São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2006

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Furto ao BC financiou os atentados em SP

Tuno de Vieira - 8.ago.2005/"Diário do Nordeste"
Policiais examinam o buraco de acesso ao túnel cavado pelos ladrões para chegar ao cofre da agência do Banco Central em Fortaleza


Cerca de R$ 50 milhões dos R$ 164,8 milhões levados no Ceará em 2005 foram para os cofres do PCC, segundo a polícia

A facção tem algum tipo de participação em pelo menos 20% dos roubos de valores e de cargas praticados no país, aponta a Polícia Federal


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O PCC (Primeiro Comando da Capital) comanda ou tem envolvimento direto ou indireto em pelo menos 20% do roubos de valores e de carga no país, segundo balanço feito pela Polícia Federal com base em 50 operações desde 2004.
A investida mais rentável que teve a participação da facção criminosa, segundo a PF, foi o furto à unidade do Banco Central em Fortaleza (CE), em agosto de 2005. Dos R$ 164,8 milhões furtados, cerca de R$ 50 milhões teriam ido para os cofres do PCC.
O delegado da PF Antônio Celso dos Santos diz que parte do dinheiro financiou as rebeliões e os ataques comandados pelo PCC há um mês. Outra parcela, de R$ 300 mil, custeou o assalto frustrado a uma agência do ABN Amro Bank no Paraguai, em fevereiro.
A presença do PCC nas investidas contra o BC e o ABN produziu ações semelhantes em ambos os casos. A busca às caixas-fortes das instituições financeiras foi feita por meio de túneis. Houve aluguel de imóvel próximo aos bancos, para ser usado como fachada e encobrir a retirada do entulho.
As equipes de trabalho dos criminosos eram grandes: cerca de 20 no Paraguai e 20 em Fortaleza. Uma investigação da Polícia Federal identificou a participação de sete integrantes do PCC em cada uma das operações criminosas.
Desde o final dos anos 90, o PCC tem buscado ações que lhe rendam capital intensivo. Requerem menos violência -o que significa menos investimento em armas- e rendem mais dinheiro de uma só vez. Daí ter como alvos preferenciais transporte de valores, caixas-fortes de bancos ou empresas transportadoras de valores e também o roubo de cargas.
Para o delegado Santos, o PCC passou a buscar carros e caixas-fortes porque se tornou mais difícil assaltar agências bancárias, que reforçaram a segurança e reduziram o volume de moeda em suas unidades.
Os veículos podem ser rendidos com um número menor de assaltantes. Quanto aos túneis, requerem um investimento maior dos criminosos, mas são mais seguros e reduzem a quantidade de armamento necessário por ação. "O crime do futuro é para tatu", diz Santos, que também comanda a investigação do assalto ao Banco Central, em Fortaleza.
Para o roubo de carga vale o mesmo raciocínio do carro-forte: pouca gente para render no veículo, em geral em estradas desertas, e retorno -às vezes milionário- garantido.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, em 2005 foram 4.266 roubos de carga nas estradas que cortam o Estado; no primeiro trimestre deste ano, 1.061 -uma média diária de 12 assaltos.
Ainda conforme o delegado Santos, já na segunda metade dos anos 90 o PCC passou a concentrar o alvo de suas ações em cargas e valores. A estratégia se revelou eficiente tanto para financiar as ações da própria organização como para criar um ganho excedente.
O faturamento extraordinário permite ao PCC financiar a compra de armas, munição, sistema de comunicação, transferência de presos e transporte.
Ao precisar seus alvos, segundo a PF, o PCC elevou seus ganhos para R$ 1 milhão por mês. Isso possibilitou, inclusive, que a cobrança de uma contribuição mensal dos filiados do grupo (R$ 500 para quem está em liberdade e R$ 50 dos presos) diminuísse nos últimos três meses. A facção também passou a obter mais renda com o tráfico de drogas, diretamente ou indiretamente, pois o PCC, hoje, também recebe parte do lucro das bocas-de-fumo mais rentáveis do Estado.
Com a cifra, cresceu a complexidade da organização, que passou ainda, segundo a PF, a atuar no segmento de postos de gasolina e transporte clandestino em São Paulo -para lavar o dinheiro obtido nas investidas criminosas.


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