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Especialistas dizem que há avaliação nesse sistema; apenas em MG e em SP, a maioria das escolas segue o método
Crítica de Lula reacende debate sobre ciclos
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
As críticas do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ao sistema de
ciclos, feitas em dois pronunciamentos no início deste mês, reacenderam o debate que tende a
culpar o método pela falta de qualidade da educação brasileira.
Nos ciclos, ao contrário do que
acontece no sistema seriado, o
aluno tem a chance de continuar
na mesma turma por um determinado período mesmo que suas
notas não sejam suficientes para
que passe de ano. O objetivo é
permitir que o estudante tenha
mais tempo para aprender, em
vez de ficar retido na mesma série.
O sistema de ciclos não é um
método unânime entre educadores, mas especialistas ouvidos pela
Folha afirmam que o presidente
pode ter cometido equívocos ao
fazer as críticas.
No dia 1º de abril, ao inaugurar
uma fábrica em Araras (SP), Lula
afirmou que "neste país, num determinado momento, foi decidido que o aluno não iria mais repetir de ano e que o seu ano seria
ano contínuo, sem nenhuma prova". Disse também que "hoje,
constata-se que 52% das crianças
que saem da escola ou que estão
na 5ª série não conseguem interpretar um texto porque não estão
tendo a formação correta".
Na verdade, nunca houve uma
decisão federal obrigando Estados e municípios a adotarem o
sistema de ciclos. A LDB (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação),
aprovada em 1996, apenas facultou aos Estados adotar o sistema.
As estatísticas do Ministério da
Educação mostram também que
os ciclos não podem ser responsabilizados pela falta de qualidade
na educação brasileira. Em 2002,
segundo dados do Inep (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira), do
MEC, apenas 21% dos estudantes
do ensino fundamental estudavam em escolas que adotavam exclusivamente sistema de ciclos.
Das 27 unidades da federação,
só duas (São Paulo e Minas Gerais) têm mais da metade dos alunos em escolas que adotam exclusivamente ciclos. Em 22 Estados,
esse percentual não chega a 10%.
A professora da PUC-RJ Cláudia Fernandes, que fez sua tese de
doutorado a respeito dos ciclos,
aponta outro equívoco na fala do
presidente: "É um erro dizer que
não há prova ou que alunos não
são avaliados. Num sistema de ciclos, devem existir ainda mais
avaliações, mas elas não têm o
propósito único de determinar se
o aluno será reprovado ou não".
Fátima Baierle, secretária da
Educação de Porto Alegre, onde a
gestão do PT defende os ciclos,
concorda que, no sistema, a avaliação é ainda mais importante.
"O objetivo da avaliação é garantir a aprendizagem. Fazemos
uma avaliação diagnóstica, mais
profunda do que normalmente
acontece numa escola seriada."
Após as críticas em Araras, Lula
voltou a falar sobre o assunto em
Três Lagoas (MS), na inauguração de uma termelétrica em 2 de
abril: "Não é possível uma criança
entrar na escola e ter aprovação
continuada porque o índice de repetência é alto demais".
Nesse ponto, João Batista Araújo e Oliveira, consultor da área de
educação e ex-secretário executivo do Ministério da Educação,
concorda com o presidente.
"Num país como o Brasil, a
idéia de ciclos associada à suspensão da reprovação é irresponsável." Para Oliveira, uma das maneiras de combater o problema da
repetência sem necessidade de
sistema de ciclos é reformular o
método de alfabetização de crianças, que, na sua avaliação, está ultrapassado no Brasil e prejudica o
desempenho dos alunos em todas
as disciplinas.
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