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OPINIÃO
Risco maior é a expulsão dos pobres
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
HÁ dois riscos, pelo menos, ao se entregar uma
região com a densidade
histórica e a concentração de pobreza da Luz para um grupo privado tentar recuperá-lo:
1) os pobres podem ser expulsos porque não terão recursos para viver numa área cujos
preços tendem a subir; 2) a arquitetura do final do século 19 e
do início do século 20 pode virar uma Disneylândia, um mero confeito de bolo, exatamente
como ocorreu com o Pelourinho, em Salvador.
Isso pode ocorrer porque o
mercado busca sempre o que é
melhor para os donos do dinheiro. E porque a Prefeitura
de São Paulo tem sido omissa
sobre o ponto mais delicado de
qualquer recuperação urbana:
o que fazer para manter no local a população original, ou parte dessa população?
As cidades europeias, Barcelona à frente, mostraram que é
preciso subsidiar o aluguel dos
mais pobres.
Em São Paulo, o edital de
concessão da Nova Luz é incrivelmente vago sobre esse ponto: diz apenas que será necessário ter "zonas especiais de interesse social", o nome orwelliano que inventaram para moradia dos pobres.
Sobre como fazer isso, não há
uma palavra no edital.
A solução é simples: basta a
prefeitura dizer que está disposta a pagar o aluguel para os
30% mais pobres, por exemplo.
Você pode perguntar: mas
para que manter a população
local? Há pelo menos duas razões básicas: ela faz parte da
história do local, dá a cor e o sabor daquela área, e tem seus laços de sobrevivência vinculados àquele espaço.
Outro problema é o fato de
uma das ganhadoras da concessão, a Aecom, não ter experiência com cidades pobres. A empresa só ajudou a recuperar cidades ricas, como San Francisco e Manchester.
Pode-se alegar, com total razão, que pobre é pobre em qualquer lugar do mundo. A diferença é o poder público que vai
fazer a concessão urbana.
São Paulo não tem, nem em
seus sonhos de verão, uma prefeitura como as de San Francisco ou Manchester.
Sob a gestão Serra/Kassab, o
princípio básico de manter a
população onde ela sobrevive
não foi respeitado. Vide as tentativas de Kassab de expulsar
os moradores de rua do centro
para a periferia.
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