São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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ARMANDO DA COSTA PALMEIRA (1927-2008)

Um tesouro no porão do seu Armando

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Armando Palmeira era o aluno mais velho no curso de história da música. Jorge era o colega de classe. "Eu via o Armando, velhinho, indo a pé do metrô à aula", lembra. Jorge decidiu acompanhá-lo, e os dois ficaram amigos.
Amigos de um ir almoçar na casa do outro. Armando apresentou Jorge à família e o convidou a conhecer o porão. Jorge estranhou, mas topou o convite inusitado. Foi aí que descobriu a enorme biblioteca que o seu Armando mantinha em casa.
Natural de Mondim de Basto, norte de Portugal, seu Armando era professor de literatura. Tinha tantos livros, mas tantos livros, que certa vez vendeu cerca de 5.000 volumes para uma universidade de Mato Grosso.
Foi na década de 50 que o português descobriu o Brasil. Veio conhecer o pai, que o havia deixado desde que nascera. Fugia também do regime salazarista.
Começou como vendedor da Mesbla, onde conheceu a mulher. Fez teatro na EAD (Escola de Arte Dramática), uma das mais importantes do país. Nos anos 70, formou-se em letras -dissertou sobre "Os Lusíadas", de Camões, seu favorito. No meio de tudo, ainda trabalhou com eletrônica (mexia com válvulas de rádio). Com um ferro de passar roupa, secou os livros quando o porão inundou.
Armando morreu anteontem, em SP, aos 81, de infecção generalizada. Tinha Parkinson. Deixa dois filhos e três netos. Os livros que ficavam no porão hoje estão na biblioteca da escola em que dava aula. Ele os doou.

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