado foi uma epidemia devastadora na África.
A razão não tem a ver necessariamente com a letalidade do vírus. Em alguns casos, pelo contrário: o ebola, que mata mais de metade das suas vítimas, tem um "ralo" grosso demais: seu índice de
transmissão menor que um, daí
sua versão humana não ter conseguido sair do continente africano.
A pneumonia asiática tem um
índice de transmissão igual a 2, o
que garante a propagação epidêmica. O modelo matemático criado por Massad prevê, com base
no atual crescimento do número
de casos, que ela possa chegar a
infectar 80% das pessoas suscetíveis -o que, segundo a OMS,
equivale a cerca de 1 bilhão de seres humanos que se movimentam
entre fronteiras diariamente.
"Não me parece um cálculo
pouco razoável, porque o modelo
é parecido com o do resfriado comum", afirmou Massad.
Nos últimos dias, a taxa de crescimento do número de casos tem
diminuído. Mas, segundo o pesquisador da USP, para que isso tenha um impacto significativo na
projeção, é preciso que a desaceleração seja brutal.
O número de mortos pela epidemia somava 116 casos até ontem, segundo a OMS.
O virologista Paolo Zanotto, do
Instituto de Ciências Biomédicas
da USP, pede calma na análise do
modelo. "Nas próximas semanas,
o comportamento da epidemia
vai ser definitivo para que as projeções se tornem confiáveis."
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