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Multidão lota IML para gritar "morre" e xingar casal
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com as TVs e rádios informando a todo o tempo o trajeto
de Anna Carolina Jatobá, 24, e
de Alexandre Nardoni, 29, das
delegacias ao Instituto Médico
Legal, uma pequena multidão
foi se armando em frente ao local -bem em frente ao Hospital das Clínicas.
"Morre, desgraçado, covarde", vociferava o zelador Nelson Meirelles, 60, entre as mais
de 200 pessoas na entrada do
IML, onde os acusados eram
esperados. "Morre, em nome
de Jesus", gritava para a platéia
de curiosos, que pouco viam
além dos logotipos das emissoras nas costas dos cinegrafistas.
Mas quem por ali passava ficava, como se esperasse um cometa, ou algo raro.
"Também acho que foi a madrasta", disse Silvana Costa, 53,
fazendo coro ao bochicho geral,
mas assistindo ao empurra-empurra na sombra, com um
lenço colorido na cabeça, uma
cesta básica no colo e em uma
cadeira de rodas -recém-saída
de uma quimioterapia.
Os jornalistas criticavam o
"teatrinho" da polícia para despistá-los. "Fui uma das enganadas pelo carro da polícia que
saiu na contramão", dizia uma.
"Mas ela tem que passar por
aqui, a não ser que tenha uma
saída pelo bueiro", dizia outra,
furiosa ao ver as imagens tremidas no visor da câmera de
sua emissora.
Maria dos Santos, 59, ajeitava os óculos para se prevenir.
Com ela, também de pé sobre a
mureta, mãos e rosto contra a
grade, os netos Lucas, 4 e João
Vítor, 2. "A madrasta devia ser
"dada" à população e linchada
em praça pública", disse, olhando para Lucas. "Quem é a mais
bruxa da história?", perguntou.
"A madrasta", disse o menino.
A comoção geral estimulava
links ao vivo, mesmo que pelo
orelhão -onde Thaís Mendes,
30, correu para relatar tudo à
mãe. "O Nardoni chegou, com
cara de exausto. Foi ele, eu sei.
Ela está para chegar. Sim, xinguei, mãe. Tá chegando, vou
desligar." Alarme falso. E Thaís
está esperta. "Acredita que comecei a xingar de vagabunda e
descobri que era a delegada?"
Só às 17h20, quando os carros saíram cantando pneu no
asfalto da rua, no auge das vaias
e gritos de "assassinos", é que o
espetáculo acabou. Cinco minutos depois, o helicóptero se
foi e as pessoas também.
A platéia foi transferida para
o destino do casal, na casa do
pai de Alexandre Nardoni, no
Tucuruvi. Cerca de 100 pessoas
se aglomeravam na porta da residência. Quando viam um movimento na casa, alguns xingavam e faziam sinais obscenos.
Quando um parte de Alexandre
Nardoni deixou a casa, um grupo de pessoas, principalmente
crianças, o seguiu até o carro e
gritou "assassino."
Colaborou JOÃO PEQUENO
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