|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Alunos da rede pública não têm melhores notas na USP
Universitários com origem no ensino público e privado têm desempenho similar
Já pesquisa da Unicamp, que mostra melhor performance de oriundos da rede pública, é usada por quem defende adoção de ações afirmativas
LAURA CAPRIGLIONE
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Defensores da adoção de programas de ação afirmativa nas
universidades, visando beneficiar estudantes oriundos de escolas públicas, costumam
brandir um estudo feito pela
Unicamp em 2004. Parecia que
o que era verdade para a Unicamp podia ser extrapolado para outras universidades. Um
novo estudo, feito na USP e que
começou a ser divulgado ontem, mostrou que não pode.
Segundo a Unicamp, estudantes que fizeram o ensino
médio na rede pública tiveram
notas médias na universidade
4% maiores do que os que cursaram escolas privadas, considerando desempenhos semelhantes no vestibular.
O novo estudo foi feito, a partir de dados da USP, pelos professores Adilson Simonis e Eunice Durhan, do Nupps, Núcleo
de Pesquisa de Políticas Públicas, da própria universidade.
Os dois docentes confrontaram as notas obtidas no vestibular da USP com a performance acadêmica durante o curso
superior, entre 2003 e 2005,
em cinco cursos (direito, letras,
matemática, medicina e pedagogia). E provaram que 97%
dos estudantes com notas semelhantes no vestibular tiveram performance acadêmica
também semelhantes -independentemente de o ensino
médio ter ocorrido em escola
pública ou privada.
Um exemplo: em medicina, a
nota média na graduação dos
alunos provenientes de escolas
pagas foi 7,3. Os alunos que cursaram escolas públicas tiveram
nota média igual a 7,2.
"Não existem diferenças estatisticamente significativas
entre o desempenho dos alunos
egressos do sistema público e
privado", escreveram os professores Simonis e Durhan (o
texto será publicado hoje no
blog http://mesaredon
da2.blogspot.com). Ou seja: o
salto de 4%, dado pelo aluno da
escola pública ao entrar na
Unicamp, não se verifica para
os que ingressaram na USP.
Exemplo da Unicamp
O estudo de 2004 da Unicamp tem servido para comprovar que "dar uma forcinha"
para aumentar o número de
alunos provenientes de escolas
públicas não compromete o nível do ensino e a excelência acadêmica. Ao contrário.
O professor Leandro R. Tessler, coordenador do vestibular
da Unicamp, por exemplo, diz
que a ação afirmativa "mostrou
que é possível ter programas de
inclusão social sem perder a
qualidade dos alunos".
O mecanismo de ação afirmativa da Unicamp funciona
há dois anos e consiste em conceder 30 pontos na nota do vestibular para os alunos da rede
pública, o que representa entre
4,5% e 9% da nota. Com o benefício, houve um acréscimo de
16% no ingresso desses alunos.
Inspirada na experiência da
Unicamp, a USP aprovou em
maio um programa de ação
afirmativa pelo qual as notas da
primeira e segunda fases da Fuvest receberão um bônus de
3%, se o aluno tiver cursado todo o ensino médio em escola
pública. Com isso, a USP espera
que o número de alunos de escola pública convocados suba
dos atuais 23,6% para 30%.
"Todos mencionam o estudo
da Unicamp para comprovar a
justeza dos programas de ação
afirmativa. Eu quis checar se isso era verdadeiro para o caso da
USP. E não é", diz Simonis.
Texto Anterior: Saúde: Regulamentada parceria com órgãos privados Próximo Texto: Vestibular: Questão da Unesp poderá ser anulada Índice
|