São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

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OPINIÃO

Risco maior é a expulsão dos pobres

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

HÁ dois riscos, pelo menos, ao se entregar uma região com a densidade histórica e a concentração de pobreza da Luz para um grupo privado tentar recuperá-lo:
1) os pobres podem ser expulsos porque não terão recursos para viver numa área cujos preços tendem a subir; 2) a arquitetura do final do século 19 e do início do século 20 pode virar uma Disneylândia, um mero confeito de bolo, exatamente como ocorreu com o Pelourinho, em Salvador.
Isso pode ocorrer porque o mercado busca sempre o que é melhor para os donos do dinheiro. E porque a Prefeitura de São Paulo tem sido omissa sobre o ponto mais delicado de qualquer recuperação urbana: o que fazer para manter no local a população original, ou parte dessa população?
As cidades europeias, Barcelona à frente, mostraram que é preciso subsidiar o aluguel dos mais pobres.
Em São Paulo, o edital de concessão da Nova Luz é incrivelmente vago sobre esse ponto: diz apenas que será necessário ter "zonas especiais de interesse social", o nome orwelliano que inventaram para moradia dos pobres.
Sobre como fazer isso, não há uma palavra no edital.
A solução é simples: basta a prefeitura dizer que está disposta a pagar o aluguel para os 30% mais pobres, por exemplo.
Você pode perguntar: mas para que manter a população local? Há pelo menos duas razões básicas: ela faz parte da história do local, dá a cor e o sabor daquela área, e tem seus laços de sobrevivência vinculados àquele espaço.
Outro problema é o fato de uma das ganhadoras da concessão, a Aecom, não ter experiência com cidades pobres. A empresa só ajudou a recuperar cidades ricas, como San Francisco e Manchester.
Pode-se alegar, com total razão, que pobre é pobre em qualquer lugar do mundo. A diferença é o poder público que vai fazer a concessão urbana.
São Paulo não tem, nem em seus sonhos de verão, uma prefeitura como as de San Francisco ou Manchester.
Sob a gestão Serra/Kassab, o princípio básico de manter a população onde ela sobrevive não foi respeitado. Vide as tentativas de Kassab de expulsar os moradores de rua do centro para a periferia.


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