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Com trabalhos ainda na parede, escola se torna bunker da polícia
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Uma escola pública desativada tornou-se bunker da polícia
no parque Proletário, zona norte do Rio. Ainda são vistos trabalhos infantis pregados nas
paredes das salas de aula do
Ciep Brandão Monteiro, volta e
meia ocupadas por policiais
que, das janelas, têm visão panorâmica do complexo da Penha. Neste, de acordo com o delegado Roberto Sá, por conta da
geografia, a segurança pública
leva vantagem logística nas
operações. "As condições são
mais favoráveis ao confronto
direto", constata o policial.
Antes mesmo de a polícia entrar na favela, o confronto direto faz suas vítimas ainda no asfalto. No último 11 de abril, o
aposentado João Lindolfo Correia Filho, 63, morador de apartamento na avenida Nossa Senhora da Penha, um dos principais acessos ao complexo da
Penha, acabara de tirar do meio
da rua a Kombi com que trabalhava quando um tiro causou
uma fratura em sua clavícula.
"Comprei imóvel aqui porque era o que podia pagar há
seis anos, R$ 35 mil. Agora, não
vale mais nada. O lugar se tornou intransponível", diz João,
sem coragem de por o pé na rua
ao menor sinal da polícia.
"Esse governador [Sérgio Cabral] declarou que mulheres
pobres eram parideiras da marginalidade, e não é verdade.
Moços estão no tráfico por não
encontrar respaldo moral para
outro caminho", diz a mulher
de João, Miriam Avelino, 59.
São bem visíveis os sinais do
confronto direto entre bandidos e polícia. Por exemplo, os
escombros de uma casa destruída pelo fogo da explosão de
uma moto atingida por um tiro.
O incêndio, em janeiro, progrediu rápido na casa do biscateiro
Elpídio Nascimento Filho, 63.
"Durmo cada noite na casa de
um filho. Não tenho mais casa."
Barricadas destruídas pela
polícia são reconstruídas nas
vias largas que cortam as favelas do complexo, da noite para o
dia, com pedras e dormentes de
trilho férreo, pela quadrilha,
que é considerada mais vulnerável à polícia do que a que controla o complexo do Alemão.
Com as barricadas, os traficantes tentam impedir o acesso
do blindado Caveirão aos seus
esconderijos e pontos de venda
de drogas. "Barricadas existiam
e ainda existem um ano depois.
É que o Rio não é só a Penha.
Não temos como pôr um batalhão inteiro permanentemente
nessas comunidades", explica o
delegado Sá, que é subsecretário de Planejamento Operacional de Segurança Pública.
No vizinho Alemão, de acordo com Sá, a topografia é mais
complicada, a densidade demográfica mais alta e o predomínio de vielas estreitas forma
um intrincado labirinto.
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