São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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ANÁLISE

Futuro depende mais de disciplina que de ambiente multilinguístico

JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Vamos por partes. Primeiro, existe um período mais favorável ao aprendizado de línguas estrangeiras. O aprendizado natural de uma ou mais línguas traz benefícios e não prejudica o desenvolvimento da linguagem.
No primeiro ano de vida, para efeito de ouvir e falar, as crianças aprendem a selecionar sons familiares e descartar os demais. Até o terceiro ano, adquirem a estrutura sintática própria de cada língua.
O uso frequente de duas ou mais línguas tem outros efeitos conhecidos, como maior capacidade de julgamento sintático -por exemplo, a criança bilíngue tem mais facilidade de distinguir o que é uma frase gramaticalmente correta, mas semanticamente incorreta, e vice-versa.
Há indícios de que usuários de duas línguas têm menos chance de ter Alzheimer.
Mas tudo isso se aplica à aprendizagem natural num contexto de uso frequente.
Segundo, o cérebro é extremamente plástico. É capaz de aprender línguas com alto nível de proficiência em outras fases de vida e mediante uso de métodos apropriados.
É um pouco mais difícil aprender nuanças como a linguagem figurada; são raros os poetas que escrevem numa segunda língua. Mas não há danos irrecuperáveis para quem não aprendeu uma segunda língua no berço.
Terceiro, vale a pena? É uma questão de custo benefício: para quem nasce em um ambiente multilinguístico, aprender duas ou mais línguas é uma benção. Aos demais, não é uma maldição.
Há várias outras coisas que a família pode fazer para assegurar um futuro promissor aos seus filhos. Há muitos outros circuitos cerebrais que podem ser reforçados com um ambiente estimulador.
Um ambiente sem tóxicos, com segurança, estabilidade, carinho, disciplina que leve à autorregulação e, sobretudo, ler e conversar muito com as crianças desde o berço.

JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA , psicólogo, é presidente do Instituto Alfa e Beto


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