São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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"Dublê" é usado para tirar pai de cadeia

Polícia simulou a saída de Alexandre Nardoni do 77º DP para despistar os curiosos e os jornalistas

Anna Carolina deixou a cadeia pela porta da frente e, assim como o marido, também foi hostilizada por dezenas de pessoas

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com quase 200 pessoas cercando a entrada do 77º DP (Distrito Policial, em Santa Cecília, centro de São Paulo) e mais uma infinidade de jornalistas à espera da saída de Alexandre Nardoni, a Polícia Civil decidiu usar um "dublê" do pai da menina Isabella para tentar despistar a imprensa e os curiosos.
Um policial disfarçado, calvo e com óculos escuros, se enrolou em um cobertor e deixou o DP com mais três agentes. O "dublê" entrou pela parte traseira de um carro da polícia, na porta principal da delegacia. O carro saiu pela contramão na alameda Glete, onde fica o DP.

Gritos e socos
O tumulto foi grande. Aos gritos de "assassino", "lincha" e "justiça", algumas pessoas se jogaram em direção do veículo, dando socos e tapas no carro.
Enquanto isso, Nardoni deixou a delegacia pela porta lateral. "Foi uma medida de segurança", justificou o delegado Albano Fernandes.
Nardoni, segundo policiais, soube que seria solto por volta das 14h -meia hora antes de deixar o DP.
A partir das 11h30, a notícia de que o casal seria libertado atraiu curiosos, que junto com a imprensa se concentraram em frente às duas delegacias. A Polícia Militar foi chamada para reforçar a segurança.
No 77º DP, mais de 40 policiais civis e militares participaram da operação. A rua que dá acesso ao distrito foi fechada. Dois helicópteros sobrevoavam o local.

Porta da frente
Já Anna Carolina Jatobá deixou o 89º DP (Portal do Morumbi) pela porta da frente. Ela também foi bastante hostilizada por cerca de 40 pessoas que aguardavam a sua saída. Muitas gritavam "assassina" e "justiça". Algumas chegaram a bater no carro que a levou para o IML (Instituto Médico Legal).
A estudante de direito soube que seria libertada por volta do meio-dia -de dentro da cela onde ela estava, era possível ouvir a televisão de uma cela vizinha, segundo a delegada Silvana Françolin.
No 89º DP, 27 PMs, seis carros e 13 motos da PM foram chamados para garantir a segurança de Anna Carolina. Mas ela só deixou a cela após a chegada de seis policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais, da Polícia Civil), que montaram um cordão de isolamento até o carro.
Entre os curiosos no local estavam cerca de 15 crianças da favela Paraisópolis, que deixaram de assistir a uma aula para acompanhar a libertação de Anna Carolina -o professor, disse uma delas, havia faltado.
Alexandre chegou ao IML central (zona oeste de SP) às 14h45 para passar pelo exame de corpo de delito (procedimento usual em liberações de pessoas detidas). Ao chegar, foi chamado de assassino por algumas das cerca de 30 pessoas que o esperavam na rua.
De camisa e calça escuras, o pai de Isabella desceu de um carro do GOE, que o levou até o local. Nardoni entrou correndo no prédio do IML, acompanhado de policiais.
Cerca de uma hora depois, chegou Anna Carolina, em um carro do GOE. Àquele momento, a concentração de pessoas era um pouco maior. Ela também foi hostilizada e entrou no prédio correndo, protegida por um policial. O casal esteve acompanhado de advogados, do pai e da irmã de Alexandre.
Alexandre e Anna Carolina saíram do IML por volta das 17h20, levados novamente por carros da polícia.
A Secretaria da Segurança, responsável pelo instituto, afirmou que não informaria o resultado do corpo de delito devido ao segredo nas investigações determinado pelo delegado que preside o inquérito.
(RAFAEL SAMPAIO, RICARDO SANGIOVANNI E FÁBIO TAKAHASHI)

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