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Associação americana indica remédio para a pré-diabetes
Recomendação, que deve ser seguida por médicos brasileiros, é para os casos de alto risco
Ainda não há evidências
científicas de que tratamento
previna a doença; segundo
médico da entidade, primeira
recomendação é perder peso
CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A ROMA
Médicos especializados no
tratamento da diabetes criaram o primeiro consenso para o
tratamento de pessoas com resistência à insulina (também
conhecida por pré-diabetes).
O documento, elaborado pela
Associação Americana dos Endocrinologistas Clínicos, foi
discutido durante o congresso
de diabetes que acontece em
Roma (Itália). A publicação em
revistas científicas está prevista para o final do ano.
No Brasil, não há um consenso sobre o tratamento da pré-diabetes, mas a tendência é que
os médicos sigam as recomendações americanas, diz o endocrinologista Marcos Tambascia, da Unicamp, ex-presidente
da Sociedade Brasileira de Diabetes. A pré-diabetes é caracterizada por uma elevação no nível de glicose (glicemia em jejum entre 100 mg/dL e 125 mg/
dL ou com valores entre 140
mg/dL e 199 mg/dL duas horas
após uma sobrecarga de glicose), mas não o suficiente para
ser classificada como diabetes.
A principal polêmica está na
indicação de remédios para reduzir a glicemia. Ainda não há
evidências científicas de que isso vá prevenir a doença, até
porque, na diabetes tipo 2, a
principal causa é a obesidade.
Segundo Daniel Einhorn, vice-presidente da Associação
Americana de Endocrinologistas Clínicos, a primeira recomendação para os pré-diabeticos é a redução do peso entre
5% e 10%, exercícios de 30 a 60
minutos cinco dias por semana
e uma dieta pobre em gordura e
rica em fibras. Ele afirma que
os medicamentos (metformina
ou acarbose) devem ser indicados só aos pacientes de alto risco, ou seja, os que pioram a taxa
de glicemia ou que têm doença
cardiovascular já associada.
No Brasil, só a acarbose está
aprovada para o uso em pré-diabéticos (e também em diabéticos). A metformina é fornecida pelo SUS aos diabéticos.
O médico Amélio de Godoi
Matos, do Instituto Estadual de
Diabetes e Endocrinologia, da
PUC-Rio, diz que muitos pacientes desistem de usar a acarbose porque um dos efeitos colaterais são flatulências.
A metformina também está
associada a desconfortos gastrointestinais, como a diarréia.
Outra recomendação dos americanos é que os pré-diabéticos
façam testes anuais de tolerância à glicose e de microalbuminúria (que medem a quantidade de albumina na urina; a presença da substancia é o primeiro sinal de um dano no rim).
Exames de glicemia em jejum, hemoglobina glicada e lípides devem ser feitos a cada
seis meses, segundo o consenso. A avaliação deve levar em
conta o histórico familiar e a
diabetes gestacional.
Einhorn também enfatizou
que as metas de colesterol
(LDL abaixo de 100 mg/dL) e
de controle de pressão arterial
(130 por 80 mm/Hg) para o
pré-diabético devem ser as
mesmas adotadas para a pessoa
já com a doença manifestada.
"Estamos dizendo que, sim,
reconhecemos a pré-diabetes e
que é preciso olhar com atenção para ela. Certas drogas têm
o seu lugar se a dieta e o exercício não reduzirem os níveis de
açúcar no sangue", disse.
Na avaliação do médico Ruy
Lyra, presidente da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia, é preciso mais
evidências para afirmar se o
tratamento medicamentoso do
pré-diabético trará benefícios.
"Em geral, a resistência à insulina está ligada à obesidade.
Seria mais lógico reduzir o peso
porque, além da diabetes, estaremos prevenindo outros eventos cardiovasculares."
Para David Marrero, pesquisador da Universidade de Indiana (EUA), o consenso é só
um primeiro passo. "Os médicos precisam ajudar os pacientes a mudar o estilo de vida.
Muitos não sabem como fazer
isso e não oferecem ajuda."
A jornalista CLÁUDIA COLLUCCI viajou a Roma
com as despesas parcialmente pagas pelo laboratório Novo Nordisk
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