|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIDA SECA
Mudança de hábito para evitar desperdício de água exige boa vontade; especialistas propõem incentivos e leis
"Economizar é difícil como prevenir Aids"
ARMANDO PEREIRA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Especialistas em recursos hídricos com diferentes formações são
unânimes: antes de buscar mais
água em outros lugares, São Paulo
deveria gastar melhor a que já
tem. Só que, para isso, as campanhas de educação pela mídia não
são suficientes.
Mudar o comportamento das
pessoas e fazê-las consumir menos água exige o mesmo esforço
que convencê-las a alterar hábitos
sexuais para prevenir a Aids.
A analogia é feita pela psicóloga
social Nancy Cardia, 55, estudiosa
de conflitos de cooperação e de
campanhas sobre água.
"Na literatura sobre o assunto,
tem-se usado essa comparação. A
redução do desperdício é tão difícil quanto a prevenção de Aids.
Ambas dependem de mudança
de comportamento e de manutenção dessa mudança ao longo
do tempo. É complicado."
Para Ricardo Toledo Silva, 52,
professor titular da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP
(Universidade de São Paulo) e autor de documentos do Programa
Nacional de Combate ao Desperdício de Água, "havia uma idéia
generalizada de que bandeiras
ambientais teriam o poder de motivar atitudes altruísticas da população. No entanto, a realidade não
é bem essa. Passado o efeito emocional de algumas campanhas em
situações agudas, o comportamento volta a ser predatório".
A solução seria misturar campanhas com estímulos concretos
que induzam a uma redução sem
depender só dos hábitos dos consumidores. Isso se consegue com
a instalação de equipamentos de
uso diário, como vasos sanitários
e chuveiros, mais econômicos.
Jaildo Santos Pereira, 35, doutor
em gestão de recursos hídricos
pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, afirma que é preciso mudar o foco.
"Vem de muito tempo a lógica
de gestão da oferta. Se a disponibilidade não é mais suficiente,
construímos outro reservatório e
vamos buscar água cada vez mais
longe. Isso não é sustentável. É
preciso incorporar a gestão da demanda, que visa usar de forma
mais eficiente a água."
Um indutor poderoso seria
uma legislação que obrigasse prédios novos a ter equipamentos
econômicos. "Deveria ser exigido
de todos os grandes empreendimentos um uso ótimo da água",
diz Cardia.
"Em outros países, como EUA,
Canadá e Inglaterra, há uma legislação pesada no sentido de usar
equipamentos econômicos",
completa Silva. Para troca de
equipamentos em prédios velhos,
poderia haver incentivos. Cardia
propõe redução de ICMS.
Segundo o pesquisador do IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas), Douglas Barreto, 44, especialista em instalações prediais e
economia de água, trocar a bacia
sanitária e pôr um redutor de vazão no chuveiro reduz o consumo
em 15% a 20%.
Também é importante detectar
vazamentos dentro da própria casa. Conforme a experiência de
Barreto, isso proporciona até 20%
de economia.
Usar mais de uma vez a mesma
água é outra possibilidade de economizar. Pedro Mancuso, 62,
professor da Faculdade de Saúde
Pública da USP e especialista em
reúso de água, defende a alternativa. Uma indústria pode usar água
não-potável para resfriar equipamentos, por exemplo.
Texto Anterior: Vida seca: SP só atende demanda por água até 2010 Próximo Texto: Contradição marca campanha de empresa Índice
|