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Traficante diz que só foi preso devido à ajuda dos EUA
O colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, preso em SP, respondeu a questionário
Nas respostas dadas por escrito, ele reconhece que juntou uma fortuna de
US$ 1,8 bilhão por suas atividades no narcotráfico
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O colombiano Juan Carlos
Ramírez Abadía, 44, diz em entrevista à Folha que a Polícia
Federal brasileira não teria
conseguido prendê-lo sem a
ajuda do DEA (Drug Enforcement Administration, a agência antidrogas dos EUA).
Considerado um dos maiores
traficantes do mundo pelo
DEA, acusado de ter enviado
mil toneladas de cocaína para
os EUA, Abadía foi preso na última terça-feira em um condomínio de luxo em Barueri, na
Grande São Paulo.
Ele fez a avaliação de que, sozinha, a PF não o teria prendido, em um questionário enviado a ele pela Folha por meio de
seu advogado, Sergio Alambert.
A Folha queria saber se ele
achava que seria preso sem a
ajuda da agência americana.
"Não. Tiveram ajuda do DEA
através de uma longa investigação", escreveu Abadía algemado, segundo seu advogado, na
cela em que divide com outras
duas pessoas na custódia da
PF, na zona oeste de São Paulo.
Desde que foi preso na última terça-feira, Abadía presta
depoimentos diários, sempre
com algemas. Há um número a
sustentar o temor da PF. Ele é
acusado de ter ordenado a
morte de 315 pessoas -300 na
Colômbia e 15 nos EUA. Na entrevista à Folha, ele diz que essas acusações são "lenda".
Se repudia a fama de violento, Abadía não nega que é o que
todo mundo diz que ele é -narcotraficante. Na entrevista, ele
reconhece que juntou uma fortuna de US$ 1,8 bilhão (pouco
mais de R$ 3,5 bilhões) por
meio do narcotráfico.
Nos depoimentos, o traficante nega que veio ao Brasil para
lavar dinheiro -uma das acusações que pesa contra ele,
além de formação de quadrilha
e uso de documentos falsos.
Abadía diz que fugiu da Colômbia em 2004 porque as autoridades daquele país não estavam cumprindo a sua parte num acordo de delação que fizera. Em 1996, ele foi condenado a 26 anos de prisão. Cumpriu uma parte e conseguiu a liberdade provisória, até decidir
fugir há três anos.
O traficante contou à PF que
escapou da Colômbia em um
veleiro. Levava US$ 4 milhões
em dinheiro vivo. Foi com esse
dinheiro que aportou em Fortaleza (CE). Lá, fretou um avião
e seguiu para o interior de São
Paulo. Nos depoimentos à PF,
disse que internou outros US$
5 milhões nos três anos em que
viveu em Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo,
Angra e Pouso Alegre -locais
onde comprou casas.
Tudo que Abadía quer, segundo seu advogado, é ser deportado para os EUA -onde há
contra ele acusações de tráfico
e de ter ordenado 15 mortes.
De acordo com seu defensor,
Ramírez (como é chamado por
ser seu sobrenome paterno) é
racional e muito inteligente. Só
chorou uma vez desde que foi
preso. Foi quando soube que
seria transferido para um presídio em Campo Grande (MS).
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