São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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Associação americana indica remédio para a pré-diabetes

Recomendação, que deve ser seguida por médicos brasileiros, é para os casos de alto risco

Ainda não há evidências científicas de que tratamento previna a doença; segundo médico da entidade, primeira recomendação é perder peso

CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A ROMA

Médicos especializados no tratamento da diabetes criaram o primeiro consenso para o tratamento de pessoas com resistência à insulina (também conhecida por pré-diabetes).
O documento, elaborado pela Associação Americana dos Endocrinologistas Clínicos, foi discutido durante o congresso de diabetes que acontece em Roma (Itália). A publicação em revistas científicas está prevista para o final do ano.
No Brasil, não há um consenso sobre o tratamento da pré-diabetes, mas a tendência é que os médicos sigam as recomendações americanas, diz o endocrinologista Marcos Tambascia, da Unicamp, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. A pré-diabetes é caracterizada por uma elevação no nível de glicose (glicemia em jejum entre 100 mg/dL e 125 mg/ dL ou com valores entre 140 mg/dL e 199 mg/dL duas horas após uma sobrecarga de glicose), mas não o suficiente para ser classificada como diabetes.
A principal polêmica está na indicação de remédios para reduzir a glicemia. Ainda não há evidências científicas de que isso vá prevenir a doença, até porque, na diabetes tipo 2, a principal causa é a obesidade.
Segundo Daniel Einhorn, vice-presidente da Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos, a primeira recomendação para os pré-diabeticos é a redução do peso entre 5% e 10%, exercícios de 30 a 60 minutos cinco dias por semana e uma dieta pobre em gordura e rica em fibras. Ele afirma que os medicamentos (metformina ou acarbose) devem ser indicados só aos pacientes de alto risco, ou seja, os que pioram a taxa de glicemia ou que têm doença cardiovascular já associada.
No Brasil, só a acarbose está aprovada para o uso em pré-diabéticos (e também em diabéticos). A metformina é fornecida pelo SUS aos diabéticos.
O médico Amélio de Godoi Matos, do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia, da PUC-Rio, diz que muitos pacientes desistem de usar a acarbose porque um dos efeitos colaterais são flatulências. A metformina também está associada a desconfortos gastrointestinais, como a diarréia.
Outra recomendação dos americanos é que os pré-diabéticos façam testes anuais de tolerância à glicose e de microalbuminúria (que medem a quantidade de albumina na urina; a presença da substancia é o primeiro sinal de um dano no rim).
Exames de glicemia em jejum, hemoglobina glicada e lípides devem ser feitos a cada seis meses, segundo o consenso. A avaliação deve levar em conta o histórico familiar e a diabetes gestacional.
Einhorn também enfatizou que as metas de colesterol (LDL abaixo de 100 mg/dL) e de controle de pressão arterial (130 por 80 mm/Hg) para o pré-diabético devem ser as mesmas adotadas para a pessoa já com a doença manifestada.
"Estamos dizendo que, sim, reconhecemos a pré-diabetes e que é preciso olhar com atenção para ela. Certas drogas têm o seu lugar se a dieta e o exercício não reduzirem os níveis de açúcar no sangue", disse.
Na avaliação do médico Ruy Lyra, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, é preciso mais evidências para afirmar se o tratamento medicamentoso do pré-diabético trará benefícios.
"Em geral, a resistência à insulina está ligada à obesidade.
Seria mais lógico reduzir o peso porque, além da diabetes, estaremos prevenindo outros eventos cardiovasculares."
Para David Marrero, pesquisador da Universidade de Indiana (EUA), o consenso é só um primeiro passo. "Os médicos precisam ajudar os pacientes a mudar o estilo de vida.
Muitos não sabem como fazer isso e não oferecem ajuda."


A jornalista CLÁUDIA COLLUCCI viajou a Roma com as despesas parcialmente pagas pelo laboratório Novo Nordisk


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