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SAÚDE
Pesquisa mostra que estudantes da universidade reduziram uso de álcool e cocaína, mas aumentaram o de maconha e de ecstasy
Na USP, consumo de drogas "estaciona"
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O consumo de drogas e álcool
entre alunos do campus da USP
de São Paulo não cresceu como
temiam os especialistas. E, em alguns casos, chegou até a cair.
Os dados aparecem em uma
pesquisa com 2.837 estudantes divulgada ontem, traçando uma
comparação com outra realizada
em 1996 com 2.564 alunos do
mesmo campus.
Entre as sete drogas mais citadas, em quatro delas o número
daqueles que relataram consumo
no último mês diminuiu: o álcool
caiu de 74,1% para 70,4%; o cigarro, de 23,5% para 20,16%; os tranquilizantes, de 3% para 2,3%, e a
cocaína, de 1,7% para 1,2%.
Na comparação, aumentou o
número de consumidores de maconha -de 14,9% para 16,9%-,
de inalantes, de 4,1% para 6,5%, e
de anfetaminas, de 2,2% para
3,4%. No caso da maconha, o aumento foi de cerca de 10% em cinco anos. Nas anfetaminas, o crescimento se deveu ao aparecimento do ecstasy, que na pesquisa de
1996 nem aparecia.
"O esperado era que o uso frequente [no mês] aumentasse para
todas as drogas, num período de
cinco anos, mas isso só ocorreu
com três", diz Arthur Guerra de
Andrade, presidente do Grea
(Grupo de Estudos de Álcool e
Drogas) do Hospital das Clínicas
e orientador do estudo.
"Posso estar sendo romântico
ou ingênuo, mas o estudo indica
que as drogas podem estariam
perdendo o glamour entre os universitários."
Quando foi questionado o uso
de droga na vida (se já experimentou alguma vez), apareceu
um crescimento pequeno em todas as drogas, observa Vladimir
de Andrade Stempliuk, que coordenou a pesquisa.
Esse fato reforça a tese de que a
maioria dos que experimentaram
ou fazem uso frequente da droga
adquiriram esse hábito antes da
entrada na universidade.
A estabilização e mesmo um
possível declínio do uso entre estudantes não reduziram a preocupação, disseram os pesquisadores. Quando se compara o estudo
de 2001 com outro feito no ano
passado com a população geral de
107 cidades com mais de 200 mil
habitantes, os universitários ganham em todas as drogas.
Os estudantes bebem mais
(91,9% contra 68,7%), fumam
mais maconha (35,3% a 6,9%) e
consomem duas vezes mais cocaína e crack do que a população
em geral.
É preciso lembrar que menos de
seis universitários experimentaram cocaína uma vez na vida. Mas
quase todos (92%) já tomaram
um drinque ou uma cerveja.
"Os universitários preocupam
porque, além de usarem mais, são
referência para os outros jovens",
afirma Andrade.
"A universidade não deve apenas formar bons doutores, tem de
formar cidadãos responsáveis e
sadios", acrescenta.
A pesquisa, que entrevistou
proporcionalmente estudantes
das três áreas de estudo, concluiu
que a maior prevalência de uso de
drogas está entre os alunos de humanas. Os alunos das biológicas
são os que mais bebem e usam
inalantes -para um estudante de
medicina ou de biologia, fica mais
fácil carregar para uma festa um
chumaço embebido em éter. Já os
alunos da área de exatas apresentaram menor uso em todas as
drogas.
O estudo permitirá aprimorar
políticas de prevenção que já vêm
sendo realizadas timidamente no
campus. Uma grande preocupação é com o consumo abusivo de
álcool, que pode gerar acidentes
graves, especialmente no trânsito.
"Trabalhamos com o conceito
de redução de riscos, não de abstinência total", afirma André Malbergier, também do Grea e responsável pelo programa de prevenção na USP.
Um programa de redução dos
riscos do álcool vem sendo realizado pelas várias universidades
federais paulistas. O projeto deve
durar três anos e pode ser estendido a escolas do segundo grau,
época em que os adolescentes começam a beber.
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