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CRIME ORGANIZADO
Escutas revelam que facções criminosas planejaram se infiltrar em órgãos públicos para ter acesso a dados sigilosos
PCC tentou fraudar concurso para policial
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Gravações de conversas telefônicas feitas pela Polícia Civil do
Distrito Federal revelam que, com
a ajuda de integrantes de uma
quadrilha que fraudava concursos públicos no país, as facções
criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) planejaram infiltrar representantes em órgãos policiais e da Justiça para ter acesso a
dados privilegiados e sigilosos.
Responsável pela investigação,
o delegado Celso Ferro, da Delepat (Delegacias de Repressão a
Crimes contra o Patrimônio),
confirmou à Folha que há gravações que mostram conversas do
suposto líder da máfia dos concursos, o advogado e serventuário
da Justiça brasiliense Hélio Garcia
Ortiz, com integrantes das duas
facções presos em penitenciárias
do Rio e de São Paulo.
Os contatos teriam começado
há cerca de seis meses, segundo
Ferro. Preso em maio, Ortiz foi
solto no mês seguinte beneficiado
por um habeas corpus.
Ortiz, de acordo com a polícia
brasiliense, teria negociado com
líderes do CV e do PCC, dentre
outros crimes, a facilitação para
que seus representantes fossem
aprovados em concursos públicos. Entre as seleções que a quadrilha foi acusada de fraudar estão as de delegado da PF (Polícia
Federal) e a de agente penitenciário federal.
Todos soltos
A quadrilha da máfia dos concursos foi desbaratada em maio
deste ano, quando a Justiça do DF
autorizou a prisão de 92 pessoas
envolvidas. Entre os presos estavam policiais e funcionários do
Tribunal de Justiça. Como houve
mudança de competência para a
Justiça Federal, todos acabaram
soltos em junho.
O grupo é acusado de ter atuado
desde 1981 fraudando concursos e
vestibulares em vários Estados.
Mediante pagamento dos candidatos, Ortiz lhes forneceria o gabarito da prova e o tema da redação alguns dias antes do exame.
Ele também inscreveria professores ou pessoas treinadas nos
concursos para que fizessem as
provas. Elas saíam rapidamente
da sala do exame e, por meio eletrônico, passavam a resposta aos
outros candidatos.
Como os supostos integrantes
da quadrilha estão soltos, Ferro
afirmou não poder revelar o conteúdo das gravações. "Temos informações de que o grupo continuaria atuando", disse.
Por isso, o delegado não informou com quem do PCC e do CV a
quadrilha manteve contatos. A
polícia não divulgou também se o
grupo liderado por Ortiz já teria
colocado representantes das facções em órgãos públicos.
Estratégia
Os encarregados da investigação declararam que o elo entre a
máfia dos concursos e as organizações criminosas do tráfico de
drogas é uma mudança de estratégia do crime organizado para
ter acesso a informações privilegiadas dos órgãos oficiais.
Em vez de tentar subornar funcionários públicos e policiais, os
traficantes estariam tentando colocar representantes dentro do
serviço público ou estariam pagando cursos preparatórios para
que pessoas ligadas a eles tenham
condições de passar em concursos públicos.
Ferro afirmou que o grupo de
Ortiz também articulou com o
PCC e o CV crimes como desvio
de mercadorias contrabandeadas
e quebra de alienação de veículos.
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