São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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Multidão lota IML para gritar "morre" e xingar casal

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com as TVs e rádios informando a todo o tempo o trajeto de Anna Carolina Jatobá, 24, e de Alexandre Nardoni, 29, das delegacias ao Instituto Médico Legal, uma pequena multidão foi se armando em frente ao local -bem em frente ao Hospital das Clínicas.
"Morre, desgraçado, covarde", vociferava o zelador Nelson Meirelles, 60, entre as mais de 200 pessoas na entrada do IML, onde os acusados eram esperados. "Morre, em nome de Jesus", gritava para a platéia de curiosos, que pouco viam além dos logotipos das emissoras nas costas dos cinegrafistas.
Mas quem por ali passava ficava, como se esperasse um cometa, ou algo raro.
"Também acho que foi a madrasta", disse Silvana Costa, 53, fazendo coro ao bochicho geral, mas assistindo ao empurra-empurra na sombra, com um lenço colorido na cabeça, uma cesta básica no colo e em uma cadeira de rodas -recém-saída de uma quimioterapia.
Os jornalistas criticavam o "teatrinho" da polícia para despistá-los. "Fui uma das enganadas pelo carro da polícia que saiu na contramão", dizia uma.
"Mas ela tem que passar por aqui, a não ser que tenha uma saída pelo bueiro", dizia outra, furiosa ao ver as imagens tremidas no visor da câmera de sua emissora.
Maria dos Santos, 59, ajeitava os óculos para se prevenir. Com ela, também de pé sobre a mureta, mãos e rosto contra a grade, os netos Lucas, 4 e João Vítor, 2. "A madrasta devia ser "dada" à população e linchada em praça pública", disse, olhando para Lucas. "Quem é a mais bruxa da história?", perguntou. "A madrasta", disse o menino.
A comoção geral estimulava links ao vivo, mesmo que pelo orelhão -onde Thaís Mendes, 30, correu para relatar tudo à mãe. "O Nardoni chegou, com cara de exausto. Foi ele, eu sei.
Ela está para chegar. Sim, xinguei, mãe. Tá chegando, vou desligar." Alarme falso. E Thaís está esperta. "Acredita que comecei a xingar de vagabunda e descobri que era a delegada?"
Só às 17h20, quando os carros saíram cantando pneu no asfalto da rua, no auge das vaias e gritos de "assassinos", é que o espetáculo acabou. Cinco minutos depois, o helicóptero se foi e as pessoas também.
A platéia foi transferida para o destino do casal, na casa do pai de Alexandre Nardoni, no Tucuruvi. Cerca de 100 pessoas se aglomeravam na porta da residência. Quando viam um movimento na casa, alguns xingavam e faziam sinais obscenos.
Quando um parte de Alexandre Nardoni deixou a casa, um grupo de pessoas, principalmente crianças, o seguiu até o carro e gritou "assassino."


Colaborou JOÃO PEQUENO

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