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Onda de violência espalha medo no Jaçanã
Assassinatos em série dos últimos dias calam moradores de bairro da zona norte; desde sábado, 10 pessoas foram mortas
Entre as vítimas, um policial civil que investigava a morte do irmão e um PM morto em uma emboscada; jovem é assassinado a tiros em praça
Rogério Lacanna/Folha Imagem
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Policial civil observa corpos de moradores de rua assassinados sob o viaduto Vila Galvão, no Jaçanã, na madrugada de ontem
ANDRÉ CARAMANTE
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Considerada pela polícia
uma área infestada por pontos
de tráfico de drogas, todos dominados pela facção criminosa
PCC (Primeiro Comando da
Capital), o Jaçanã, na zona norte de São Paulo, enfrenta uma
onda de violência há 16 dias.
Os assassinatos dos últimos
dias têm espalhado o medo entre os moradores, que adotaram a mais comum das regras a
quem vive em locais marcados
pela violência, principalmente
aquela imposta por grupos organizados: a lei do silêncio.
O clima era esse -de medo-
ontem no conjunto habitacional Cingapura, onde vivia Manoel do Nascimento Júnior, 29,
uma das vítimas da chacina na
madrugada. Na rua, moradores
discutiam o fato, mas a maioria
se recusou a dar entrevistas.
Quem falou pediu anonimato
por temer "represálias". Disseram que conheciam Nascimento Júnior, que ele trabalhava
em fábrica de reciclagem e não
tinha relação com moradores
de rua. "Não falo mais porque
não sei o que pode nos acontecer", disse uma moradora.
Na Favelinha das Torres, outra moradora disse que ouviu
os tiros dados debaixo do viaduto. "Apaguei tudo e fui dormir. Dá medo, mas a gente até
se acostuma com os tiros aqui."
Mortes em série
A onda de violência começou
em 27 de abril, quando um rapaz de 22 anos foi baleado três
vezes em uma praça. A polícia
investiga se o atentado foi cometido por três policiais militares da Força Tática (espécie de
tropa de elite) do 5º Batalhão.
O rapaz era suspeito de ter
roubado dois telefones celulares. Ele foi baleado a cerca de
40 metros de uma base da PM.
No último sábado, o policial
civil Carlos Vagner Souza de
Oliveira, 35, que trabalhava na
Corregedoria, foi morto com
seis tiros. Ele investigava a
morte do irmão, há dois meses.
Um dia depois, outro policial,
o sargento da PM Máximo Bezerra da Silva Neto, 39, foi assassinado com 12 tiros depois
de quatro criminosos baterem
propositalmente em seu carro.
Também no sábado, um morador de rua foi morto a tiros.
Na segunda-feira, PMs encontraram uma menina de 14 anos
morta em um terreno. Ela teve
as pernas mutiladas. A polícia
investiga se ela estava grávida.
Pesquisa realizada pelo Datafolha em 2008 em 96 distritos
apontou que o risco de violência no Jaçanã era o maior da cidade -34% disseram ter vivido
no último ano algum episódio
violento, mas apenas 26% se
disseram muito inseguros nas
ruas durante a noite.
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