|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Casal gay obtém guarda provisória de 4 irmãos em Ribeirão Preto
Pais estão juntos há 15 anos; processo deve culminar em adoção, afirma juiz
JUCIMARA DE PAUDA
DA FOLHA RIBEIRÃO
Um casal de homossexuais
de classe média de Ribeirão
Preto (314 km de SP) obteve na
Justiça a guarda provisória de
quatro irmãos -três meninas e
um menino. A criança menor
tem 3 anos e a maior, 10.
Os cabeleireiros João, 34, e
Paulo, 40, estão juntos há 15
anos. O processo, que deve culminar na adoção das crianças,
corre em segredo de Justiça. Os
quatro irmãos de Ribeirão são
filhos de uma dependente de
drogas, que perdeu a guarda.
Eles estavam em um abrigo de
menores. As crianças passaram
o primeiro Natal na casa dos
pais adotivos e duas das meninas tiveram sua primeira festa
de aniversário neste ano.
João e Paulo, que já criaram
dois filhos naturais de Paulo,
disseram que a adoção melhorou o relacionamento deles.
"Completou a nossa família. É
como se tivessem feito DNA de
alma, de tanto amor que tem
entre a gente", disse João. A decisão de adotar foi tomada após
os filhos de Paulo ficarem adultos e saírem de casa -a menina
casou e o rapaz foi morar com a
mãe. "Eu queria que alguém me
chamasse de pai e para isso não
precisava ser meu filho biológico. Quando começaram a mostrar que casal de homossexuais
estava adotando fiquei desesperado porque eu poderia realizar meu sonho", afirmou João.
O casal queria duas crianças.
Foi, então, chamado ao Fórum
pelo juiz, que lhes falou sobre
os quatro irmãos à espera de
adoção. "Então, eu pensei:
quem cuida de dois, três pode
cuidar de quatro", disse Paulo.
Para receber as crianças em
casa, a primeira providência do
casal foi comprar um carro
maior para as quatro sentarem
no banco de trás. Uma babá que
tem disponibilidade para ficar
o dia inteiro na chácara em que
o casal mora foi contratada para cuidar dos irmãos.
Segundo o casal, a experiência está valendo a pena, apesar
das mudanças provocadas na
rotina diária. "Estamos muito
felizes, principalmente porque
a mais velha nos disse que o sonho dela era ter amor e uma família e que isto ela conseguiu
agora", afirmou João.
Os irmãos chamam os dois de
pai e na comemoração do Dia
das Mães, amanhã, quem vai
receber um presente é a babá.
"Ela merece porque ajuda
muito a gente. Deus colocou tudo na hora certa na nossa vida",
afirmou Paulo.
Provável adoção
O juiz Paulo César Gentile,
da Vara da Infância e Juventude de Ribeirão Preto, disse que
a tendência é que a guarda provisória dos quatro irmãos dada
ao casal de homossexuais em
dezembro do ano passado evolua para a adoção.
"Sabemos que as crianças estão felizes e tudo corre em harmonia", disse o juiz.
A guarda provisória é feita
inicialmente para regularizar a
convivência entre a família que
acolhe e as crianças e não cria
vínculo de parentesco. Ele afirmou que, desde que o casal candidato tenha condição financeira de cuidar das crianças, o
juiz não avalia se eles são homossexuais ou heterossexuais.
"Qualquer acolhimento sob
forma de guarda, adoção ou tutela é um gesto de fraternidade.
A lei determina que quem vai
acolher a criança ou adolescente tem que ter condições adequadas e aptidão para isto e
qualquer consideração que
passe pela opção sexual da pessoa é preconceito."
Texto Anterior: Morre aos 67 anos o jornalista Murilo Felisberto Próximo Texto: Estragos: Chuva e vento forte destelham prédio e ferem seis em salvador Índice
|