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Pêlo de poodle agora é usado para fazer roupa
Idéia surgiu entre as alunas de um curso técnico têxtil, que analisaram as propriedades dos pêlos de diversos animais
Embora haja aceitação da indústria para a produção para humanos, a lã de poodle só é usada em roupinha de animais, custando até R$ 100
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dos pêlos crespos de Gabriel,
um cachorro da raça poodle,
nada se perde, tudo se transforma. Na tosa periódica, os chumaços que antes iam para o lixo, agora são coletados em novelos que, levados ao tear, viram lã de confecção.
A idéia surgiu entre alunas do
curso técnico têxtil de uma escola profissionalizante, que
analisaram as propriedades físico-químicas dos pêlos de diversos animais para saber qual
deles se aproximava da lanugem das ovelhas. E a conclusão
foi mesmo o danado do poodle.
A invenção ainda encontra
resistência das pessoas, que
acham o pêlo de cachorro menos nobre. Embora haja aceitação da indústria têxtil para a
produção em escala para humanos, a lã de poodle, por enquanto, só é usada para roupinha de animais, que custam entre R$ 20 e R$ 100.
Entusiasta do projeto, o
orientador, Renato Lobo, já usa
um cachecol de pêlo de cachorro. "Tornamos o lixo em luxo
para os animais, e passamos a
fazer roupinhas para qualquer
tipo de bicho", diz.
"Em mim não deu nenhum
tipo de alergia. As pessoas têm
preconceito e dizem: "ah, é pêlo
de cachorro'", completa Lobo.
E aquele mau cheiro forte de
bicho, não fica no tecido?
"Os pet shops tosam antes de
lavar o animal e, no começo, o
cheiro é horrível, mas depois do
tratamento químico, saem o
mau cheiro e as bactérias", diz
Ellen Taís Santana, uma das
alunas que participaram do
processo de pesquisa.
Pulgas
Da lã canina, já saíram malhas, tricôs, crochês e tecidos
planos. Hoje, a turma tem em
estoque três toneladas de fios
prontos para a produção comercial em escala.
Antes do tear, uma triagem é
feita no pêlo para retirar impurezas, como fezes e pulgas.
E vale misturar todas as cores de pêlos de poodle, do preto
ao branco, que, depois do tingimento, são descoloridos. Curiosamente, diz Santana, os pêlos do poodle gigante são os
melhores, porque são mais
compridos e "novelam" (enroscam) menos.
Segundo a escola, o Brasil
tem uma população de cerca de
5 milhões de poodles, ou pouco
mais de 17% de todos os cachorros do país. Para um rolo de
1,5 kg de lã são necessários três
poodles de porte médio. E um
único cão dá, em média, entre
500 g e 700 g de pêlo por ano
nas tosas. "Seriam 2,5 milhões
de quilos de pêlos de poodle",
comemoram os alunos.
"Imagina se alguma "maison"
vai usar pêlo de cadela para fazer casacos", desacredita a publicitária Ana Lúcia Fernandes,
que na tarde de sexta levava o
poodle Gabriel para passear na
praça Buenos Aires, conhecido
reduto para encontro de cães
em Higienópolis (região central). "Ai, que nojo."
E se a lã de pêlo de cachorro
causa estranheza em alguns, o
que pensar de um lanche de pão
de jaca, recheado de mortadela
de tilápia e com sorvete de couve de sobremesa, outras invenções inusitadas dos alunos da
escola profissionalizante, exibidas numa feira científica na
semana passada?
E enquanto os pêlos de poodle não caem no gosto popular,
os idealizadores cogitam uma
fashion week só com tecidos de
lã de cachorro.
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