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Anuário revela a miséria das estatísticas policiais no Brasil
Publicação inédita reúne informações oficiais sobre crimes, investimentos e dados penitenciários, mas organizador admite que elas não são confiáveis
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os Estados brasileiros e o governo federal gastaram R$ 27
bilhões em segurança em 2005,
mas não é possível saber se o
volume de investimento foi alto ou baixo ou se a verba foi
bem ou mal aplicada. O motivo
é a qualidade "miserável" das
estatísticas policiais brasileiras, segundo o sociólogo Renato Sérgio de Lima, coordenador-geral do Fórum Brasileiro
de Segurança Pública.
Para jogar luz sobre essa miséria, a entidade lançou ontem
o primeiro "Anuário do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública", coletânea inédita de dados
sobre segurança. O fórum reúne pesquisadores e policiais.
O anuário reúne estatísticas
sobre crimes, investimentos e
dados penitenciários. A maior
parte dos dados foi enviada pelos Estados à Secretaria Nacional de Segurança Pública.
O problema é que quase tudo
que está no anuário é muito
pouco confiável, segundo Ignacio Cano, sociólogo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Quem tirar alguma conclusão dos dados pode falar
besteira. As estatísticas da polícia não são confiáveis. Fizemos
o anuário para deixar isso claro", diz Cano.
Os exemplos de dados inconsistentes ou inexistentes são
fartos na publicação:
* Sergipe não fez nenhuma
prisão por tráfico de drogas em
2005 e só foram registrados
quatro casos de posse ou uso de
entorpecentes;
* O governo de São Paulo não
informa o número de seqüestros relâmpagos, de mortes acidentais no trânsito, de acidentes de trânsito, de roubos a residências, de policiais mortos em
confronto e de civis mortos por
policiais, entre outros;
* Existe no país 1,4 preso por
vaga. A socióloga Julita Lemgruber escreve que esse dado
não faz sentido: "Quem já visitou prisões em diferentes Estados brasileiros e constatou os
altíssimos níveis de superpopulação na maior parte das unidades prisionais não pode aceitar que, no Brasil, exista apenas
1,4 preso por vaga".
* Não há consenso nem sobre
o número de homicídios ou
mortes por agressão no país.
Segundo o Ministério da Saúde,
foram 47.578 em 2005. Nas
contas das secretarias estaduais de Segurança, o número
cai para 40.975.
Sérgio de Lima diz que o mais
grave é que os dados estatísticos servem para balizar a distribuição de verbas do Fundo Nacional de Segurança. "Tomar
esses dados como verdadeiros
vai levar o governo a produzir
políticas erradas", diz.
Os secretários de Segurança,
reunidos no Colégio Nacional
dos Secretários de Segurança,
concordam que os dados que os
Estados produzem não têm
qualidade. "Os dados enviados
ao governo federal são falsos,
não refletem a realidade", diz
Luiz Fernando Delazari, presidente do colégio e secretário de
Segurança do Paraná.
Um workshop realizado pelo
Colégio Nacional de Secretários de Segurança com técnicos
de 20 Estados na semana passada concluiu que há erros primários no tratamento dos dados. "Cada Estado coleta os dados de uma maneira e a maioria
não envia as estatísticas da Polícia Militar", relata Delazari.
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