São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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Captação de órgãos atinge melhor marca em 10 anos

No 1º semestre, de cada 5 operações, 4 renderam mais de um órgão para transplante; índice "ótimo" é de 3,5 órgãos retirados por doador

MATHEUS PICHONELLI
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Apesar de o número de doações ainda ser considerado baixo no país -principalmente devido à falta de notificação dos casos de morte encefálica-, a captação de órgãos tem melhorado significativamente.
No primeiro semestre, de cada cinco operações de retirada, quatro renderam mais de um órgão apto a transplante (81,9%). É a melhor marca dos últimos dez anos.
Em 1998, no mesmo período, a retirada múltipla de órgãos ocorreu em 60,7% dos casos, segundo dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos).
De janeiro a junho, foi aproveitado mais de um órgão de 494 dos 603 doadores do país.
Para Valter Duro Garcia, presidente da ABTO, é um indicativo da maior organização das equipes de transplantes do país, que estão equipadas para realizar a retirada de órgãos como coração e fígado. "Antigamente, a maioria dos Estados só fazia transplante de rim, que é mais estudado", diz.
Estados da região Nordeste -que passaram a fazer transplantes de coração e de órgãos como fígado- ajudaram a melhorar a captação, segundo ele.

Padrão espanhol
Para Garcia, o índice de remoção múltipla de órgãos pode ser considerado "ótimo" quando há 3,5 órgãos retirados por doador, como na Espanha.
O Brasil está próximo de atingir três órgãos por doador.
Cinco Estados conseguiram fazer retirada múltipla de órgãos em todos os doadores (AL, BA, MA, PB e RS) até junho deste ano. Na Bahia, foram 25 operações com sucesso.
O caso do Rio Grande do Sul é ainda mais emblemático: todos os 72 procedimentos de captação acabaram com mais de um órgão apto a transplante.
O Estado -que teve a primeira central de transplante de órgãos do Brasil- conta com 50 equipes de captação e 46 de transplantes.
"Temos um bom índice de doação por milhão de habitantes, mas a meta é que nosso índice seja próximo ao da Espanha. Temos uma estrutura, com 1.500 leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva], proporcionalmente a maior do país, e tradição em doações", afirma o secretário estadual da Saúde, Osmar Terra.
Hoje, Rio Grande do Sul e São Paulo são os únicos Estados do país onde equipes fazem regularmente transplantes de pulmão, um dos procedimentos mais complexos para doação.

Pior Estado
Já Goiás teve a pior marca: só uma das sete doações rendeu mais de um órgão captado.
Para Claudemiro Quireze Júnior, coordenador da Central de Transplantes do Estado, um dos problemas é que não há, por exemplo, equipe para captação e transplante de fígado.
"Nesses casos, é preciso chamar equipes de outros Estados. Com a demora, muitas famílias ameaçam não autorizar a retirada de qualquer órgão. E, então, a gente aborta essa tentativa [da retirada múltipla]."
Segundo ele, há necessidade de uma política de transplantes que favoreça a logística no Estado do Centro-Oeste.
De janeiro a junho, foram feitos, em todo o Brasil, 533 transplantes de fígado, 93 de coração, 74 de pâncreas, 25 de pulmão e 1.780 de rins.


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