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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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SAÚDE

Pesquisa mostra que estudantes da universidade reduziram uso de álcool e cocaína, mas aumentaram o de maconha e de ecstasy

Na USP, consumo de drogas "estaciona"

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumo de drogas e álcool entre alunos do campus da USP de São Paulo não cresceu como temiam os especialistas. E, em alguns casos, chegou até a cair.
Os dados aparecem em uma pesquisa com 2.837 estudantes divulgada ontem, traçando uma comparação com outra realizada em 1996 com 2.564 alunos do mesmo campus.
Entre as sete drogas mais citadas, em quatro delas o número daqueles que relataram consumo no último mês diminuiu: o álcool caiu de 74,1% para 70,4%; o cigarro, de 23,5% para 20,16%; os tranquilizantes, de 3% para 2,3%, e a cocaína, de 1,7% para 1,2%.
Na comparação, aumentou o número de consumidores de maconha -de 14,9% para 16,9%-, de inalantes, de 4,1% para 6,5%, e de anfetaminas, de 2,2% para 3,4%. No caso da maconha, o aumento foi de cerca de 10% em cinco anos. Nas anfetaminas, o crescimento se deveu ao aparecimento do ecstasy, que na pesquisa de 1996 nem aparecia.
"O esperado era que o uso frequente [no mês] aumentasse para todas as drogas, num período de cinco anos, mas isso só ocorreu com três", diz Arthur Guerra de Andrade, presidente do Grea (Grupo de Estudos de Álcool e Drogas) do Hospital das Clínicas e orientador do estudo.
"Posso estar sendo romântico ou ingênuo, mas o estudo indica que as drogas podem estariam perdendo o glamour entre os universitários."
Quando foi questionado o uso de droga na vida (se já experimentou alguma vez), apareceu um crescimento pequeno em todas as drogas, observa Vladimir de Andrade Stempliuk, que coordenou a pesquisa.
Esse fato reforça a tese de que a maioria dos que experimentaram ou fazem uso frequente da droga adquiriram esse hábito antes da entrada na universidade.
A estabilização e mesmo um possível declínio do uso entre estudantes não reduziram a preocupação, disseram os pesquisadores. Quando se compara o estudo de 2001 com outro feito no ano passado com a população geral de 107 cidades com mais de 200 mil habitantes, os universitários ganham em todas as drogas.
Os estudantes bebem mais (91,9% contra 68,7%), fumam mais maconha (35,3% a 6,9%) e consomem duas vezes mais cocaína e crack do que a população em geral.
É preciso lembrar que menos de seis universitários experimentaram cocaína uma vez na vida. Mas quase todos (92%) já tomaram um drinque ou uma cerveja.
"Os universitários preocupam porque, além de usarem mais, são referência para os outros jovens", afirma Andrade.
"A universidade não deve apenas formar bons doutores, tem de formar cidadãos responsáveis e sadios", acrescenta.
A pesquisa, que entrevistou proporcionalmente estudantes das três áreas de estudo, concluiu que a maior prevalência de uso de drogas está entre os alunos de humanas. Os alunos das biológicas são os que mais bebem e usam inalantes -para um estudante de medicina ou de biologia, fica mais fácil carregar para uma festa um chumaço embebido em éter. Já os alunos da área de exatas apresentaram menor uso em todas as drogas.
O estudo permitirá aprimorar políticas de prevenção que já vêm sendo realizadas timidamente no campus. Uma grande preocupação é com o consumo abusivo de álcool, que pode gerar acidentes graves, especialmente no trânsito.
"Trabalhamos com o conceito de redução de riscos, não de abstinência total", afirma André Malbergier, também do Grea e responsável pelo programa de prevenção na USP.
Um programa de redução dos riscos do álcool vem sendo realizado pelas várias universidades federais paulistas. O projeto deve durar três anos e pode ser estendido a escolas do segundo grau, época em que os adolescentes começam a beber.


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