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Professores vão a hospital dar aula a estudantes doentes
Neste ano, cerca de 20 mil alunos internados na cidade de São Paulo poderão estudar
Programa do governo do Estado começou em 2004,
com 8.500 aulas; em São Paulo, professores vão a 4
grandes hospitais públicos
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Juliana Neves dos Reis, 8,
concentra-se na tarefa que a
professora acaba de pedir. Numa folha de papel com várias
frutas desenhadas, precisa circular as que começam com a letra M. Ela tem a cabeça raspada, sinal do tratamento contra
um linfoma (câncer do sistema
linfático). Está num hospital.
Médicos entram e saem a todo instante. Enfermeiras verificam o soro. Apesar do ambiente pouco favorável, a pequena
aluna pára alguns instantes para pensar. Circula a maçã e o
maracujá e levanta os olhos para a professora. Sorri, certa de
que acertou o desafio.
Perto de 20 mil aulas como
essa serão dadas neste ano na
cidade de São Paulo. Uma parceria entre as secretarias estaduais da Educação e da Saúde
leva professores a quatro grandes hospitais públicos para garantir que crianças e adolescentes não tenham suas vidas
escolares comprometidas.
O programa Classes Hospitalares, como foi batizado, cresce
ano a ano. Em 2004, como
comparação, foram dadas
8.500 aulas. Em 2007, 18 mil. O
programa leva 21 professores
ao Hospital Infantil Darcy Vargas, ao Hospital do Servidor
Público Estadual, ao Hospital
das Clínicas e ao Instituto de
Infectologia Emílio Ribas.
Outros hospitais do país,
principalmente públicos e universitários, têm iniciativas parecidas.
As aulas são tanto para crianças e adolescentes hospitalizados em razão de algum problema que exige poucos dias internação -como uma cirurgia-,
quanto para os que estão em situação crônica e precisam passar muito tempo na instituição.
Por causa do linfoma, Juliana
terá de freqüentar o Hospital
Infantil Darcy Vargas durante
três anos. Ela mora em Itapecerica da Serra (Grande SP). Agora, no começo do tratamento,
ela vai ao hospital três vezes
por semana. São três ônibus e
duas horas de viagem. E depois,
mais cinco horas de quimioterapia. Esse ritmo a obrigou a
deixar a escola pública que freqüentava até o final de 2007.
Em outro andar do Darcy
Vargas, Luana Vitória Silva
Soares, 5, está sentada sobre a
cama pintando o desenho de
um coelho da Páscoa dado pela
professora. Desde que foi internada, em outubro do ano passado, com problemas no estômago e no intestino, não pôde sair
do hospital. "Ela aprendeu a ler
e a escrever nessa cama, com as
professoras do hospital", diz a
mãe, Lindaci Soares, 43.
Médicos dizem que esse tipo
de aula ajuda muito no tratamento. Um dos motivos é o fato
de a criança deixar de ver o hospital como um lugar onde há
apenas dor e sofrimento. Além
disso, os pais tendem a dialogar
mais à vontade com os professores do que os médicos e as enfermeiras. "Muitas vezes ficamos sabendo das dificuldades
emocionais e econômicas da família por meio das professoras.
O médico ainda é visto como
uma autoridade", afirma Maria
Lydia Mello de Andrea, médica
supervisora do ambulatório de
oncologia do Darcy Vargas. "As
professoras deixam o ambiente
menos hostil, o que torna os índices de abandono do tratamento cada vez menores."
Apesar de o programa Classes Hospitalares ser conduzido
por profissionais estaduais,
também podem ter aulas alunos das redes municipal e particular. A programação das lições é fornecida pela escola do
paciente -ele não perde o vínculo com sua instituição de origem. Assim, quando o tratamento médico acabar, ele poderá voltar à escola na série
adequada para a sua idade.
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