São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2010

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"Meu sofrimento não é público", diz avó de garoto

DA ENVIADA A ANHANDUÍ

Ela descobriu que a filha podia estar morta e que era avó por um programa de tevê. Fazia quase um ano que não falava com Eliza Samudio. A seguir, Sônia Moura comenta a tempestuosa relação com a filha e o crime.

Por que a senhora diz merecer a guarda de Bruninho? SÔNIA MOURA - O que faz a diferença é ter uma família. Aqui, ele está cercado de gente que o ama. Para ser um adulto estruturado é preciso ter formação familiar.

Como poderia dar isso a ele?
Sou melhor avó para o Bruninho do que fui mãe para a Eliza. Estou mais madura, paciente. Quando se é jovem, se age mais por impulso. Estou mais estruturada e tenho um companheiro maravilhoso que me apoia.

E se perder a guarda para o seu ex-marido?
Isso me tira o sono. Não quero culpar ninguém, mas se Eliza tivesse sido mais vigiada, os fatos não teriam acontecido como aconteceram. Ficar sem o Bruninho seria a morte. Mais uma [chora]. Só continuo de pé porque ele está comigo e me dá força para ir atrás de Justiça. Não quero que ele cresça e me diga: "Vó, mataram minha mãe e você não fez nada".

A senhora abandonou Eliza?
Não. Vou esclarecer isso no processo. Mãe que abandona filha não amamenta até os nove meses, como eu fiz. O pai dela era agressivo. Depois da separação, a maneira de ele me punir foi tirando o convívio com minha filha. Não perdi a guarda dela. Foi uma questão de força, de coação. Medo. Minha filha viveu exatamente aquilo que eu vivi, mas com uma diferença. Eu recuei, ela foi pra cima. Eliza não tinha medo, que é uma defesa. Ela deu o sangue pelo filho dela.

A senhora é uma pessoa fria?
A minha dor não é pública [chora]. As pessoas que me conhecem sabem que eu amava minha filha e que não sou insensível. O sofrimento meu é aqui ó [aponta para o coração]. É na alma. Emagreci 13 kg nesse período.

O que diria ao Bruno se ficasse cara a cara com ele?
Gostaria de saber o que eles fizeram com a minha filha. Só Deus sabe se eu teria forças para ficar frente a frente com ele e com o Macarrão. Queria olhar nos olhos deles e perguntar por que tanta covardia com uma mulher indefesa e uma criança. E ainda tem o machismo. Os advogados deles disseram que ela era Maria Chuteira, atriz pornô. Minha filha não era santa, mas era um ser humano. Nada justifica o que fizeram.

Como é o seu luto?
Enquanto não me apresentarem o corpo dizendo essa aqui é sua filha, não vou acreditar. Tenho esperança de que Eliza possa ter fugido ou tenha recebido uma pancada na cabeça e esteja com amnésia. Quando me ponho no lugar dela, é um sofrimento. Eles usaram a criança para fazer tortura psicológica. Bruninho tem essa memória. Queria ter um aparelho para pôr na cabecinha dele, ver tudo o que ele viu e apagar.


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