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"Dublê" é usado para tirar pai de cadeia
Polícia simulou a saída de Alexandre Nardoni do 77º DP para despistar os curiosos e os jornalistas
Anna Carolina deixou a cadeia pela porta da frente e, assim como o marido, também foi hostilizada por dezenas de pessoas
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com quase 200 pessoas cercando a entrada do 77º DP (Distrito Policial, em Santa Cecília,
centro de São Paulo) e mais
uma infinidade de jornalistas à
espera da saída de Alexandre
Nardoni, a Polícia Civil decidiu
usar um "dublê" do pai da menina Isabella para tentar despistar a imprensa e os curiosos.
Um policial disfarçado, calvo
e com óculos escuros, se enrolou em um cobertor e deixou o
DP com mais três agentes. O
"dublê" entrou pela parte traseira de um carro da polícia, na
porta principal da delegacia. O
carro saiu pela contramão na
alameda Glete, onde fica o DP.
Gritos e socos
O tumulto foi grande. Aos
gritos de "assassino", "lincha" e
"justiça", algumas pessoas se
jogaram em direção do veículo,
dando socos e tapas no carro.
Enquanto isso, Nardoni deixou a delegacia pela porta lateral. "Foi uma medida de segurança", justificou o delegado
Albano Fernandes.
Nardoni, segundo policiais,
soube que seria solto por volta
das 14h -meia hora antes de
deixar o DP.
A partir das 11h30, a notícia
de que o casal seria libertado
atraiu curiosos, que junto com
a imprensa se concentraram
em frente às duas delegacias. A
Polícia Militar foi chamada para reforçar a segurança.
No 77º DP, mais de 40 policiais civis e militares participaram da operação. A rua que dá
acesso ao distrito foi fechada.
Dois helicópteros sobrevoavam o local.
Porta da frente
Já Anna Carolina Jatobá deixou o 89º DP (Portal do Morumbi) pela porta da frente. Ela
também foi bastante hostilizada por cerca de 40 pessoas que
aguardavam a sua saída. Muitas
gritavam "assassina" e "justiça". Algumas chegaram a bater
no carro que a levou para o IML
(Instituto Médico Legal).
A estudante de direito soube
que seria libertada por volta do
meio-dia -de dentro da cela
onde ela estava, era possível ouvir a televisão de uma cela vizinha, segundo a delegada Silvana Françolin.
No 89º DP, 27 PMs, seis carros e 13 motos da PM foram
chamados para garantir a segurança de Anna Carolina. Mas
ela só deixou a cela após a chegada de seis policiais do GOE
(Grupo de Operações Especiais, da Polícia Civil), que
montaram um cordão de isolamento até o carro.
Entre os curiosos no local estavam cerca de 15 crianças da
favela Paraisópolis, que deixaram de assistir a uma aula para
acompanhar a libertação de
Anna Carolina -o professor,
disse uma delas, havia faltado.
Alexandre chegou ao IML
central (zona oeste de SP) às
14h45 para passar pelo exame
de corpo de delito (procedimento usual em liberações de
pessoas detidas). Ao chegar, foi
chamado de assassino por algumas das cerca de 30 pessoas
que o esperavam na rua.
De camisa e calça escuras, o
pai de Isabella desceu de um
carro do GOE, que o levou até o
local. Nardoni entrou correndo
no prédio do IML, acompanhado de policiais.
Cerca de uma hora depois,
chegou Anna Carolina, em um
carro do GOE. Àquele momento, a concentração de pessoas
era um pouco maior. Ela também foi hostilizada e entrou no
prédio correndo, protegida por
um policial. O casal esteve
acompanhado de advogados,
do pai e da irmã de Alexandre.
Alexandre e Anna Carolina
saíram do IML por volta das
17h20, levados novamente por
carros da polícia.
A Secretaria da Segurança,
responsável pelo instituto, afirmou que não informaria o resultado do corpo de delito devido ao segredo nas investigações
determinado pelo delegado que
preside o inquérito.
(RAFAEL SAMPAIO, RICARDO SANGIOVANNI E FÁBIO TAKAHASHI)
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