São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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Professores vão a hospital dar aula a estudantes doentes

Neste ano, cerca de 20 mil alunos internados na cidade de São Paulo poderão estudar

Programa do governo do Estado começou em 2004, com 8.500 aulas; em São Paulo, professores vão a 4 grandes hospitais públicos

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Juliana Neves dos Reis, 8, concentra-se na tarefa que a professora acaba de pedir. Numa folha de papel com várias frutas desenhadas, precisa circular as que começam com a letra M. Ela tem a cabeça raspada, sinal do tratamento contra um linfoma (câncer do sistema linfático). Está num hospital.
Médicos entram e saem a todo instante. Enfermeiras verificam o soro. Apesar do ambiente pouco favorável, a pequena aluna pára alguns instantes para pensar. Circula a maçã e o maracujá e levanta os olhos para a professora. Sorri, certa de que acertou o desafio.
Perto de 20 mil aulas como essa serão dadas neste ano na cidade de São Paulo. Uma parceria entre as secretarias estaduais da Educação e da Saúde leva professores a quatro grandes hospitais públicos para garantir que crianças e adolescentes não tenham suas vidas escolares comprometidas.
O programa Classes Hospitalares, como foi batizado, cresce ano a ano. Em 2004, como comparação, foram dadas 8.500 aulas. Em 2007, 18 mil. O programa leva 21 professores ao Hospital Infantil Darcy Vargas, ao Hospital do Servidor Público Estadual, ao Hospital das Clínicas e ao Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Outros hospitais do país, principalmente públicos e universitários, têm iniciativas parecidas.
As aulas são tanto para crianças e adolescentes hospitalizados em razão de algum problema que exige poucos dias internação -como uma cirurgia-, quanto para os que estão em situação crônica e precisam passar muito tempo na instituição.
Por causa do linfoma, Juliana terá de freqüentar o Hospital Infantil Darcy Vargas durante três anos. Ela mora em Itapecerica da Serra (Grande SP). Agora, no começo do tratamento, ela vai ao hospital três vezes por semana. São três ônibus e duas horas de viagem. E depois, mais cinco horas de quimioterapia. Esse ritmo a obrigou a deixar a escola pública que freqüentava até o final de 2007.
Em outro andar do Darcy Vargas, Luana Vitória Silva Soares, 5, está sentada sobre a cama pintando o desenho de um coelho da Páscoa dado pela professora. Desde que foi internada, em outubro do ano passado, com problemas no estômago e no intestino, não pôde sair do hospital. "Ela aprendeu a ler e a escrever nessa cama, com as professoras do hospital", diz a mãe, Lindaci Soares, 43.
Médicos dizem que esse tipo de aula ajuda muito no tratamento. Um dos motivos é o fato de a criança deixar de ver o hospital como um lugar onde há apenas dor e sofrimento. Além disso, os pais tendem a dialogar mais à vontade com os professores do que os médicos e as enfermeiras. "Muitas vezes ficamos sabendo das dificuldades emocionais e econômicas da família por meio das professoras. O médico ainda é visto como uma autoridade", afirma Maria Lydia Mello de Andrea, médica supervisora do ambulatório de oncologia do Darcy Vargas. "As professoras deixam o ambiente menos hostil, o que torna os índices de abandono do tratamento cada vez menores."
Apesar de o programa Classes Hospitalares ser conduzido por profissionais estaduais, também podem ter aulas alunos das redes municipal e particular. A programação das lições é fornecida pela escola do paciente -ele não perde o vínculo com sua instituição de origem. Assim, quando o tratamento médico acabar, ele poderá voltar à escola na série adequada para a sua idade.


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