São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

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Onda de violência espalha medo no Jaçanã

Assassinatos em série dos últimos dias calam moradores de bairro da zona norte; desde sábado, 10 pessoas foram mortas

Entre as vítimas, um policial civil que investigava a morte do irmão e um PM morto em uma emboscada; jovem é assassinado a tiros em praça

Rogério Lacanna/Folha Imagem
Policial civil observa corpos de moradores de rua assassinados sob o viaduto Vila Galvão, no Jaçanã, na madrugada de ontem

ANDRÉ CARAMANTE
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Considerada pela polícia uma área infestada por pontos de tráfico de drogas, todos dominados pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), o Jaçanã, na zona norte de São Paulo, enfrenta uma onda de violência há 16 dias.
Os assassinatos dos últimos dias têm espalhado o medo entre os moradores, que adotaram a mais comum das regras a quem vive em locais marcados pela violência, principalmente aquela imposta por grupos organizados: a lei do silêncio.
O clima era esse -de medo- ontem no conjunto habitacional Cingapura, onde vivia Manoel do Nascimento Júnior, 29, uma das vítimas da chacina na madrugada. Na rua, moradores discutiam o fato, mas a maioria se recusou a dar entrevistas.
Quem falou pediu anonimato por temer "represálias". Disseram que conheciam Nascimento Júnior, que ele trabalhava em fábrica de reciclagem e não tinha relação com moradores de rua. "Não falo mais porque não sei o que pode nos acontecer", disse uma moradora.
Na Favelinha das Torres, outra moradora disse que ouviu os tiros dados debaixo do viaduto. "Apaguei tudo e fui dormir. Dá medo, mas a gente até se acostuma com os tiros aqui."

Mortes em série
A onda de violência começou em 27 de abril, quando um rapaz de 22 anos foi baleado três vezes em uma praça. A polícia investiga se o atentado foi cometido por três policiais militares da Força Tática (espécie de tropa de elite) do 5º Batalhão.
O rapaz era suspeito de ter roubado dois telefones celulares. Ele foi baleado a cerca de 40 metros de uma base da PM.
No último sábado, o policial civil Carlos Vagner Souza de Oliveira, 35, que trabalhava na Corregedoria, foi morto com seis tiros. Ele investigava a morte do irmão, há dois meses.
Um dia depois, outro policial, o sargento da PM Máximo Bezerra da Silva Neto, 39, foi assassinado com 12 tiros depois de quatro criminosos baterem propositalmente em seu carro.
Também no sábado, um morador de rua foi morto a tiros. Na segunda-feira, PMs encontraram uma menina de 14 anos morta em um terreno. Ela teve as pernas mutiladas. A polícia investiga se ela estava grávida.
Pesquisa realizada pelo Datafolha em 2008 em 96 distritos apontou que o risco de violência no Jaçanã era o maior da cidade -34% disseram ter vivido no último ano algum episódio violento, mas apenas 26% se disseram muito inseguros nas ruas durante a noite.


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