São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Com trabalhos ainda na parede, escola se torna bunker da polícia

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Uma escola pública desativada tornou-se bunker da polícia no parque Proletário, zona norte do Rio. Ainda são vistos trabalhos infantis pregados nas paredes das salas de aula do Ciep Brandão Monteiro, volta e meia ocupadas por policiais que, das janelas, têm visão panorâmica do complexo da Penha. Neste, de acordo com o delegado Roberto Sá, por conta da geografia, a segurança pública leva vantagem logística nas operações. "As condições são mais favoráveis ao confronto direto", constata o policial.
Antes mesmo de a polícia entrar na favela, o confronto direto faz suas vítimas ainda no asfalto. No último 11 de abril, o aposentado João Lindolfo Correia Filho, 63, morador de apartamento na avenida Nossa Senhora da Penha, um dos principais acessos ao complexo da Penha, acabara de tirar do meio da rua a Kombi com que trabalhava quando um tiro causou uma fratura em sua clavícula.
"Comprei imóvel aqui porque era o que podia pagar há seis anos, R$ 35 mil. Agora, não vale mais nada. O lugar se tornou intransponível", diz João, sem coragem de por o pé na rua ao menor sinal da polícia.
"Esse governador [Sérgio Cabral] declarou que mulheres pobres eram parideiras da marginalidade, e não é verdade. Moços estão no tráfico por não encontrar respaldo moral para outro caminho", diz a mulher de João, Miriam Avelino, 59.
São bem visíveis os sinais do confronto direto entre bandidos e polícia. Por exemplo, os escombros de uma casa destruída pelo fogo da explosão de uma moto atingida por um tiro. O incêndio, em janeiro, progrediu rápido na casa do biscateiro Elpídio Nascimento Filho, 63. "Durmo cada noite na casa de um filho. Não tenho mais casa."
Barricadas destruídas pela polícia são reconstruídas nas vias largas que cortam as favelas do complexo, da noite para o dia, com pedras e dormentes de trilho férreo, pela quadrilha, que é considerada mais vulnerável à polícia do que a que controla o complexo do Alemão.
Com as barricadas, os traficantes tentam impedir o acesso do blindado Caveirão aos seus esconderijos e pontos de venda de drogas. "Barricadas existiam e ainda existem um ano depois. É que o Rio não é só a Penha. Não temos como pôr um batalhão inteiro permanentemente nessas comunidades", explica o delegado Sá, que é subsecretário de Planejamento Operacional de Segurança Pública.
No vizinho Alemão, de acordo com Sá, a topografia é mais complicada, a densidade demográfica mais alta e o predomínio de vielas estreitas forma um intrincado labirinto.


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