São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2006

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Alunos da rede pública não têm melhores notas na USP

Universitários com origem no ensino público e privado têm desempenho similar

Já pesquisa da Unicamp, que mostra melhor performance de oriundos da rede pública, é usada por quem defende adoção de ações afirmativas


LAURA CAPRIGLIONE
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Defensores da adoção de programas de ação afirmativa nas universidades, visando beneficiar estudantes oriundos de escolas públicas, costumam brandir um estudo feito pela Unicamp em 2004. Parecia que o que era verdade para a Unicamp podia ser extrapolado para outras universidades. Um novo estudo, feito na USP e que começou a ser divulgado ontem, mostrou que não pode.
Segundo a Unicamp, estudantes que fizeram o ensino médio na rede pública tiveram notas médias na universidade 4% maiores do que os que cursaram escolas privadas, considerando desempenhos semelhantes no vestibular.
O novo estudo foi feito, a partir de dados da USP, pelos professores Adilson Simonis e Eunice Durhan, do Nupps, Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas, da própria universidade.
Os dois docentes confrontaram as notas obtidas no vestibular da USP com a performance acadêmica durante o curso superior, entre 2003 e 2005, em cinco cursos (direito, letras, matemática, medicina e pedagogia). E provaram que 97% dos estudantes com notas semelhantes no vestibular tiveram performance acadêmica também semelhantes -independentemente de o ensino médio ter ocorrido em escola pública ou privada.
Um exemplo: em medicina, a nota média na graduação dos alunos provenientes de escolas pagas foi 7,3. Os alunos que cursaram escolas públicas tiveram nota média igual a 7,2.
"Não existem diferenças estatisticamente significativas entre o desempenho dos alunos egressos do sistema público e privado", escreveram os professores Simonis e Durhan (o texto será publicado hoje no blog http://mesaredon da2.blogspot.com). Ou seja: o salto de 4%, dado pelo aluno da escola pública ao entrar na Unicamp, não se verifica para os que ingressaram na USP.

Exemplo da Unicamp
O estudo de 2004 da Unicamp tem servido para comprovar que "dar uma forcinha" para aumentar o número de alunos provenientes de escolas públicas não compromete o nível do ensino e a excelência acadêmica. Ao contrário.
O professor Leandro R. Tessler, coordenador do vestibular da Unicamp, por exemplo, diz que a ação afirmativa "mostrou que é possível ter programas de inclusão social sem perder a qualidade dos alunos".
O mecanismo de ação afirmativa da Unicamp funciona há dois anos e consiste em conceder 30 pontos na nota do vestibular para os alunos da rede pública, o que representa entre 4,5% e 9% da nota. Com o benefício, houve um acréscimo de 16% no ingresso desses alunos.
Inspirada na experiência da Unicamp, a USP aprovou em maio um programa de ação afirmativa pelo qual as notas da primeira e segunda fases da Fuvest receberão um bônus de 3%, se o aluno tiver cursado todo o ensino médio em escola pública. Com isso, a USP espera que o número de alunos de escola pública convocados suba dos atuais 23,6% para 30%.
"Todos mencionam o estudo da Unicamp para comprovar a justeza dos programas de ação afirmativa. Eu quis checar se isso era verdadeiro para o caso da USP. E não é", diz Simonis.


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