São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Traficante diz que só foi preso devido à ajuda dos EUA

O colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, preso em SP, respondeu a questionário

Nas respostas dadas por escrito, ele reconhece que juntou uma fortuna de US$ 1,8 bilhão por suas atividades no narcotráfico

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, 44, diz em entrevista à Folha que a Polícia Federal brasileira não teria conseguido prendê-lo sem a ajuda do DEA (Drug Enforcement Administration, a agência antidrogas dos EUA).
Considerado um dos maiores traficantes do mundo pelo DEA, acusado de ter enviado mil toneladas de cocaína para os EUA, Abadía foi preso na última terça-feira em um condomínio de luxo em Barueri, na Grande São Paulo.
Ele fez a avaliação de que, sozinha, a PF não o teria prendido, em um questionário enviado a ele pela Folha por meio de seu advogado, Sergio Alambert.
A Folha queria saber se ele achava que seria preso sem a ajuda da agência americana. "Não. Tiveram ajuda do DEA através de uma longa investigação", escreveu Abadía algemado, segundo seu advogado, na cela em que divide com outras duas pessoas na custódia da PF, na zona oeste de São Paulo.
Desde que foi preso na última terça-feira, Abadía presta depoimentos diários, sempre com algemas. Há um número a sustentar o temor da PF. Ele é acusado de ter ordenado a morte de 315 pessoas -300 na Colômbia e 15 nos EUA. Na entrevista à Folha, ele diz que essas acusações são "lenda".
Se repudia a fama de violento, Abadía não nega que é o que todo mundo diz que ele é -narcotraficante. Na entrevista, ele reconhece que juntou uma fortuna de US$ 1,8 bilhão (pouco mais de R$ 3,5 bilhões) por meio do narcotráfico.
Nos depoimentos, o traficante nega que veio ao Brasil para lavar dinheiro -uma das acusações que pesa contra ele, além de formação de quadrilha e uso de documentos falsos.
Abadía diz que fugiu da Colômbia em 2004 porque as autoridades daquele país não estavam cumprindo a sua parte num acordo de delação que fizera. Em 1996, ele foi condenado a 26 anos de prisão. Cumpriu uma parte e conseguiu a liberdade provisória, até decidir fugir há três anos.
O traficante contou à PF que escapou da Colômbia em um veleiro. Levava US$ 4 milhões em dinheiro vivo. Foi com esse dinheiro que aportou em Fortaleza (CE). Lá, fretou um avião e seguiu para o interior de São Paulo. Nos depoimentos à PF, disse que internou outros US$ 5 milhões nos três anos em que viveu em Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Angra e Pouso Alegre -locais onde comprou casas.
Tudo que Abadía quer, segundo seu advogado, é ser deportado para os EUA -onde há contra ele acusações de tráfico e de ter ordenado 15 mortes.
De acordo com seu defensor, Ramírez (como é chamado por ser seu sobrenome paterno) é racional e muito inteligente. Só chorou uma vez desde que foi preso. Foi quando soube que seria transferido para um presídio em Campo Grande (MS).


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